tag:blogger.com,1999:blog-49334220521413302282024-03-05T04:34:05.791-03:00Crônicas de um BrasileiroBlog que nasceu de um trabalho social no sertão do Brasil. É dedicado às crônicas e histórias do povo brasileiro, sejam elas do interior de nosso país ou do centro das metrópoles.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.comBlogger326125tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-24885205479014708902024-01-30T13:35:00.001-03:002024-01-30T13:41:58.045-03:00Degraus<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinvdmgE3qSdUQc14RrW9-EvLDIr_s5O-XUue5JHuao0ZsZDXPTMLCG0LLmjCa11Mp8xJmMgysqfF9MAkLe5W5meBETRyb43qa7-i-MTo9I4CiH71EVQB9UxC7sXAFb8dnQyAxj5FmiOm4/s1600/1706632912240575-0.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinvdmgE3qSdUQc14RrW9-EvLDIr_s5O-XUue5JHuao0ZsZDXPTMLCG0LLmjCa11Mp8xJmMgysqfF9MAkLe5W5meBETRyb43qa7-i-MTo9I4CiH71EVQB9UxC7sXAFb8dnQyAxj5FmiOm4/s1600/1706632912240575-0.png" width="400">
</a>
</div><br></div>Paulo<div>Era mais um dia de trabalho. O mercado financeiro não era uma tarefa fácil. Além da quantidade de estudo para estar ali a responsabilidade de investir dinheiro de seus clientes - pessoas extremamente ricas - não era algo leve.<div>Mas estava longe de ser algo ruim. Tinha uma vida bem confortável, tranquilidade para criar seus dois filhos e, com a esposa que também possuía um bom trabalho, tudo era mais que o suficiente. </div></div><div>Seu diretor o tinha como provável substituto e se sentia feliz com o fato de ser reconhecido. Mas ao observar a vida dele logo formou sua ideia: não queria subir o próximo degrau. Seu "superior" trabalhava muito mais que 10 horas por dia, saía de casa antes das filhas acordarem e voltava, quase sempre, após elas estarem dormindo, ainda assim, tendo alguns e-mails importantes para analisar. O carro importado na garagem parecia externamente justificar uma grande lacuna interna que a bebida e as festas nao conseguiam preencher.</div><div>Naquela noite, agradeceu aos céus por ter tomado a decisão de estar satisfeito ali, no lugar onde estava.</div><div>Pedro</div><div>Eram 8h e ele desceu da terceira condução que o levava ao trabalho. Para quem mora longe da empresa 3 a 4 horas por dia de deslocamento era algo natural, apesar de cansativo. Era uma boa empresa, trabalhava bastante, mas as 8 horas por dia eram respeitadas e tinha um salário que conseguia criar os 3 filhos. Estudavam em colégio estadual, assim como ele havia estudado, tiravam boas notas e eram seu orgulho. </div><div>Houve vezes em que pensou sair da empresa e procurar algo onde ganhasse mais, apesar de que lá, todos gostavam dele. Mas observava também vizinhos que estavam desempregado há um tempo e sabia a necessidade que passavam. Enfim, decidiu estar ali, onde era bem quisto e aberto a possibilidades que se aparecessem não hesitaria, mas também soube agradecer o degrau que já estava estabelecido.</div><div>Jurandir</div><div>Fazia mais de 8 meses que estava sem emprego. Agradecia a Deus que sua esposa, Maria, trabalhava e recebia um salário, que dava para sustentar uma boa alimentação aos 4 filhos.</div><div>Seu vizinho não tinha a mesma sorte. Sem emprego a mais de 1 ano e a esposa também sem trabalho, passavam dificuldades até para alimentar os dois filhos pequenos. </div><div>Naquela noite, os vizinhos vieram com os filhos para jantar em sua casa. Mesmo sem trabalho, ele sentiu um imenso orgulho de poder ajudar, o pouco que sua família tinha era mais que o suficiente para dividir com amigos que enfrentavam tamanha dificuldade.</div><div>Maria encheu seus olhos de lágrimas, quando ao final da noite, Jurandir entregou a cesta básica, que ela ganhava todo mês, à família que recebeu emocionada a doação. Seriam muitos dias de refeições com aquela ajuda.</div><div>Não importa o degrau em que se está na vida, nunca estaremos no primeiro e nem no último. Uma das maiores sabedoria a alcançar é estar pleno onde está, fazendo seu melhor para ser um ponto de luz no mundo. Almejando melhorar, mas sempre satisfeito por estar vivo e, mais ainda, deixando sua energia somar ao mundo.</div><div>Naquela noite, 3 pessoas que não se conheciam, deitaram, sorriram e dormiram em paz. </div>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-74462028213384191012022-06-07T22:10:00.007-03:002022-06-08T18:34:35.946-03:00O pescadorEle desenrolava a rede em cima de sua canoa de pescador. Era mais um domingo e a hora do almoço se aproximava. Havia saído cedo para buscar o alimento.<div><br><div>Para sua família não era algo normal ir ao mercado para comprar a "mistura". E nem poderia ser, com a fartura de peixes que tinha na região do mangue baiano, onde morava.</div><div><br></div><div>Abriu o cesto de palha trançada e viu o belo robalo - em torno de dois quilos! - que havia pescado. Morava com sua esposa, três filhos e dois netos. Já tinha uma boa quantidade de carne para o dia.</div><div>Quase distraído viu surgindo ao lado um homem em uma prancha, daquelas bem estranhas que se rema de pé.</div><div><br></div><div>- Tudo bem? Vi o senhor jogando a rede e acho que daria uma foto tão bonita! Me permite tirar?</div><div><br></div><div>- Ah, eu jogo a rede e você tenta... - falou meio sem jeito. Era a primeira vez que alguém ali parava para conversar com ele. Passam de jet sky ou lancha e seguem com pressa. A única coisa que recebia deles era o barulho que espantava seus peixes.</div><div><br></div><div>E agora conversava com um, que lhe perguntava sobre sua vida. </div><div><br></div><div>Nas quatro vezes em que lançou sua rede sobre as águas, o moço tirou algumas fotos. </div><div><br></div><div>Se despediram em seguida, com um olhar de amizade que não estava acostumado a receber tão rápido ao conhecer alguém. Dobrou sua rede novamente e seguiu para o almoço de família que aguardava o sustento do dia.</div><div><br></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div><br></div><div><br><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitOMVaG6xYuS0n8xLuNJgFZNr9gLsDz9RzQeBTvYlNUkkiIm4_AgfjyDN2piT0yMLFcx07ogIHeWUgN9PM7PZUSMMKKQE0j4mMaTSUrzdzzlRixf5GRz-MWjSiGtcojQIWgrXK6bWfYf8/s1600/1654641186194328-0.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitOMVaG6xYuS0n8xLuNJgFZNr9gLsDz9RzQeBTvYlNUkkiIm4_AgfjyDN2piT0yMLFcx07ogIHeWUgN9PM7PZUSMMKKQE0j4mMaTSUrzdzzlRixf5GRz-MWjSiGtcojQIWgrXK6bWfYf8/w467-h262/1654641186194328-0.png" width="467"></a></div></div><div style="text-align: center;"><br></div><div style="text-align: center;"><br></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="265" src="https://www.youtube.com/embed/jwvmUWb7AD4" width="471" youtube-src-id="jwvmUWb7AD4"></iframe></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br></div><br><div><br></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ocwcYjEXg4GqN931KxJ-2PybNs1ewZINZ98fyhFlVsjfQBniysrhbU1roH7Yt4u9yHVSL4vYPfQcT6CBZUZiUppAe-NJ7l6dLJv58ojifguuO4nvfPVs5ONN0eTQZuV2M6RYcYljTaHtNPXMHB433RWHYSd92fgVuswdY96bQ9NOrWUSdZ42KZMy/s1057/Screenshot_20220607-224934_WhatsApp.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="719" data-original-width="1057" height="311" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1ocwcYjEXg4GqN931KxJ-2PybNs1ewZINZ98fyhFlVsjfQBniysrhbU1roH7Yt4u9yHVSL4vYPfQcT6CBZUZiUppAe-NJ7l6dLJv58ojifguuO4nvfPVs5ONN0eTQZuV2M6RYcYljTaHtNPXMHB433RWHYSd92fgVuswdY96bQ9NOrWUSdZ42KZMy/w458-h311/Screenshot_20220607-224934_WhatsApp.jpg" width="458"></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="719" data-original-width="1164" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJEqZHXLYT9HGLhuubSI-Rd41aMqQ1IK-2u4vheqr0UTIsrmiqh5gVnQnqgyVInMPq5YyViGP8DTANlX9-bppZYY9YlheTvneIxbyv4K_9gUNNOuKybWGPEa8XSDwSyJ61NdZ1E4lmFadCFwTA_KpuSoksCg4sefTuPFeEy868F6yUUaSh-x-u8vSx/w467-h284/Screenshot_20220607-225011_WhatsApp.jpg" width="467"></div><br><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJEqZHXLYT9HGLhuubSI-Rd41aMqQ1IK-2u4vheqr0UTIsrmiqh5gVnQnqgyVInMPq5YyViGP8DTANlX9-bppZYY9YlheTvneIxbyv4K_9gUNNOuKybWGPEa8XSDwSyJ61NdZ1E4lmFadCFwTA_KpuSoksCg4sefTuPFeEy868F6yUUaSh-x-u8vSx/s1164/Screenshot_20220607-225011_WhatsApp.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJEqZHXLYT9HGLhuubSI-Rd41aMqQ1IK-2u4vheqr0UTIsrmiqh5gVnQnqgyVInMPq5YyViGP8DTANlX9-bppZYY9YlheTvneIxbyv4K_9gUNNOuKybWGPEa8XSDwSyJ61NdZ1E4lmFadCFwTA_KpuSoksCg4sefTuPFeEy868F6yUUaSh-x-u8vSx/s1164/Screenshot_20220607-225011_WhatsApp.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div></div><br><br>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-49816203058771046482021-04-11T13:10:00.002-03:002021-04-11T13:10:56.467-03:00O caminho do meio e questões políticas e raciais<p>" Devo seguir meu coração ou a razão?". Uma das questões feitas no silêncio de nosso consciente. Pergunta que diz muito sobre situações importantes que estamos passando nos dias atuais.</p><p>Já disse um filósofo: "O correto é o caminho do meio. Siga-o e estará no caminho certo".</p><p>Guiar-se apenas pela razão, de maneira fria, nos levaria para um mundo frio e sem sentimentos que estaria longe de nossa essência humana, porém, em um Brasil passional e desgovernado como vivemos hoje seria uma boa força para nos colocar num rumo mais adequado em nossa caminhada.</p><p>A forma passional, que leva nossas forças a serem usadas como armas numa batalha pelo aspecto que defendemos, nos joga numa guerra muito mais a favor de nosso próprio ego do que em busca de um mundo melhor que acreditamos buscar.</p><p>O futebol, para quem já torceu ou simplesmente observou pessoas que, como eu, adoram este esporte, é um exemplo clássico de ser guiado cegamente pelo emocional. Um corintiano dificilmente consegue numa conversa com um palmeirense analisar que o outro time apresenta um elenco que merece o título porque é melhor e joga de forma mais bonita. Discussões calorosas sempre levam as pessoas a buscarem argumentos que promovam seu lado em detrimento ao outro.</p><p>Fácil entender quando é o futebol, mas difícil perceber que este mesmo aspecto permeia e se espalha em áreas muito mais significativas de nossas vidas como a política e o aspecto racial.</p><p>Um dos grandes problemas diretos que viemos enfrentando nos últimos anos em nosso país é a polarização entre "direita e esquerda". A opção de uma próxima eleição que traga os dois aspectos polarizados deste exemplo em um possível segundo turno presidencial assusta e desanima quem gostaria de desapegar deste estado de nossa velha nova política.</p><p>Cerca de uma semana atrás um episódio de um reality show trouxe uma cena onde um integrante falou sobre uma peruca grande parecer o cabelo de outro, João, que usa o estilo "black power". Fato suficiente para ambos os lados da sociedade pegarem suas armas para a batalha e nos vermos perdidos em tiroteios onde as balas de "mimimi" ou de "racistas" cruzam os ares.</p><p>Este foi um episódio claro onde os dois lados estão certos e estão errados. Fato onde a discussão coerente - única que realmente poderia nos ajudar a evoluir como sociedade e como seres humanos - fica sufocada sob os gritos que se seguem.</p><p>Fosse feito o comentário a um integrante loiro, de cabelo crespo e que usasse o mesmo penteado, este poderia se ofender, criticar quem o disse, a vida seguiria, quase como após um deslize descuidado de se chamar alguém de "gordinho".</p><p>Totalmente compreensível João ter se magoado e atingido em um local dentro de si tão dolorido como apenas pessoas que já passaram por caminhos semelhantes entendem.