quinta-feira, 10 de março de 2011

Doutora brasileira: animais silvestres

A lancha seguia à frente do navio da Marinha brasileira. Estavam no rio Xingu, no estado do Pará, e navegavam rumo a uma comunidade que necessitava de atendimentos médicos.
Saíram para um afluente menor, adentrando ainda mais para o interior do estado. Naquela região, não há muita floresta acompanhando as margens do rio. O Pará é muito mais desmatado do que o Amazonas e poucas árvores ficam nas proximidades.
O grande navio aguardava onde o afluente desaguava no rio Xingu, era necessário ver se a profundidade era suficiente para uma grande embarcação. O sinal foi dado e a enorme embarcação pode navegar com sua calma peculiar.
A lancha seguia, agora rapidamente, e mais à frente observaram algo estranho: três pequenas embarcações, emparelhadas, próximo à margem direita. Era algo estranho. A lancha diminuiu a "marcha". Ao se aproximarem das embarcações viram do que se tratava. Homens passavam de um barco a outro gaiolas, repletas de animais silvestres. Ali, em sua frente, estava escancarado o tráfico de animais da fauna amazônica brasileira.
Quando perceberam que a lancha que se aproximava era da Marinha, como se fosse combinado, todos os homens pararam, gaiolas suspensas, feito estátuas. Movimentavam apenas os olhos, que acompanhavam a lancha que passava, vagarosamente; exalando o medo de serem pegos em flagrante.
O grande navio veio em seguida. O comandante deveria decidir, agir, ou comunicar o fato. Aquele era um navio médico, com pouquíssimo armamento, militares, em sua maioria, formados por médicos, dentistas e profissionais da saúde. Havia a chance de um conflito, e traficantes desse porte, geralmente, estão sempre armados.
Pelo rádio, o comandando comunicou à Polícia Federal, dando todas as coordenadas do local e a cena que estavam presenciando. Não poderia colocar em risco toda uma equipe e uma embarcação médica.
O tráfico de animais silvestres é o terceiro maior comércio ilegal do mundo, perde apenas para o tráfico de drogas e o de armas. Estima-se que a cada dez animais capturados, apenas um chega vivo ao destino. A crueldade desses criminosos chega ao ponto de furarem os olhos de aves para que não cantem ao ver a luz do sol, denunciando seu cativeiro, ou mesmo de anestesiar todos para chegarem silenciosos aos consumidores, que acabam compactuando com essa crueldade. Tão grave quanto comprar um aparelho de som roubado.
A doutora seguiu para a comunidade. Durante todo o dia de atendimento, aquela imagem não saía de sua cabeça. Sabia que aquilo existia, já tinha ouvido muito sobre isso, mas ver, com seus próprios olhos, era muito diferente.
Não sabia se a PF conseguiu chegar ao local. Não sabia como acalmar seu apertado coração que não conseguia esquecer aquela cena. Ainda hoje não sabe.