quinta-feira, 23 de julho de 2009

A comunicação

Na equipe do Instituto em que viajamos está o Vitor Pinduca, cinegrafista que faz a parte da inclusão digital e oficina de Rádio e TV do projeto.
Antes de chegarmos na próxima cidade - Marari, no Pernambuco - ele comentava com Érik (parceiro de viagem) sobre o trabalho que estava fazendo no mestrado. Era algo como a comunicação verbal. Há muitas comunidades do interior do Brasil onde as notícias chegam por vias diferentes. Não há muito acesso ao jornal e notícias locais chegam às vezes por um comerciante que veio da cidade vizinha, de um caminhoneiro que passou por uma ponte quebrada, essas coisas.
Demoramos para chegar na pequena comunidade, o caminho era difícil e nos perdemos algumas vezes. Perto das 22h paramos em uma praça onde um som tocava alto e um grande número de jovens tomavam seus "drinks" encostados nos carros ou bancos espalhados por ali.
Paramos a caminhonete - toda adesivada, bem colorida e com fotos - e perguntamos a um rapaz onde ficava a comunidade que estávamos procurando.
- O que? Nossa, que carrão bacana! Oceis são da onde? Por um acaso são do caminhão do Gugu, é?? - nos disparou o jovem antes até mesmo de acabar de ouvir nossa pergunta.
Rimos. O Luis, que estava ao volante, resolveu entrar na brincadeira (que para o jovem não era) e disse que sim, estávamos levando o caminhão para o Dequinha, que nos esperava lá.
Rapidamente o rapaz juntou seus amigos em volta do carro e virou a maior festa. Luis disse que era brincadeira, contou quem éramos de verdade e que precisávamos chegar lá rapidamente. Eles, sempre desconfiando que éramos realmente a equipe do Gugu, disseram que nos guiariam de moto até o local. Perfeito para nós que estávamos cansados àquela altura da noite.
Próximo ao nosso destino o caminhão precisou fazer uma volta maior e os rapazes foram embora, visto que demoraríamos mais um pouco. Agradecemos muito e nos despedimos. Rapaziada nota 10.
Depois da espera o caminhão nos alcançou e chegamos à pequena comunidade. Já era tarde e quase todas as casas estavam fechadas. Um silêncio só.
De repente, no escuro que seguia à nossa frente vimos um vulto, um grande vulto, vindo no meio da rua, em nossa direção. Era uma moça, bem gordinha - bem mesmo - e uma amiga, ambas chapadíssimas e enquanto se aproximavam a ouvimos gritando e gesticulando excessivamente.
Naquele clima de interior, quase meia noite, tudo fechado, era algo um tanto bizarro de acreditar, mas a gordinha, gritando, começou a bater as mãos no capô da caminhonete e, ao pararmos, se aproximou da janela do passageiro, onde o Vitor estava sentado. Só ali conseguimos entender o que dizia:
- Vocês são do Gugu!!! Eu sei, eu sei! Cadê ele?? Moço, eu sou a maior fã do Gugu - não duvidávamos disso...- eu preciso ver ele. Cadê? Eu vou com vocês!!
Abriu a porta e com uma mão - sem exagero! - tirou o pobre e surpreso Vitor de dentro do carro, se jogando ali em seguida.
Eu, no banco de trás, não sabia se gargalhava ou se chorava de medo. Mas na dúvida, dei muita risada.
Foi uma bagunça daquelas, nos seguiu até a praça aos gritos, acordando a todos na cidade, subindo na escada que leva ao teto da nossa van, no quadriciclo que a caminhonete puxava. Quase se jogou dentro do carro.
No dia seguinte muitas pessoas da cidade vieram nos pedir desculpas pela inusitada recepção (mal sabendo o quanto nós havíamos nos divertido). E entre os amigos Vitor não acreditava que poderia ter dado um exemplo melhor e mais rápido ao Érik sobre sua tese de mestrado.