</p><p>O bom senso deve ser uma procura para nossa melhora e muitas vezes uma conversa coerente resolverá de forma muito mais rápida o problema do que a guerra, que faz a outra pessoa se armar e tentar se salvar para não ser colocado com uma alcunha de racista.</p><p>Assim como brincadeiras, que de forma sutil habitam nosso inconsciente, sobre cor, padrão estético corporal, opção sexual, devem diminuir de nosso convívio cada vez mais. Hoje muito mais elas acontecem por um descuido do que por uma raiva ou preconceito.</p><p>Falar sobre é importante, mas o caminho mais rápido para encontrar a paz é a coerência. É o caminho do meio, como disse o antigo filósofo.</p><p><br /></p>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-57733388795089830522020-11-21T08:30:00.001-03:002020-11-21T08:30:39.480-03:00RaivaImagine a seguinte cena: você visita uma fazenda e num certo momento chega ao chiqueiro, onde vivem tristemente porcos enormes e maltratados, deitados sobre uma lama suja e fétida. Enquanto se compadece com a triste situação daqueles animais uma pessoa chega ao seu lado, lhe cumprimenta friamente, pula a cerca daquele local imundo, anda entre os porcos e se senta ali no meio, enquanto suas mãos enxarcadas de sujeira passam pelo seu rosto e corpo, como se estivesse em meio a um banho acolhedor.<div>"Não é possível! Ele deve ter algum problema!", você pensa ante aquela visão surreal. Em seguida pula a cerca com a mesma facilidade, senta-se ao seu lado e se chafurda, imitando os mesmos gestos que o vê realizando.</div><div>Seria algo extremamente insano, não?</div><div>Quando alguém está com raiva, está num dos estados mais indesejados do ser humano. Você não consegue pensar com clareza, raramente suas atitudes serão coerentes com seus valores e dependendo do tempo que convive com este sentimento causa danos reais ao seu organismo.</div><div>Digno de pena alguém que se deixe envolver em tal situação, por problemas fora de seu controle, e num sofrimento interno, como um vulcão em erupção, solte suas labaredas a sua volta.</div><div>De repente é você quem está no caminho. Por um acaso do destino - até mesmo como uma lição a ser aprendida pela vida - teve que lidar com aquela pessoa, naquele instante e recebeu sua descarga negativa.</div><div>Devemos entender que quando um indivíduo despeja sobre nós suas angústias, desesperos e sofrimentos internos, isso é um problema dele. Nossa resposta sim, passará a ser nosso problema.</div><div>Desse modo podemos claramente decidir ter compaixão por quem aceita a insanidade de mergulhar na lama indesejável - quem sabe até mesmo dizer uma palavra que a ajude a sair de lá - ou escolhermos mergulhar ao seu lado.</div><div>O importante, independente de nossa escolha, é que a façamos de forma consciente.</div>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-84038409588290893962020-11-18T13:30:00.001-03:002020-11-21T08:30:57.655-03:00A voltaE de repente, lá em cima passou voando um casal de araras. Uma sensação que poucas vezes havia sentido em sua vida extravasou em seu corpo como uma inundação, que nem tentou conter. Em meio à emoção ainda tentou relembrar quais outras vezes teria sentido aquilo. Seria quando criança, onde visitou aquele parquinho cheio de brinquedos? Seria quando beijou a pessoa amada? Ou ainda quando foi promovido para a área do trabalho que tanto desejava?<div>Voltou para o momento presente, como que puxado, pelo som da cachoeira que jorrava à sua frente.</div><div>"Que lugar mágico é este!", pensou.</div><div>Não era um lugar mágico em especial. Tampouco era diferente de tantos outros locais onde executivos como ele tinham um contato total e direto com a natureza. </div><div>Lembrou de um amigo que visitou a Chapada Diamantina e lhe disse: "É o mais perto que você pode chegar de Deus!".</div><div>Na época achou um exagero. "Papo de bicho grilo". Mas naquele momento entendeu perfeitamente. Tudo fazia sentido. Ali ele sentia Deus. </div><div>Lembrou, quando criança, mecanicamente balbuciando palavras nas rezas aprendidas com sua avó - que fazia mais por medo de estar desprotegido do que por um entendimento de estar ligado ao universo. Só ali conseguiu realizar.</div><div>- Estar aqui é a melhor oração que já fiz em minha vida!</div><div>Se sentiu parte do mundo. Entendeu a importância de se cuidar do meio ambiente. Que era um animal deste planeta assim como aqueles que estavam dividindo o Jalapão com ele. "Aqui sou um mero visitante", pensou. E pediu em pensamento permissão por estar ali.</div><div>Automaticamente pensou na pegada do ser humano no planeta. Nos afastamos da natureza. Criamos cimento sobre a terra, prédios no lugares de árvores e quase cobrimos o céu! Talvez por isso quando voltamos a um contato intenso com a natureza somos chamados a relembrar de onde viemos e nos sentimos muito, mas muito bem.</div><div>Enquanto voltava para casa, para seu apartamento, um caixote em cima de vários outros que subia 12 andares em uma cidade de pedra, sabia que estava diferente do que quando foi. Estava mais próximo do que sempre deveria ter sido. </div>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-32773621733343317912020-10-05T10:18:00.005-03:002020-10-05T17:05:28.905-03:00Luan<p> <span style="font-size: 16px;">O sol brilhante de Cabaceiras, na Paraíba, ardia lá fora. Luan arrumava os últimos detalhes para o projeto social que faria em sua comunidade.</span></p><div dir="auto" style="border-top: 0px;"><span style="font-size: 16px;">25 anos e já organizara muitos deles, desde ação com profissionais diversos em regiões carentes, campeonatos de futebol a cursos de fotografia.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Enquanto separava os materiais sua mente foi longe, entre projetos realizados e o primeiro encontro com o mundo social,</span><span style="font-size: 16px;"> pousando no garoto que era e decidiu deixar para trás.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">13 anos e era considerado um dos alunos mais bagunceiros da escola. Uma época em que ser reconhecido, mesmo que por motivos duvidosos, já trazia orgulho. Na fase inicial de formação do caráter há grande perigo nessa equação.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Uma vez um médico lhe disse que os primeiros meses de uma gestação são muito importantes, pois no começo o feto é apenas um aglomerado de poucas células e um erro nesta fase provoca distorções enormes no futuro indivíduo.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">"Foi na hora exata que eles chegaram!", pensou.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Seu mundo interno travava uma árdua batalha. De um lado uma grande timidez, de outro uma energia latente que procurava gritar aos quatro cantos a revolta que não mais se contentava em permanecer ali dentro. Para a tristeza dos educadores da escola este último lado vinha vencendo as recentes batalhas.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Quando soube do projeto que sua escola receberia ficou feliz por não ter aula, depois pensou nas bagunças que protagonizaria. </span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Porém, no primeiro momento que os viu, algo o tocou de uma maneira diferente. Aquelas pessoas agiam de uma forma que o desconcertou. Nos primeiros instantes seu lado tímido ganhou uma maturidade que nunca havia sentido, como se assumisse uma autoridade ímpar e apaziguasse toda turbulência que sentia dentro de si desde os tempos mais longínquos de sua memória.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">"Se puderem dar uma olhada no Luan, agradeceríamos muito. Ele é um dos alunos mais bagunceiros da escola, mas um bom menino. Não ter um dente da frente não é fácil nessa idade...", disse a diretora a um dos profissionais da equipe.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Vanderson, além de dentista, era também protético e procurava restaurar justamente casos como aquele.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Enquanto se divertia em cada oficina que conseguia participar, aguardava com uma ansiedade ímpar sua prótese ficar pronta.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">"Vamos ver como ficou?", disse o novo amigo, colocando novamente harmonia em seu sorriso.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Lembrava como se tivesse sido há uma semana. Lágrimas escorregaram pelos seus olhos, e por um instante parou de guardar os últimos itens do projeto que faria naquela manhã.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Sorriu. Um sorriso completo. Mais importante do que em número: completo em alma.</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Pensou se o gatilho para ser o homem de bem que é hoje seria ter recebido novamente o dente que lhe faltava; o curso de fotografia e rádio que havia feito; o exemplo daquelas pessoas que deixavam suas casas a milhares de quilômetros para se doarem em outro estado...</span><br /><br /><span style="font-size: 16px;">Parou de procurar a resposta. Sabia que não a encontraria e naquele momento não podia perder tempo. Tinha algo muito importante a fazer.</span></div><div dir="auto" style="border-top: 0px;"><br /></div><div dir="auto" style="border-top: 0px;"><span style="font-size: 16px;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-Yvtj1iG7pawES2WzTJ6-ujPHPBZQg60cCEB1OGLgFmvfM1IQQF1mubZjVJdc3QlXMdjg9d3F3mIVFcbliub9l6XRv6S6aZV4lKl_BECcx222zi1CuEH2ZLzH4sfh2ooeRXLvwEjXVBE/s940/luan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="940" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-Yvtj1iG7pawES2WzTJ6-ujPHPBZQg60cCEB1OGLgFmvfM1IQQF1mubZjVJdc3QlXMdjg9d3F3mIVFcbliub9l6XRv6S6aZV4lKl_BECcx222zi1CuEH2ZLzH4sfh2ooeRXLvwEjXVBE/w567-h245/luan.jpg" width="567" /></a></div><br /><br /></span></div>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-24641825152699609842020-06-10T12:41:00.000-03:002020-06-10T15:21:51.746-03:00Máscaras e sobrevivênciaDe repente ele passou a ver as pessoas de máscara. A primeira pensou se tratar de alguém doente. Mas aí veio outra e outra...<br />
"Que diacho tá acontecendo?".<br />
No princípio até se questionou se o estavam sacaneando, uma forma de reclamar de seu cheiro sem terem que olhar em seus olhos. Afinal, olhar nos olhos é uma coisa que um morador de rua se desabitua. Mas as viu aparecendo também dentro de ônibus que passavam apressados pela rua movimentava onde vivia.<br />
"Pois é, estamos passando uma pandemia. Um vírus que está se espalhando pelo mundo todo!", lhe disse uma senhora simpática que vez ou outra lhe deixava algum petisco. Dormir na frente de um supermercado é estratégico.<br />
Se você passa a morar na rua tem que desenvolver algumas estratégias de sobrevivência. Alimentação é uma delas. Banheiro outra. Ali naquela região deu sorte, fez amizade com trabalhadores, alguns taxistas no ponto da frente e o dono do bar da esquina onde teve a bênção de usar o banheiro. Dá para imaginar o valor de se usar uma privada quando já sofreu para encontrar um lugar o mínimo escondido para aliviar suas necessidades, agachado em um lugar público e sem ter com o que se limpar?<br />
Alguns como ele - não costumava usar a palavra "amigos" - não tinham a mesma sorte.<br />
"Na rua você não tem amigo", dizia. "Cada um tenta sobreviver como pode e se você tá no caminho da sobrevivência do outro é melhor correr...".<br />
Tentou durante um tempo dormir em albergues. Desistiu. O clima que encontrava por lá era horrível! Primeira noite, roubaram seu cobertor; depois, dividir espaço com outros que vivem suas dores e loucuras não lhe pareceu uma boa idéia. Preferiu a rua, mesmo no frio. Pelo menos fazia o que queria e não dava satisfação a ninguém.<br />
