quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Empatia: uma viagem de paulistas ao Maranhão

Era uma aluna do ensino médio de uma escola particular de São Paulo. Com seus 16 anos esperava empolgada durante meses para uma viagem que mudaria sua vida.
- Vamos para o Maranhão para um intercâmbio, realizar um projeto social! - comentava aos familiares com todo orgulho que seu jovem e bondoso coração deixava transbordar.
A imagem que formava em sua mente sobre a carência local e a chance de ajudar os jovens de lá a enchia de compaixão e idealismo. E nessa atmosfera inebriante embarcou para a outra ponta de seu país.
O primeiro dia surgiu, belo e brilhante como costumam nascer os dias no nordeste brasileiro. A chegada à escola, onde trabalharia ao lado de seus amigos ministrando oficinas diversas (dança, pinturas de rosto, esporte, ciências, bijuterias, entre outras) aos alunos locais, apresentou a primeira surpresa: aqueles garotos eram diferentes do que poderia imaginar. Não apresentavam a carência entristecedora, aparência frágil ou tristeza alguma. Muito pelo contrário, o sorriso fácil, o alto astral, a alegria que a alma exalava os fazia vibrar na mesma sintonia que sua turma.
- De repente percebi que não cabia olhar aquelas crianças - que tinham tão pouco em relação ao que temos - com dó, mas sim com empatia, vendo como temos coisas em comum! Somos todos seres humanos, brasileiros, com muito mais em comum do que diferenças. - Confidenciou a um dos amigos que coordenava o projeto.
Realmente, aquela experiência, tão longe de casa, revirava sua visão interna de Brasil, de mundo. Mesmo a de todos seus amigos. Em uma turma onde normalmente há uma certa hierarquia entre alunos do primeiro, segundo e terceiro ano, aquela atmosfera colocava a todos numa horizontalidade que desnudava qualquer conceito ou pré-conceito.
Ali, no último dia de trabalho num pátio de escola do interior do Maranhão, viu os amigos brincarem com uma bola de vôlei em uma imensa roda com os alunos locais e os coordenadores da equipe. Todos unidos, sem diferenças de classe social, localidades ou idade. A alegria vibrava em cada um naquele pátio numa sintonia que estava muito, mas muito além de qualquer conceito. Formavam uma grande família.
Por um instante seu espírito vislumbrou um pouco do sentido da vida e uma lágrima escorreu de seus olhos abençoando aquele momento.