segunda-feira, 18 de julho de 2011

A feira

"Olha a maçã, freguesa!! Leva que tá docinha, tá gostosa!". "Olha o peixe, tá fresquinho, tá barato!". "Abacaxi, é dois por 5, pra levar, moça!"...
Andar por uma feira livre é mergulhar em meio à cultura atual de nosso povo. Os feirantes gritam, gritam alto. Mudam tom de voz, chamam os fregueses, brincam com as pessoas. Tudo para chamar a atenção aos seus produtos, para vender mais, se divertindo enquanto trabalham.
Ir a uma feira é testar todos os seus sentidos, cada barrraca exala seus cheiros, frutas, verduras, temperos. E o que dizer da combinação - tão famosa quanto o arroz e feijão - entre pastel e caldo de cana?
Vou a feiras desde que me conheço por gente e todas trazem a mesma magia, como a vontade de comer um pastel quando ouço um feirante gritar e anunciar seus produtos.
Em um bairro de classe alta de São Paulo, alguns moradores passaram a se incomodar com o barulho em frente suas casas. De reclamação entre os vizinhos, foi formado um grupo que entrou na justiça para que os feirantes parassem de gritar e prejudicar a tranquilidade de seus lares. Ganharam a causa.
Nas feiras seguintes, todos respeitaram a decisão da lei, vendiam seus produtos em silêncio. O local ficou mais silencioso do que o trânsito que habitava aquela rua nos outros dias. Porém algo estava errado. Uma feira sem gritos? Sem coros, frases musicadas e rimadas dos seus vendedores?
Os próprios consumidores acabaram achando aquilo muito estranho. Pessoas diziam que aquela não parecia ser uma feira de verdade. Numa consequência inesperada o movimento caiu e as vendas despencaram. Os feirantes, se uniram, entraram na justiça para poder voltar a gritar. Ganharam.
Na semana seguinte ao resultado, voltaram a entoar seus cantos, suas rimas, seus gritos. Devolvendo à sua querida feira toda cultura, toda alegria e toda vida que haviam lhe tirado.