Essa era sua vida, seu cotidiano, que se alterava naquele momento com o desfile de máscaras ao seu redor.<br />
"Você tem que tomar cuidado! Esse vírus é muito perigoso!" - disse outra senhora, olhos bondosos, mas que tinha aquele traço de dó que ele tanto detestava. Porém aprendeu a separar isso. Tudo ficava mais leve se focasse no aspecto bondoso da pessoa e não na dó vergonhosa que recebia.<br />
Olhou para a máscara depois que ela foi embora. Colocou no rosto, mais para sentir como era usar uma. Mais para, pelo menos num instante, se sentir parte da sociedade. Por um instante se sentiu um cidadão, junto aos demais. Enfim compartilhava algo com os outros à sua volta, mesmo que fosse o medo de uma doença.<br />
O medo. Tirou depressa a máscara, como acordando de um sonho que parecia bom mas o poderia levar ao precipício. Havia levado um bom tempo para criar a casca em sua alma que o protegia naquele duro cotidiano, não podia correr o risco de quebrá-la.<br />
Já tinha comido coisas do lixo não seria qualquer vírus que iria baqueá-lo.<br />
Morrer? Tinha coisas mais importantes para pensar naquele momento, como onde conseguiria comer naquele dia.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-23139131118240595612019-10-24T16:44:00.003-03:002019-10-24T16:44:47.587-03:00Empatia: uma viagem de paulistas ao MaranhãoEra uma aluna do ensino médio de uma escola particular de São Paulo. Com seus 16 anos esperava empolgada durante meses para uma viagem que mudaria sua vida.<br />
- Vamos para o Maranhão para um intercâmbio, realizar um projeto social! - comentava aos familiares com todo orgulho que seu jovem e bondoso coração deixava transbordar.<br />
A imagem que formava em sua mente sobre a carência local e a chance de ajudar os jovens de lá a enchia de compaixão e idealismo. E nessa atmosfera inebriante embarcou para a outra ponta de seu país.<br />
O primeiro dia surgiu, belo e brilhante como costumam nascer os dias no nordeste brasileiro. A chegada à escola, onde trabalharia ao lado de seus amigos ministrando oficinas diversas (dança, pinturas de rosto, esporte, ciências, bijuterias, entre outras) aos alunos locais, apresentou a primeira surpresa: aqueles garotos eram diferentes do que poderia imaginar. Não apresentavam a carência entristecedora, aparência frágil ou tristeza alguma. Muito pelo contrário, o sorriso fácil, o alto astral, a alegria que a alma exalava os fazia vibrar na mesma sintonia que sua turma. <br />
- De repente percebi que não cabia olhar aquelas crianças - que tinham tão pouco em relação ao que temos - com dó, mas sim com empatia, vendo como temos coisas em comum! Somos todos seres humanos, brasileiros, com muito mais em comum do que diferenças. - Confidenciou a um dos amigos que coordenava o projeto.<br />
Realmente, aquela experiência, tão longe de casa, revirava sua visão interna de Brasil, de mundo. Mesmo a de todos seus amigos. Em uma turma onde normalmente há uma certa hierarquia entre alunos do primeiro, segundo e terceiro ano, aquela atmosfera colocava a todos numa horizontalidade que desnudava qualquer conceito ou pré-conceito. <br />
Ali, no último dia de trabalho num pátio de escola do interior do Maranhão, viu os amigos brincarem com uma bola de vôlei em uma imensa roda com os alunos locais e os coordenadores da equipe. Todos unidos, sem diferenças de classe social, localidades ou idade. A alegria vibrava em cada um naquele pátio numa sintonia que estava muito, mas muito além de qualquer conceito. Formavam uma grande família.<br />
Por um instante seu espírito vislumbrou um pouco do sentido da vida e uma lágrima escorreu de seus olhos abençoando aquele momento.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-45880609612617568972018-04-16T13:37:00.000-03:002018-04-16T13:37:00.031-03:00Sobre o valor e valoresEla chegou eufórica em casa. Tinha vivido na escola a oportunidade de ajudar ao próximo. Nove anos de idade e a vontade de melhorar o mundo.<br />
- Pai! Pai! Me dá dinheiro para eu levar na escola?! Eles estão arrecadando para ajudar a comprar leite para famílias carentes!<br />
O Pai se felicitava por dentro ao ver que ali se mostrava um coração preocupado com pessoas e com o mundo em que vive. Perguntou quanto ela levaria e se surpreendeu quando a resposta foi "uns 50 reais, tá bom!".<br />
- Filha, acho que 50 reais é muita coisa. Fica pesado pra ajudar. Você não tem que tentar resolver tudo sozinha, o ideal é cada pessoa ajudar com um pouco.<br />
- Mas pai - disse a pequena quase indignada - você não sabe! São pessoas carentes, eles precisam e não tem dinheiro para comprar esses leites que são caros! - era um argumento inapelável, papai não teria como escapar.<br />
Ele pensou; entre a vontade de adentrar o caminho mais fácil, agradando a filha e se orgulhando de sua preocupação social ou ensinar o valor das coisas. Decidiu o que para ele era o certo.<br />
- Tudo bem, acho que é você quem tem realmente que decidir isso já que o valor sairá da sua mesada...<br />
Ambos sabiam que ela tinha em suas economias um pouco mais do que a quantia pedida. Ela pensou, cara de tristeza, mas decidiu.<br />
- Tá bom, pode ser dez reais, então.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-88478260104207394252018-04-04T21:47:00.000-03:002018-04-04T21:52:21.306-03:00GratidãoEntre normas e regras internas criadas seguimos nossos dias, agindo de forma quase automática. Sobre esmolas havia criado um roteiro que me guiava, admirando quem o fazia mas tentando ajudar de outras formas. Já havia visto adultos explorando crianças e recolhendo o dinheiro que pediam na rua.<br />
Aquela era uma fria noite de junho e com este conceito intrínseco esperava minha vez na fila do mercado. Numa mão uma garrafa de vinho, na outra salgados e na cabeça o pensamento em ajeitar as coisas em casa para receber amigos minutos depois.<br />
- Tio, você pode comprar este pão pra mim? - me perguntou um menino de seus 12 anos.<br />
Seus trajes surrados indicavam que dormia na rua. Usava uma blusa fina de moletom para o frio que fazia e exibia um saco de pães na mão.<br />
- Não tenho, meu amigo. - Respondi de forma maquinal, quase friamente.<br />
O garoto se virou como já acostumado àquela resposta e se dirigiu a um senhor da fila ao lado, recebendo mais uma negativa.<br />
"Espere! - pensei - Ele me pediu para comprar pão, não dinheiro".<br />
Enquanto ele andava meio sem destino após um terceiro <i>não </i>o chamei. "Amigão, deixa que eu passo o pão pra você".<br />
- Obrigado!<i> É </i>oito e quarenta. - disse como que preocupado se não seria muito caro.<br />
Aliviado por ter conseguido "resgata-lo" vi na frente do caixa prateleiras repletas de doces de todas as cores. Perguntei se não queria pegar um. Ao me perguntar <i>qual</i>, respondi o que toda criança sonharia ouvir: "pode escolher".<br />
Viu os valores, pensou e perguntou:<br />
- Em vez do doce, posso pegar um refrigerante?<br />
É claro que podia. Outra pessoa passasse aqueles pãezinhos e talvez minha consciência pesaria de não ter ajudado. Disparou para o corredor de bebidas e voltou feliz com uma coca de 2 litros.<br />
- É seis e cinquenta, pode ser?<br />
Ao passar no caixa retomou:<br />
- O meu é oito e quarenta do pão e seis e cinquenta da coca. E o seu? - disse apontando para a garrafa de vinho.<br />
Disse que não lembrava ao certo. E não lembrava mesmo, mas também estava sem jeito de dizer o valor daquela garrafa que, apesar de não ser um vinho caro, era muito mais do que o lanche que alimentaria algumas pessoas de sua família aquela noite.<br />
- É engraçado, as vezes as pessoas nem <i>sabe</i> quanto custa as coisas... - disse entre divertido e pensativo.<br />
Nos despedimos. Ele seguiu feliz para a rua com seu irmão que o esperava junto ao caixa. Entrei no carro e o conforto do interior, longe do vento frio que fazia lá fora, me envolveu. Saindo do estacionamento vi na calçada os dois irmãos, abrindo o saco de pães com o provável irmão mais velho, que estava sentado envolto em um fino cobertor cinza. A noite seria mais agradável para aqueles três. Assim como também seria a minha, envolto aos amigos.<br />
Ao seguir em diante senti uma gratidão imensa. Não tivesse resgatado a oportunidade naquele supermercado poderia ter visto uma cena diferente naquela calçada.<br />
E poucas vezes um vinho foi tão gostoso quanto o daquela noite.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-4133844261337152722018-03-23T08:44:00.003-03:002018-03-23T08:44:54.359-03:00Olhar de pazEle atendia um senhor muito simples, que dizia ser morador de rua.<div>
- Na verdade costumo dormir em albergue, na rua só quando não consigo vaga. </div>
<div>
Pelo sotaque ligeiramente marcado acabou descobrindo que ele havia nascido no Líbano e veio ao Brasil depois da guerra que devastou o país nos anos 80. </div>
<div>
- Doutor, quem vê guerra quer paz. O senhor não imagina o que é ver alguém levando corpos de pessoas no carrinho de mão...</div>
<div>
Ele realmente não imaginava. E mesmo tentando sabia que não chegaria perto de entender a avalanche que uma imagem daquela ocasiona no interior de um ser humano.</div>
<div>
Lembrou das recentes imagens da guerra que ocorre na Síria, das fotos das crianças machucadas. Automaticamente pensou nas mazelas de seu país, que de tão grande ainda era imensuravelmente menores do que conversava com aquele humilde senhor.</div>
<div>
Entendeu o sorriso sereno e limpo de um homem que dizia morar na rua e mesmo assim seu olhar transmitia paz.</div>
Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-44382949893789170062016-04-20T15:33:00.001-03:002016-04-20T15:33:09.308-03:00Um lugar no tempo e no espaçoEle estava em um bar, do sertão, ouvindo dois amigos conversando sobre um acidente fatal ocorrido ali vinte anos antes. <div>Um homem havia caído de uma cadeira sobre a pecheira que carregava, provocando um imenso corte na perna que sangrou até levá-lo à morte. </div><div>- Mas isso aconteceu por falta de sabedoria! Se alguém soubesse, era só amarrar um pano em volta, bem forte, que poderia até ter arrancado a perna que dava tempo de chegar ao socorro. - disse um deles.</div><div>Vinte anos depois dessa conversa, ela surgiu em sua mente, fresca como se tivesse sido ontem e necessária como o remédio que salvaria sua vida. Um descuido enquanto operava uma serra de marcenaria fez com que caísse sobre a mesa e um corte que quase atingiu o osso de seu braço fez com que seu sangue espirrasse ao longe. </div><div>Como se fosse automático, rasgou sua camisa e amarrou a tira fortemente antes do corte, o que estancou a hemorragia. </div><div>Eram três da tarde e após passar em dois hospitais o médico decidiu levá-lo até o Hospital das Clínicas, onde foi operado. </div><div>A cirurgia ocorreu apenas à uma da manhã do dia seguinte e após acordar da anestesia o cirurgião o explicava da dificuldade de reconstrução dos nervos e o religamento dos vasos sanguíneos. </div><div>"O senhor teveve sorte e sabedoria por ter estancado tão bem o sangramento, do contrário não estaria aqui agora", ouviu do médico aquelas palavras que ficariam gravadas em sua memória. </div><div>Assim como aquelas ouvidas vinte anos atrás, de um acontecimento de mais vinte anos antes, em um lugar longe no tempo e no espaço, mas que salvaram sua vida. </div>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-38554668455352152452016-03-10T16:47:00.000-03:002016-03-10T16:47:53.735-03:00Sobre voltar a enxergarMuitas vezes um médico se encontra frente a uma difícil decisão, aquela não seria diferente. Dona Maria já havia sentido mais de noventa primaveras aquecerem sua pele, porém já fazia vinte delas que não mais enxergava suas cores. A catarata avançada a cegara e ela sentiu naquele profissional sua última esperança de voltar a enxergar em seu fim de vida.<br />
- Doutor, já passei em muitos outros médicos e ninguém quer me operar por eu estar com a idade avançada. Mas eu quero tanto! Sinto que minha hora está chegando, não conheço o rosto de meus bisnetos. Gostaria de rever meus filhos, irmãos...<br />
Entendia perfeitamente seus colegas. Levar uma paciente com mais de 90 anos para a mesa de cirurgia sempre é um risco grande. Um organismo já debilitado pode não resistir à anestesia ou ao stress cirúrgico. Comentou com ela e toda a família sobre todos os riscos possíveis, mas achou justo o desejo sincero de uma senhora em voltar a ver seus entes queridos.<br />
A cirurgia foi um sucesso! Um misto de alegria, por ter devolvido a visão a alguém, com o alívio da paciente ter suportado a intervenção, o envolveu. <br />
No acompanhamento pós-operatório, já no terceiro dia pós cirúrgico, a filha comentava ao lado da senhora a alegria de toda a família, compartilhando a emoção da "bisa" em rever a todos.<br />
- Virou uma peregrinação de parentes em casa! Todo dia tem gente diferente para ela ver. Já tem parente vindo do norte. Fazia tempo que a família não se reunia assim!<br />
E os dias seguintes transcorreram assim. Parentes vieram do sertão para revê-la, e ela, para vê-los. No décimo dia, Maria descansou. Como se esperasse apenas a alegria de poder ver novamente o rosto dos seus para fazer sua passagem, fechou definitivamente seus olhos.<br />
Emocionado, o doutor ouvia o agradecimento sincero da filha e os relatos alegres dos últimos dias. <br />
A família havia dividido a cirurgia em quatro pagamentos.<br />
- Está tudo certo. Não precisam se preocupar com as outras parcelas. - disse segurando a emoção.<br />
Não podia existir maior pagamento do que ter ajudado com sua intervenção àquela simpática senhora a ter seus últimos dias inundados de amor e da visão de sua família.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-17722371489809028242015-10-25T18:20:00.001-02:002015-10-26T09:47:16.652-02:00O jeitinhoSábado, 24 de outubro de 2015, ele estava com a esposa na fila de um restaurante que havia aberto perto de sua casa. Pela proximidade da inauguração ainda havia boa concorrência para entrar no local e uma enorme fila se estendia a sua frente, para retirar uma senha e entrar em uma fila de espera.<br>
"Já imaginávamos", pensou resignado, e assim se passaram mais de vinte minutos para dar seu nome à garota que organizava a espera.<br>
Enquanto o último casal a sua frente passava seus dados, observou uma jovem, de não mais que vinte e cinco anos, aproveitando a pequena confusão de pessoas em volta, se juntar ao seu lado. Assim que o casal saiu ela se adiantou perguntou à funcionária:<br>
- A espera está muito longa?<br>
- Em torno de quarenta minutos, gostaria de esperar? - respondeu a hostess, sem imaginar que não se tratava de alguém fora da fila. Quando a moça resolveu deixar seu nome na lista, ele decidiu que, daquela vez, não deixaria passar.<br>
- Tudo bem, mas você não estava na fila, não é?<br>
Olhando assustada e não imaginando que alguém recriminaria seu gesto de ultrapassar a todos que pacientemente esperavam sua vez, gaguejou e disse para a funcionária que a olhava assustada:<br>
- Não, só vim fazer uma pergunta, meu namorado está lá atrás na fila... - disse constrangida, disfarçando o indisfarçável, visto que passava seus dados para a lista de espera.<br>
- Mil desculpas, não havia percebido que ela não estava na fila! - se desculpou a funcionária sinceramente e ele a tranquilizou, não havia o menor problema.<br>
E realmente não haveria. O problema que poderia ocorrer estava envergonhado de sua atitude, ao ponto de não mais ficar na fila.<br>
Enquanto jantava pensou no número de pessoas que recriminam corrupção no governo, em empresas, mas quando encontram uma possibilidade buscam levar vantagem ilegal sobre os outros.<br>
Decidiu não mais pensar sobre aquele ato, ou o jantar não teria o mesmo sabor. Mas tinha a certeza de não mais observar uma corrupção sob seus olhos sem se manifestar.<br>
<br>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-76934244322672607702015-07-19T21:37:00.002-03:002015-07-19T21:44:02.699-03:00Filho de TupãberapaNão haviam muitas tribos isoladas no país. Na verdade, nos dedos de uma, ou no máximo, duas mãos, ainda descobriríamos um grupo de seres humanos completamente isolados de outros de sua espécie. Porque um brasileiro, hoje, está tão próximo de outro homem, quanto um chinês.<br />
Mas tribos de índios brasileiros que se mantém na mesma etapa evolutiva desde que Cabral pisou nestas terras, há pouquíssimo, em mais de 500 anos.<br />
"Nossa, mas quinhentos anos é muito tempo!", já pensou, lembrando daquela amiga que sempre julgava tudo pelo status quo do pensamento corrente.<br />
- Você tá louca?!! Enquanto esses caras andavam pelados pelas ruas daqui da cidade, outros estavam estudando música clássica na escola no Velho Continente! E sabia que eles ainda andam pelados?!!! - diria tão diretamente quanto um verdugo em frente ao muro de fuzilamento.<br />
Por tudo isso, se sentia um privilegiado em conversar com aquele jovem.<br />
O outro, à sua frente, também se sentia um "escolhido". Por ser o filho mais velho o pajé - algo na atualidade comparável a ser filho do príncipe Charles, da Inglaterra (e aqui, um outro parênteses - pensou -, uma adolescente do interior do sertão do Piauí, conhece os pormenores da vida deste príncipe e de sua família real inglesa...).<br />
Ele não fora "o escolhido". O índio sabia de sua colocação em sua época na terra. Por estar ali, deveria agradecer à luz de Tupãberaba. Por ter nascido naquela tribo, por ser o filho mais velho do soberano dos seus. E sabia também da brutal responsabilidade daquela posição.<br />
Estava ali, naquela reunião de homem-branco, por causa de uma ong que cuidou da saúde de sua tribo e começou um trabalho de parceria por lá.<br />
Pensando em tudo isso, o rapaz da cidade grande, decidiu tentar estabelecer o maior diálogo possível - claro, com a ajuda de um intérprete - com seu "semelhante".<br />
- É um enorme prazer conhece-lo! - disse o outro em um tupi-guarani difícil de assimilar mesmo ao experiente intérprete.<br />
- Meu amigo, você nem imagina quanto estou feliz em estar aqui...<br />
E ali conversaram, sobre tantos assuntos quanto poderia imaginar. Porém, marcou muito quando o jovem riu, quando ouviu sobre o cotidiano de sua gente. Era difícil entender esse negócio de segunda, terça..., enfim!<br />
Só poderia ser coisa de Jurupari, pegar cinco dias sagrados, como parte de sete, os transformando em tristeza, em troca de dois que seriam felizes, assim como os sete deveriam ser.<br />
Se desculpou com o novo conhecido pelo riso que deu. E ele percebeu ainda que o outro também sorria como seus amigos.<br />
Percebeu também, que algo não andava bem com sua sociedade. Não era apenas uma crítica de alguém que sentava num bar e tomava 10 chopps em sua frente, e discorrias sobre possibilidades e correntes humanistas. O rapaz em sua frente vivia sete sexta-feiras por semana, aclamada por dez entre dez amigos seus como o melhor dia de todos!<br />
- Trabalhar é bom, comemorar é bom, Por quê dividir essas coisas? - ele não soube responder.<br />
Não sabia se conseguiria deixar as coisas que aprendeu em sua sociedade, mas tinha certeza que a partir daquele dia, procuraria ser uma coisa simples: apenas um ser humano melhor.<br />
E sua meta dali para frente era apenas ser melhor do que ontem.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-5145733814893475532015-05-20T09:26:00.001-03:002015-05-20T09:46:21.293-03:00Crônicas de um brasileiro nos Estados Unidos - Contrastes<div><img src="webkit-fake-url://8a6e7efd-9442-49b3-aa38-0a17330d33f1/imagejpeg"></div><span style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;"><div><br></div>Era a segunda vez que visitava os Estados Unidos. Da primeira, se surpreendeu mesmo antes da aterrisagem. </span><br><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Quando decolou à noite de Guarulhos, em São Paulo, como sempre fazia, olhou para as luzes das casas e ruas que iam se distanciando abaixo de si. Curioso notou a disposição desses pontos brilhantes, irregulares, espalhados como se fossem sementes jogadas ao acaso por um lavrador descuidado. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Ao se aproximar do destino, espantado, fitou as luzes que se aproximavam abaixo. Eram de uma regularidade que não conhecia. Formavam quadrados perfeitos, brilhando em uma ordem exata, denunciando o que deveria ser um crescimento planejado e consciente. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Achou estranho sentir aquele contraste como um pequeno incômodo surgindo do fundo de seu peito. Ainda sentiria muito essa sensação, e o avião ainda não tinha tocado o solo. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Desta vez a surpresa não viria tão cedo, mas quase. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Visitava um amigo que morava em Portland, do outro lado americano, necessitando um segundo vôo no país. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Diferente do primeiro, este vôo interno era composto praticamente por cidadãos locais e assim em mais 4 horas estava pousando em seu destino. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Como acontece em qualquer lugar - quando o avião para - pessoas levantaram e pegaram suas malas no bagageiro. Mas o que viu em seguida o deixou espantado. As pessoas da primeira fila saíram, e só então as da segunda se adiantaram. As que estavam na terceira se levantaram em seguida e, pacientemente, pegaram suas malas de mão e seguiram em diante. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Ele estava na penúltima fila e viu aquele desembarque calmo, orquestrado, de uma educação intrínseca que, mais do que chocava, emocionava. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Se emocionou porque lembrava do "salve-se quem puder" quando as portas de um avião abriam em seu país. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">Quando chegou sua vez teve vontade de agradecer às pessoas da última fila por esperá-lo sair, mas se segurou. Lembrou que ninguém agradecia a quem esperava, pois aquilo era o certo, e o certo não é um agrado, é uma obrigação. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">A surpresa desta vez não havia ocorrido antes do avião tocar o solo, mas surgiu antes mesmo de que saísse da aeronave. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392); text-decoration: -webkit-letterpress;">E assim ele saiu, pensativo para uma cultura que era mais nova que a sua, mas estava a muitos e muitos anos na frente em questão de cidadania e educação. </div>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-46507947712649050392015-03-21T23:13:00.001-03:002015-03-21T23:13:07.339-03:00Conceitos<div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">Pelos caminhos que vamos traçando fiz amigos verdadeiros em extremos, de uma simplicidade de sala de chão batido de terra ou de um brilho de porcelanato que ofusca a visão. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">Nesse convívio mudei alguns conceitos que ouvi durante a vida. Um deles: "o dinheiro não trás felicidade".</div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">Bobagem. O que trás, ou não, a felicidade é o grau de bondade que há no coração da pessoa e isto está longe de estar ligado à posição social ou a oportunidades. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">E vou mais além: nem está ligado à educação que as pessoas exaltam, que é a escola de qualidade. Já vimos adolescentes ricos, que viajaram o mundo, falavam várias línguas e colocaram fogo em um índio porque pensavam se tratar de um mendingo(!). </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">A educação de casa sim, ajuda a moldar um coração bom. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">Tampouco, como outro ditado prega: "o dinheiro deturpa o ser humano". Pessoas boas nascem no mesmo tanto entre ricos e pobres. Aquele corrupto que desviou milhões ou o empresário tirano e desonesto são o espelho exato daquele garoto que nasceu na favela e em vez de procurar um trabalho prefere as facilidades de tráfico. Alguém dúvida que, nascessem em papéis trocados, desempenhariam seus papéis da mesma forma?</div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">Uma pessoa infeliz nunca estará satisfeita com o tanto que tem, sempre colocará a alegria no próximo passo a dar, a cada dia. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">A felicidade escolherá para amiga aquele que viaja para Paris ou aquele que em seu chinelo velho de dedo senta na calçada de terra para conversar com o vizinho e olhar as crianças brincando. </div><div style="color: rgba(0, 0, 0, 0.701961); font-family: UICTFontTextStyleBody; -webkit-composition-fill-color: rgba(130, 98, 83, 0.0980392);">Para isso, basta ter um bom coração. Simples assim. </div>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-36353386369368415942015-03-08T22:04:00.001-03:002015-03-08T22:06:55.840-03:00Mundo idealFila de supermercado tem suas peculiaridades. Uma delas é a capacidade de se fazer amizades. Poucos minutos são suficientes para assuntos diversos, dos mais frívolos aos mais transcendentais.<br />
João havia adentrado uma conversa daquelas despretensiosas em que se discorre sobre o clima ou como estão caros os produtos. O senhor com quem trocava impressões tinha um papo fácil e interessante. Brincou com sua filha, deram risada juntos, e firmaram a amizade que sabiam ter fim em alguns minutos, numa translúcida honestidade onde ao sair do estabelecimento não trocariam contatos, talvez nunca mais se encontrariam, mas eram gratos um ao outro por simplesmente terem compartilhado aquele instante.<br />
"Um abraço" dito e João seguiu com as compras e sua alegre filha, saltitante da altura de seus quatro anos de idade, em meio às filas de carros que se espremiam pelo estacionamento naquele agitado fim de semana em sua cidade.<br />
Atravessando a última rua do local, um carro virou com certa velocidade, todavia em hábil tempo para que pedestre e motorista se olhassem e se reconhecessem. Poucos minutos atrás, haviam sido amigos. Tempo também para que ambos pudesses escolher, o primeiro recuar um passo, o segundo parar e dar passagem à pequena família.<br />
Neste instante, que pareceu durar o eterno tempo de todas as conjecturas possíveis João refletiu. Fosse um mundo ideal, sua preferência seria incontestável. Porém, sabia há tempos que vivia em um lugar dramaticamente distante deste mundo e jamais arriscaria sua vida - muito menos a de seu maior tesouro! - esperando o bom senso no semelhante, tão escasso pelas ruas como a água nos reservatórios de sua cidade.<br />
Recuou, no mesmo instante em que o adversário acelerou. Se espantou de ser "no mesmo instante", pois o motorista contou que ele não confiaria na bondade alheia e retrocederia. Do contrário...<br />
Do caso contrário João não queria pensar. Apertou a mão de sua pequenina com o mesmo aperto que sentia em seu coração; pelo risco que ela sofreu. Pela tristeza em saber que sua amada filha não vivia em um mundo ideal.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-78913918662651933692015-03-01T21:45:00.001-03:002015-03-01T21:45:44.955-03:00A Pedagogia do Horror (parte II): a inadequação dos contos de fadas na
Educação Infantil (por Fernando Martins)<p class="Default" style="margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0); font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, helvetica, arial, sans-serif;">No dia 10 de fevereiro de 2015, o Canal Brasil, de TV por assinatura, veiculou o programa “No Divã do Dr. Kurtzman”, em que foi entrevistado o cantor, músico e compositor brasileiro Zeca Baleiro. O músico contou que, quando criança, ouvia histórias do folclore regional em que os ciganos figuravam como sequestradores de crianças. Um dia, foi a uma festa com um amigo que resolveu pregar-lhe uma peça. Combinou com um cigano, que atendia em uma das barracas do evento, que ao passar próximo da barraca apontaria para o cigano e diria ao menino: “O cigano irá te pegar!”. A ignorância ou a crueldade da ação não parou por aqui. O cigano, incorporando o personagem da trama, corre atrás do menino dizendo que iria pegá-lo. Resultado: o menino Zeca Baleiro corre desesperadamente, sem parar, até a sua casa e se refugia debaixo de sua cama. O músico finaliza seu testemunho dizendo que aquele episódio ficou marcado em sua mente como uma espécie de trauma. Certamente poderíamos coletar diversos outros testemunhos semelhantes ao de Zeca Baleiro, em que crianças são vítimas destas histórias.</span><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0); font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, helvetica, arial, sans-serif;"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">O importante a ser observado é o fato de que histórias como estas continuam a ser transmitidas não somente na cultura popular, mas nos ambientes formais de Educação Infantil, ou seja, nas escolas públicas e privadas de nosso país. Estas histórias possuem o mesmo eixo central do enredo dos contos de fadas. <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Se estas histórias, como os contos de fadas, fossem contadas na Idade Média europeia, não seria muito difícil entender a razão pela qual elas eram contadas às crianças, uma vez que estas narrativas representavam exatamente o mundo tenebroso daquele espaço e tempo histórico, conforme já nos descreveu o historiador Robert Darnton.<o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">O mais espantoso é saber que no Brasil do século XXI, estas histórias sejam ministradas como conteúdo de sala de aula para crianças na Educação Infantil. Parece não haver, por parte dos educadores, pesquisadores e dos responsáveis pela elaboração dos documentos regulatórios da política educacional promovida pelo Ministério da Educação, nenhuma discussão séria e aprofundada sobre a adequação ou inadequação destes conteúdos para nossas crianças. Parece que os educadores de um modo geral ficam anestesiados diante destas narrativas e não conseguem perceber o quanto de crueldade, de medo, de terror e de horror estas narrativas podem incutir nas crianças. Ou será que devemos desprezar e desconsiderar os diversos testemunhos existentes de crianças, de pais, de adultos, como o testemunho de Zeca Baleiro, que clamam em alta voz sobre os malefícios destas histórias na psique das crianças? <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Se analisarmos os estereótipos dos personagens que são recorrentemente encontrados nos contos de fadas, chegaremos a conclusão de que a bruxa é a personagem mais terrível e mais temível dos contos de fadas. A bruxa frequentemente exerce o papel de sequestradora e devoradora de crianças, assim como os personagens das narrativas sobre os ciganos. A pesquisadora de literatura folclórica da Universidade de Harvard, Maria Tatar, em seu livro “The Hard Facts of the Grimm’s Fairy Tales”, alerta que, para muitos adultos, ler as edições originais dos contos dos irmãos Grimm pode ser uma experiência reveladora diante das descrições de assassinatos, mutilações, canibalismo, infanticídio e incesto que preenchem as páginas destas “<i>bed time stories</i>”. Eu ainda acrescentaria que não somente nas edições originais dos irmãos Grimm encontramos essas terríveis descrições, mas encontramo-las em várias edições utilizadas pelas escolas de educação infantil. <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Diante destes fatos, cabem algumas perguntas:<o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Até quando nós (pais, educadores, pedagogos, pesquisadores da área de educação) aceitaremos estas narrativas que amedrontam e apavoram as crianças, como se fossem um conteúdo útil e benéfico? <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Até quando nos manteremos anestesiados diante de narrativas que promovem o medo e o terror em pequeninos seres humanos que mal ainda conseguem se alimentar por si próprios? <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Até quando nossa incapacidade de reflexão nos manterá como perpetuadores de um discurso obsoleto, anacrônico e totalmente deslocado de nosso tempo e contexto histórico? <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Até quando reproduziremos nas salas de aula o ensino dos vícios e do medo, em vez de ensinarmos as virtudes? <o:p></o:p></span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"> </span></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">É urgente que todos os atores (pais, pedagogos, pesquisadores e educadores em geral) deste importante e nobre processo que se chama Educação Infantil sejam mais ativos e mais participativos. A passividade é a posição mais cômoda, mas ela é incapaz de melhorar o nosso mundo. É urgente que os conteúdos de literatura para crianças sejam revistos e atualizados e que se proponham soluções pedagógicas atuais. Os contos de fadas e narrativas semelhantes não representam estas soluções. O tempo da ministração da literatura é um tempo rico e valioso na Educação Infantil para ser desperdiçado com conteúdos inadequados como são os contos de fadas. Existe uma miríade de novas e boas propostas de literatura infantil. Resta aos educadores o trabalho de selecioná-las com critérios bem definidos e fundamentados, levando em conta que a criança é um ser em desenvolvimento e que necessita de orientação e informação adequadas para se tornar um adulto emocionalmente equilibrado e cognitivamente bem formado. Educar é criar as condições para que este pequeno ser em desenvolvimento se torne um adulto capaz de gerenciar a própria vida e capaz de transformar o nosso mundo em um mundo melhor. Para que logremos êxito nesta nobre missão, precisamos constantemente questionar os discursos vigentes, a fim de identificarmos suas inadequações e propormos sua superação.<o:p></o:p></span></p><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><br></p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><font></font><br></span><p class="Default" style="text-align: start; margin: 0cm 0cm 0pt; padding: 0px;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">* O autor é bacharel em Letras pelo Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo (USP) e mestre pelo programa de Filologia e Língua Portuguesa da USP.<o:p></o:p></span></p><div><span style="font-size: 10pt;"><br></span></div><font face="Times New Roman" style="font-size: 16px; -webkit-text-size-adjust: auto;"></font>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-2366086748911618052014-11-26T14:24:00.000-02:002014-11-26T14:24:09.172-02:00Tudo pelo socialTemos um país nas mãos com toda a capacidade para se tornar uma potência - e reverter isso para a melhora real de seu povo - porém desperdiçamos a cada dia essa possibilidade.<br />
Sem dúvida, numa grande nação o social é o mais importante. O bem estar do fator humano deve estar à frente de outros interesses, mas o populismo e atitudes simplistas fazem parecer que o melhor meio de melhorar o social é apenas o atingindo diretamente, fechando os olhos para tudo o que há em volta.<br />
Focar a melhora de uma nação meramente olhando somente para esta área funciona como estar em um carro na direção de um abismo, onde o objetivo é alcançar o outro lado, simplesmente acelerando o veículo e não pensando em construir uma ponte.<br />
E aqui falo o que pode soar um paradoxo para 51% de nosso país: melhorar o social é melhorar a economia e incentivar empreendedores que gerarão empregos. <br />
É sabido: muito melhor para um brasileiro ganhar 700 reais por mês, se sentindo útil trabalhando, do que ganhar 350 de uma bolsa sem nada produzir. Isto é claro como água e qualquer cidadão de bem concorda. Agora, pensar que aumentar o número de beneficiários não é uma roleta russa é devaneio. <br />
A economia indo mal, mais desemprego, mais Bolsa Família. E dois e dois não são quatro? A conta não fechará, pois menos produzirão para mais receber.<br />
Não precisamos inventar a roda a cada geração, cresçamos com os exemplos e aprendizados. A Venezuela focou em atitudes extremamente populistas, xingou os Estados Unidos publicamente, esqueceu o termo "economia global", se fechou e criou bolsas de todos os tipos. As empresas fecharam e o número de beneficiários para as bolsas aumentou drasticamente. Hoje, num ambiente em que o petróleo (sua principal fonte de renda) se desvalorizou está vivendo uma crise interna terrível. Não há produtos básicos e o cidadão que quer comprar um papel higiênico, por exemplo, tem que registrar seu CPF para não comprar mais que um produto e deixar o outro sem. Há alguma dúvida de que estão à beira de um caos social?<br />
Espero de todo o coração que possamos alterar nosso caminho, pois o carro está cada vez mais acelerado. E não estamos vendo nenhum material para construir ponte alguma perto do buraco.Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-82048420238525274062014-10-29T11:48:00.003-02:002014-10-29T11:53:50.828-02:00Roberto Carlos e suas emoções...Achava engraçado estar ali. Era um eclético musical, gostava de boa música, mas sua preferência era o rock and roll, e pesado. Porém, isso não o fazia desprezar o rei brasileiro.<br />
Ganhou o ingresso e com prazer se dirigiu ao show com sua esposa. Para a grata surpresa dos dois, seu amigo havia lhe dado o melhor lugar: a primeira mesa da primeira fila!<br />
- Amor, meu joelho está encostando no palco onde o Roberto irá cantar! - ela brincou eufórica.<br />
O espetáculo passou rápido. Mesmo para quem não é fã do grande Roberto Carlos não há como negar o poder e carisma que aquele homem tem. Inebriado naquele clima já se imaginava agarrando uma das rosas que, conhecidamente, o rei lançava aos fãs no fim de cada apresentação. "Será meu troféu!", pensou.<br />
Chegou a hora. Começou a música "Jesus Cristo", sempre a saideira. Algo estranho começou a acontecer. Sentiu como se o chão se movesse. Eram senhoras que se arrastavam entre as mesas, vindo das profundezas da plateia e se esgueiravam entre as primeiras filas, como veteranas de guerra que rememoravam os antigos embates nas trincheiras.<br />
Sua mesa começou a se mover. Se preocupou, nem tanto pela sua saúde, mas pelos planos de pegar uma rosa do Roberto. <br />
"Jeeeeeesus Cristo eu estou aqui!" cantava o rei, indicando o fim do show e "Bum!" as senhorinhas se levantaram como que combinadas, quase virando as mesas em frente ao palco, transformando ali como uma pista dos shows de rock que já tinha cansado de ir.<br />
Obrigado a se levantar começou a sentir encontrões de senhoras troncudas que se acotovelavam em busca do melhor lugar para avançar sobre as esperadas rosas que seriam lançadas. Conseguir uma das flores virou questão de honra! <br />
Pensou em dar o troco na mesma moeda, mas mal podia acertar aquele exército de tiazinhas que mais pareciam uma tropa de butijõezinhos lhe atacando. Teria gargalhado com a situação, mas tinha que manter o foco e cuidar de sua vida ao mesmo tempo.<br />
Um rodie se aproximou de Roberto Carlos com um buquê enorme e deu uma a ele. As senhorinhas foram ao delírio. Ele aproximou-a de seus lábios, sem a beijar e a lançou. Se sentiu dentro da carga de um caminhão da Liquigaz passando pelas ruas de Carapicuíba.<br />
Em segundos Roberto ia pegando uma rosa atrás da outra, fazendo um movimento como se beijasse, mais para uma benzida, e a atirando para suas fãs ensandecidas. Tentou, tentou, tentou... Não conseguiu agarrar nenhuma.<br />
Na saída comentou com sua esposa:<br />
- Inacreditável! Já peguei palheta no show do Metállica e do Pantera. Mas uma rosa no do Robertão é tarefa impossível!<br />
Olhou para o lado, havia uma banca com "rosas do Roberto Carlos". Em sua frustração pensou em comprar uma. Mas a semelhança a uma peixaria ao lado de um rio no Pantanal o fez mudar de ideia. Além do mais, dez reais por uma rosa, que nem vinha direto das mãos do rei...<br />
Deu a partida no carro, apesar de tudo feliz, pensado: "se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi...".Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-84030494596573820962014-10-11T00:15:00.000-03:002014-10-11T00:15:14.639-03:00Gentileza gera gentileza<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;">Fazia tempo que não pegava trânsito. Morando em São Paulo isso é bem raro. </span><br style="color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;">Num lugar caótico os carros disputavam nariz a nariz seu espaço. Na faixa do lado vi uma seta desejando entrar em minha frente. </span><br style="color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;">Naquele ligeiro momento em que nossa alma consegue gritar por trás da mordaça da vida real (real?), resolvi deixar espaço para que ele entrasse. </span><br style="color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;">Ainda pensei: "deve ter achado que eu me distraí no celular...".</span><br style="color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;">Após virar a esquina, em frente ao mar de carros que se apinhavam</span><span class="text_exposed_show" style="color: #141823; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19px;"> ante a um farol, vi que tinha que estar à esquerda e que minha faixa era liberada para a direita.<br />Após o leve palavrão que mentalizamos numa situação como essa, liguei a seta para esquerda e vi que, milagrosamente, um espaço se abriu para que eu entrasse. Era o mesmo carro que eu havia ajudado cem metros atrás.<br />Tive a impressão que o carro dele sorria quando entrei.</span>Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-28859451391824554502014-07-08T10:41:00.001-03:002014-07-08T10:41:13.899-03:00MédicosJá fazia mais de dois anos que suportava os mesmos problemas. Sabia bem o que era sentir o peso do mundo nas costas. Mesmo que não fosse sobre as suas, essa dor era transferida automaticamente, indo parar bem fundo em seu peito.<br />
Ver uma pessoa, jovem, se tornando cega e se aposentando por invalidez na sua frente, quando diagnosticou a doença lá atrás e era possível se curar com um simples tratamento, gera uma revolta, sensação de impotência, tristeza.<br />
Se tornará em três semanas mais uma médica que abandona o SUS. Não é uma "patricinha" como muitos querem acreditar, nunca teve medo de "meter a cara" nas periferias como políticos dizem, e justamente por não ter um coração de pedra - como muitos também disseram de sua classe - teve que pedir o aviso prévio.<br />
O paciente em questão não era o primeiro, e percebeu há tempos que não seria o último. Em sua cabeça não entendia porque o sistema público de saúde agia assim. Uma pessoa de 38 anos, com diabetes gerando um problema em seus olhos, necessitava de um simples tratamento com laser para estabilizar e preservar sua visão. Nos meses em que aguardava atenderem o pedido do tratamento observava a visão ir diminuindo, diminuindo, diminuindo, até desaparecer definitivamente.<br />
"Mesmo que não quisessem olhar pelo lado humano, você deixar um homem novo, que trabalha e gera impostos para o país, se aposentar cedo e viver do imposto dos outros, já seria motivo!", concluiu.<br />
Mas era o lado humano que gritava ainda mais alto, e esse caso foi um. Quantos pacientes com glaucoma e tantas outras doenças passíveis de tratamento ou cirurgia ficavam presos em meio às engrenagens de um sistema falido, que mutila, invalida e mata tantos brasileiros.<br />
Ainda possui três semanas pela frente. Sai com a tristeza de não ter conseguido vencer esse desafio e com a eterna angústia de saber que embora não receba diretamente sobre seus ombros, esse peso insuportável continuará sufocando a maioria de nossa população. E em saber isso seus ombros ainda doem. Até quando?Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-16970169225838192222014-06-05T13:37:00.000-03:002014-11-11T19:55:46.749-02:00A Pedagogia do Horror (por Fernando Martins Rocha*)<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; mso-line-height-alt: 5.1pt; text-align: left;">
<span style="color: black; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;"> </span></span><span style="font-family: Calibri;"><b><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;">Introdução</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Mães que abandonam filhos para que pereçam, traições, mentiras, esquartejamentos e toda a sorte das ações mais vis e abjetas que pode engendrar a mente humana. Não estamos descrevendo um enredo de um filme com um pesado conteúdo imagético e censurado para menores. Este conteúdo é encontrado nos “melhores” contos de fadas que hoje são utilizados como material pedagógico por uma boa parte de nossas escolas infantis.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Diante deste fato, cabe (ou deveria caber) a nós pais e educadores, como responsabilidade, fazermos algumas perguntas e refletirmos acerca deste fato. Talvez a primeira pergunta que coubesse seria: como estórias com cenas tão fortes e com um conteúdo tão pesado foi parar nas prateleiras das escolas de nossos filhos tão pequenos (de 3, 4 ou 5 anos de idade) ? Em seguida, poderíamos (ou deveríamos) perguntar: o conteúdo destas estórias é adequado para a instrução de nossas crianças? Quais os efeitos sobre a mente de nossos filhos quando são expostos a conteúdos deste tipo?<!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Considerando que a todo efeito corresponde uma causa, este pequeno artigo pretende exatamente verificar quais as causas que levaram os “contos de fadas” (que melhor seriam chamados de contos de horror, pois é o que de fato são) a figurarem como conteúdo pedagógico infantil em nossas escolas. Também refletiremos sobre os possíveis benefícios ou malefícios que estes contos podem causar em nossas crianças.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Contos de fadas ou contos de horror?</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Antes, porém, de questionarmos a validade da utilização dos contos de fadas como método pedagógico, é necessário fazer uma pequena digressão. No âmbito dos estudos sobre a linguagem, estuda-se, além de outras coisas, a relação entre a forma e o conteúdo das palavras, sentenças e enunciados. No caso em particular, gostaria de chamar a atenção para uma inadequação. Se olharmos para a forma da expressão “contos de fadas” muito provavelmente a primeira imagem que se formará em nossas mentes será a de uma estória que contém seres encantados como uma fada (personagem feminina, delicada, exígua e com poderes mágicos utilizados para o bem), alguns animais que falam e uma moral ao término da narrativa. Estas ideias e imagens que vem à nossa mente, quase que intuitivamente, são resultado das significações que nos são transmitidas pela forma da expressão “conto de fadas”. Contudo, se voltarmos o nosso olhar, não para a forma da expressão, mas para o seu conteúdo, perceberemos que nada mais falso poderia emergir de nossas mentes do que estas ideias iniciais ou intuitivas que se formam ao ouvirmos a expressão “contos de fadas”. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Em primeiro lugar, os “contos de fadas” não possuem fadas. O que de fato esses contos possuem são bruxas que sequestram crianças (conto de fadas: “Rapunzel”), assassinos esquartejadores de mulheres (conto de fadas: “Barba Azul”), dentre outras imagens de medo e terror. Ao menos uma boa parte deles, ou os mais famosos que figuram em nossa tradição oral, não possuem sequer uma fada. Aquelas imagens quase angelicais, idílicas, delicadas (seres femininos diminutos com varinhas que produzem estrelinhas pelo ar), que vêm à nossa mente, é produto da forma e não do conteúdo dos “contos de fadas”. O que há de concreto e de real nos “contos de fadas” é o oposto de tudo isso. Os “contos de fadas” são na realidade contos de horror. Bruxas malvadas, animais vorazes, trapaças, mentiras, sequestros de crianças, medo e terror, estes são os elementos mais frequentes destas narrativas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Como se não bastasse, os contos de fadas não param por aí. Os contos também constroem imagens terrivelmente negativas sobre os pais e mães. Nos “contos de fadas” há mães ou madrastas que abandonam os seus filhos em florestas para que eles morram! Belo exemplo! Como se não fosse suficiente transmitir estórias que pregam uma moralidade repugnante e degradante, ainda somos obrigados a submeter os nossos filhos a conteúdos que constroem imagens de pais e mães como sendo figuras cruéis, sórdidas e hediondas. Perguntamos: em que mundo vivemos? É isto mesmo o que devemos ensinar às nossas crianças? </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">É por estas razões que daqui para adiante utilizaremos a expressão contos de fadas (horror), para que não percamos a perspectiva do verdadeiro conteúdo que reza nestas narrativas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">O contexto histórico dos contos de fadas (horror)</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Se fossemos resumir bastante toda a história, poderíamos dizer que os contos, assim como outras espécies de narrativas, são contados desde os tempos imemoriais e começaram quando o ser humano inventou a linguagem. Falando do gênero específico dos contos de fadas (horror), que são hoje utilizados por boa parte da pedagogia infantil, estes tem localização definida no tempo e no espaço. Robert Darnton, especialista em literatura folclórica, nos relata que boa parte dos contos que chegaram até nós foram gerados pela cultura popular francesa do antigo regime, num período que se situa entre os séculos XV e XVIII. Os franceses da idade média inventaram uma instituição, a “Veillée”, que constituía na prática de narração de histórias nas lareiras de suas casas, à noite, quando os homens consertavam suas ferramentas e as mulheres costuravam. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Aqui é importante ressaltar que estes contos, que são classificados pela teoria literária como <i>contos maravilhosos</i>, não possuíam nada de “maravilhoso” ou de “sobrenatural” em suas origens e não provocavam nos camponeses europeus o mesmo efeito de sentido que em nós é produzido. Estas narrativas relatavam a realidade de uma época em que a fome, a peste, a insegurança, o pavor e o terror predominavam na sociedade. A assustadora e amedrontadora personagem da Bruxa, que é capaz de voar e possui uma série de poderes mágicos, era um elemento bastante real na vida dos camponeses europeus dos séculos XV e XVI. A igreja cristã, com a instituição da Inquisição, empreendeu uma “cruzada” contra as “mulheres-bruxas” camponesas deste período, a fim de combater as heresias que ameaçavam sua hegemonia na cristandade. Um número considerável de mulheres foram executadas “em nome de Deus”. Portanto, diferente da leitura que fazemos atualmente destes contos, estas narrativas possuíam um alto grau de realismo para os ouvintes da época em que estes contos foram gestados.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Em 1679, o escritor francês Charles Perrault decidiu registrar estes contos em uma coletânea que denominou de “Os contos da mamãe ganso”. As versões escritas dos contos de Perrault (que posteriormente ganharam um “final feliz” que não existia em suas origens), juntamente com as versões orais dos contos, chegaram à Alemanha através dos franceses huguenotes (protestantes) que fugiam da perseguição religiosa na França de Luís XIV. Por outro lado, os irmãos Grimm, alemães, baseados tanto nas versões orais quanto escritas, também escreveram sua coletânea de contos em 1832. Foram estas as versões (Perrault e Irmãos Grimm), principalmente, que foram registradas nos livros de histórias infantis e chegaram às prateleiras de nossas escolas. Bem, até aqui explicamos de onde vieram as versões dos contos de fadas (horror). Daqui para adiante, discorreremos sobre como essas estórias de horror saíram de uma cultura oral e editorial e foram parar no ensino formal infantil de boa parte de nossas escolas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">A justificativa “teórica” para se ensinar os contos de fadas (horror) para crianças nas escolas</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Tudo começa em 1976, quando um psicólogo vienense chamado Bruno Bettelheim ousou escrever “The Use of Enchantments”, um livro em que se defendia, em linhas gerais, a seguinte tese: os “contos de fada”, por conterem uma narrativa com elementos universais que habitam o interior psíquico e emocional do ser humano, como o medo e o abandono, ao serem contados às crianças, expõem-nas à realidade do mundo, disparam nelas uma reflexão sobre os seus dramas e consequentemente, e quase automaticamente, num processo não explicado, fazem com que elas se tornem adultos equilibrados, com seus conflitos interiores resolvidos. Deste modo, a justificativa teórica para sustentar a utilização dos “contos de fadas” na educação infantil, passa, obrigatoriamente, pela “autoridade” da “teoria” de Bettelheim. O trabalho final foi feito pela Academia que, sem questionar ou criticar a autoridade de Bettelheim, endossou sua pretensa teoria e a recomendou como método de ensino nas escolas infantis.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">O problema que se coloca diante de nós (pais, educadores e pedagogos) é: qual o fundamento científico deste apanhado de ideias tão abstratas para garantir que nossas crianças não estão sendo expostas a conteúdos nocivos e que talvez tenham impactos negativos em seus futuros? Qual é a garantia que nos dá Bettelheim, que sua teoria não gerará prejuízos no desenvolvimento psíquico de nossas crianças? Resposta: nenhuma! E aqui reside todo o perigo ao expor nossas crianças a este tipo de conteúdo. <!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><!-- o ignored --><span style="font-family: Calibri;"></span></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">O que precisa ser discutido é o seguinte: o método científico exige que algumas perguntas sejam respondidas para satisfazer a condição de cientificidade das teorias. Dentre elas, poderíamos elencar algumas como: Bettelheim isolou o seu objeto de estudo (no caso as crianças) para observar os fenômenos sobre os quais descreve? Em outras palavras, Bettelheim acompanhou o comportamento das crianças de 3, 4 ou 5 anos e depois em sua idade adulta, 30 ou 40 anos, para saber se estas mesmas crianças tiveram seus supostos conflitos interiores resolvidos quando atingiram a maturidade? O número de crianças observadas foi em número suficiente para validar a sua teoria? Como Bettelheim, em seu método, conseguiria provar que os conflitos resolvidos não tiveram causa diferente da narração dos contos de horror? Como garantir que todas as crianças responderão aos estímulos da mesma maneira? É importante frisar que estas e muitas outras perguntas que poderiam ser feitas para questionar a cientificidade das ideias de Bettelheim não possuem nenhuma resposta no livro em que Bettelheim expõe a sua “teoria”.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Nossa suspeita é a de que se uma criança de 3 anos ainda não tem nenhum drama, ou poucos, poderá começar a tê-los após ser exposta ao experimento (ouvir estórias dos contos de horror) de Bettelheim. Diante do exposto até aqui, nos parece que estamos diante de um problema, ou melhor, dois. De um lado, há o problema de uma teoria não comprovada, que não se sustenta do ponto de vista científico. De outro, a exposição de nossas crianças ao procedimento experimental desta teoria não comprovada.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">O que talvez seja mais surpreendente de tudo é que Bettelheim, no livro em que expõe sua “teoria” sobre os usos dos contos de fadas (horror) como método pedagógico infantil, em nenhum momento aponte para a possibilidade de estes conteúdos provocarem reações ou interpretações negativas às crianças. É incrível que, em nenhum momento, Bettelheim considere a hipótese de que a exposição sistemática e regular das crianças a um discurso amedrontador, aterrorizante e desmoralizante, em vez de resolver conflitos interiores, possa gerar o medo e perpetuar a insegurança nas crianças. Para Bettelheim, as crianças sempre, incondicionalmente, interpretarão estas narrativas de forma positiva (ainda que esta hipótese contrarie frontalmente as investigações da linguística moderna, que tem demonstrado que a complexidade da linguagem não permite interpretações unívocas e monolíticas dos enunciados).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Se a teoria de Bettelheim tivesse alguma sustentação e considerando que estes contos são narrados (não no ensino formal) há pelo menos 300 anos (desde Perrault e os Irmãos Grimm) para as crianças, então, poderíamos inferir que todas estas gerações (inclusive a nossa), que cresceram ouvindo os contos de fadas (horror), formaram adultos confiantes e bem resolvidos emocionalmente. Perguntamos: isto é uma verdade? A geração de nossos avós, de nossos pais e a nossa própria geração formou adultos confiantes e equilibrados emocionalmente por terem ouvido os contos de fadas? Nada parece mais contrário à razão, para não dizer à ciência.<!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><!-- o ignored --><span style="font-family: Calibri;"></span></span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">O estatuto da mãe/madrasta/mulher nos contos de fadas</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">É importante destacar que a crítica literária que faz Bettelheim, para defender a narrativa dos contos de fadas (horror) como método de educação psíquica das crianças, é uma crítica que atua apenas sob o viés da psicanálise (método criticado intensamente por outras correntes). Deste modo, Bettelheim desconsidera outras linhas de análise como a crítica impressionista, a crítica histórica, sociológica dentre outras. Se analisarmos o estatuto da mulher nos contos de fadas, por exemplo, sob a ótica impressionista, verificaríamos a condição degradante a que a mulher é submetida. No conto João e Maria, conta-se a estória de uma mãe/madrasta que faz uma proposta cruel para o pai: por conta da fome extrema que assolava a família, e para que os pais não tivessem que dividir a escassa comida com as crianças, ela propõe abandonar os dois filhos na floresta para que eles morram. Vale ressaltar que é a mãe que faz esta proposta hedionda e não o pai. O pai ainda resiste inicialmente à proposta por julgá-la muito cruel. Deste modo, se constrói um estereótipo da mãe/madrasta/mulher extremamente negativo. Por outro lado, se analisarmos o estereótipo da Bruxa, que é recorrente nestas narrativas, verificaremos que a imagem que é construída é sempre de uma mulher má e que pratica as maiores atrocidades contra as crianças. Não há um homem bruxo. A personagem má, com poderes sobrenaturais, que se apresenta dominantemente nos contos de fadas, é a imagem de uma mulher. Segundo Maria Tatar, autoridade em estudos sobre literatura infantil, as mães e madrastas que aparecem nos contos de fadas são sempre punidas com maior rigor que os pais. Enfim, são estas e outras sutilezas que passam despercebidas pela análise de Bettelheim. Em nenhum momento, o psicólogo-psicanalista vienense levanta a seguinte hipótese: a construção negativa da imagem da mãe/madrasta/mulher nos contos de fadas (horror) pode eventualmente criar na psique infantil noções negativas sobre suas mães e desenvolver contra elas algum tipo de hostilidade ou rejeição?</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<b><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Conclusão</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Atualmente, boa parte de nossas escolas adota a narrativa dos contos de fadas como “método” de ensino e educação psíquica de nossas crianças. O que este artigo pretendeu demonstrar é que este “método” ou “teoria” não se sustenta sob o ponto de vista científico e que, portanto, é matéria perigosa quando utilizada na pedagogia infantil como se fosse um axioma ou uma verdade inamovível. É perigosa, pois pode gerar o efeito de sentido contrário ao que se propõe: formar crianças com medos, pavores e noções que lhes foram inoculados artificialmente, desestabilizando o seu desenvolvimento emocional. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Outra questão relevante também deve ser considerada. Uma coisa é se contar estas estórias num ambiente não institucionalizado, em que as pessoas são livres para fazer suas escolhas pessoais. Outra é obrigar as crianças a ouvirem estas estórias nas escolas, no ensino formal da educação infantil. Perguntamos: Onde está o direito das crianças de decidirem por não serem submetidas a este procedimento? E mais, onde fica o direito dos pais (que não mais veem sentido em contar estórias amedrontadoras e assustadoras para seus filhos) de optarem por eleger outras opções de literatura infantil que fazem mais sentido para o nosso tempo e contexto históricos?</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Que as crianças não saibam ainda produzir todas as sutilezas de raciocínio como as de Bettelheim, é compreensível. Por outro lado, entendemos que é imperativo que nós adultos (pais, educadores e pedagogos) façamos a reflexão, a crítica e utilizemos a razão para saber discernir sobre todas essas absurdidades produzidas pela mente de Bettelheim. Defender os contos de fadas como instrumento de pedagogia da educação infantil é perder o poder de reflexão sobre as referências e os limites que devem nortear o nosso mundo.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Na Pedagogia do Horror, o medo, os vícios e terror devem ser ensinados às nossas crianças, contudo, elas não precisam de mais medos e horrores, pois já os há em abundância em nosso mundo. O que nossas crianças precisam é de virtudes. Para que elas cresçam seguras de si, precisamos antes mostrar-lhes que existe um mundo melhor do que o mundo tenebroso dos contos de fadas. Não faz sentido querer formar indivíduos equilibrados e seguros por meio da transmissão de noções de insegurança. Precisamos antes fortalecê-las para que adquiram condições e estrutura para enfrentar as realidades do nosso mundo. E não parece nada razoável utilizar o método de amedrontar para fortalecer. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Se pretendemos formar indivíduos saudáveis, emocionalmente, poderíamos começar transmitindo às nossas crianças segurança, atenção, compreensão, amor, senso de pertencimento, senso de inclusão, enfim, precisamos mostrar a elas que em nós, pais e educadores, existe um porto seguro em torno do qual elas podem construir suas redes de sentidos. Se conseguirmos isto, o que não é pouco, certamente lançaremos as bases para a formação de adultos confiantes e preparados para viver a realidade do mundo que nos cerca.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">* O autor é bacharel em Letras pelo Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo (USP) e mestre pelo Departamento de Filologia e Língua Portuguesa da USP.<!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify; text-indent: -5.65pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 16.2pt; text-align: justify; text-indent: -5.65pt;">
<a href="https://bay168.mail.live.com/ol/#sdendnote1anc" target="_blank"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-bookmark: sdendnote1sym;"><span style="color: #0072c6; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri; text-decoration: none; text-underline: none;">i</span></span><span style="mso-bookmark: sdendnote1sym;"></span></span></a><span style="mso-bookmark: sdendnote1sym;"></span><span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;"> <i>Pretendessem elas divertir os adultos ou assustar as crianças, como no caso de contos de advertência, como Chapeuzinho Vermelho, as histórias pertenciam a um fundo de cultura popular, que os camponeses foram acumulando através dos séculos, com perdas notavelmente pequenas</i>. (Darnton 2011:31-32)<!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 16.2pt;">
<a href="https://www.blogger.com/null" name="sdendnote2sym"></a><a href="https://bay168.mail.live.com/ol/#sdendnote2anc" target="_blank"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-bookmark: sdendnote2sym;"><span style="color: #0072c6; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri; text-decoration: none; text-underline: none;">ii</span></span><span style="mso-bookmark: sdendnote2sym;"></span></span></a><span style="mso-bookmark: sdendnote2sym;"></span><span style="font-family: Calibri;"><span style="color: black; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"> </span><span style="color: black; font-size: 10pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;">Cf.</span><span style="color: black; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"> </span><span style="color: black; font-size: 10pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;">Tatar (1992:11).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 16.2pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><b><span style="color: black; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;">Referências Bibliográficas:</span></b><span style="color: black; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 16.2pt;">
<span style="color: black; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Bettelheim, Bruno. The Uses of Enchantment: The Meaning and Importance of Fairy Tales, 2010.<!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 16.2pt;">
<span style="color: black; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Darnton, Robert. O Massacre dos gatos e outros episódios da história cultural francesa, 2011.<!-- o ignored --></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 16.2pt;">
<span style="color: black; font-size: 11.5pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Calibri;"><span style="font-family: Calibri;">Tatar, Maria. Off with their heads: Fairy Tales and the culture of childhood. Princeton University Press, 1992.<!-- o ignored --></span></span></div>
Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4933422052141330228.post-84695417837029669122014-05-29T09:34:00.001-03:002014-05-29T09:34:30.829-03:00Música brasileira<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Aqui, fazemos um trato: não mais mudaremos nomes e
definições das coisas, com a facilidade que se dá apelidos ou se cria uma nova
palavra. Aliás, muito mais fácil e honesto seria criar mesmo uma nova palavra
para algo novo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Hoje, nostálgico, coloquei como trilha sonora de meu
trabalho músicas da Clara Nunes. Sons de qualidade são assim. Não conhecia
quase nada de sua discografia e a primeira vez que ouvi, achei excelente (e
olhe que meu estilo predileto é rock!). Uma paciente entrou e quando me
preparava para atendê-la, cantarolou a música que ouvia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">- Conhece Clara Nunes, Andrea? – perguntei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">- Nossa, adoro samba! Na realidade o de verdade, o
samba raiz. Porque hoje, qualquer pagodinho que tocam na esquina, chamam de
samba... <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>– respondeu com pesar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Realmente, escutar Clara Nunes, Cartola e Adoniran Barbosa
(e nem entramos no quesito “qualidade”) e o gênero chamado samba atualmente é
um contraste muito grande. Assim como deveriam ter dado outro nome para
designar o som criado no Rio de Janeiro, que nada tem de próximo com o estilo
eternizado por James Brown e cantores da Motown nos anos 70.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Concordei por entender e vivenciar isso em outros
estilos. Viajamos pelo sertão e lá aprendemos a admirar profundamente Luiz
Gonzaga. Ver jovens de hoje, que do Rei do Baião conhecem apenas “Asa Branca”,
chamando de forró o que escutam de "Calcinha Preta" ou "Moleka 100 Vergonha" (nada
contra as bandas e sim contra a mesma nomenclatura para um estilo completamente
diferente do que foi criado) é no mínimo estranho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um amigo, profundo admirador da cultura indiana, em suas
andanças pela Índia, ao conversar sobre a cultura daquele país com os próprios
músicos nativos, observava que estes se espantavam quando discorria sobre a
ligação espiritual e história musical do local. “O brasileiro sabe mais sobre
nossa história do que nós mesmos!”, falavam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">É parecido com isso o que ouvimos de muitos amigos do sertão, mais
novos, quando discorremos sobre Gonzagão, Dominguinhos e seus seguidores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Trato feito!<o:p></o:p></span></div>
Wolber Camposhttp://www.blogger.com/profile/00620726602488540661noreply@blogger.com0