terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Uma cena da grande cidade

Ele está lá todos os dias, na mesma esquina movimentada. Os carros que passam em torno das 7 horas da manhã podem vê-lo, algumas vezes deitado na calçada, outras sentado, mas, normalmente, está em pé, olhando fixo para os motoristas dentro de seus carros caros de vidros fechados.
Como não entendê-los, em uma cidade como São Paulo, onde a violência pode esperar em qualquer farol com uma arma apontada para sua cabeça?
Como não entendê-lo, sabendo de todo o básico que lhe é privado e ainda receber preconceito por sua condição e sua cor?
Cor. Quando começamos a separar o ser humano por cores? Talvez mesmo antes de separarmos por condição social. Talvez mesmo antes do "social" ter que ser usado como palavra para regimentar um grupo de pessoas. Que importa? Importa o abismo que vai se criando entre um e outros.
Talvez por isso ele venha se tornando pouco mais agressivo a cada dia. Não no sentido violento, mas em olhar, encarar. Algumas vezes, quando o sinal fecha, anda até a frente de um carro e olha bravo, diretamente nos olhos do motorista.
Um deles olhou calmo para ele, sustentando o olhar. Certo, errado? Desviar o olhar mostraria medo? Manter o olhar mostraria enfrentamento e uma possível agressão? Não sabia. O farol abriu e foi embora.
A roupa sempre suja e surrada. Jeito de quem desistiu de tentar, qualquer coisa. A culpa foi sua, foi da sociedade, de alguém? Quem sabe?
E todos os outros carros o veem, sabem dele. E quando o farol abre vão embora. Sempre.
E ele continua lá. Todos os dias.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Crianças do sertão

Toda vez que atendo uma criança que dá muito trabalho no consultório me lembro, automaticamente, das criancinhas do sertão.
A carência de atendimento que existe por lá - e também a criação sem cuidados excessivos como temos nas grandes cidades - as deixa com uma serenidade impressionante.
É como se em seus olhos eu pudesse ler "Estou com medo, mas sei o quanto é difícil receber um tratamento para essa dor que incomoda há tempos. Pode ir".
Esta semana, quando um garotinho de 6 anos chorou muito para ser atendido, me lembrei da garotinha, da mesma idade, que atendi em Quatipuru Mirim, comunidade de pescadores no Pará. Atendimento odontológico para aquelas pessoas consegue ser mais difícil do que continuar os estudos após o quarto ano.
Ela se sentou quietinha e percebi que estava com medo. Ao examiná-la entendi: restos de um dente destruído em uma gengiva inflamada. Quanta dor havia sentido?
Expliquei o que iria fazer e contei a minha mentira sobre a anestesia (iria apenas "espirrar" uma "aguinha" que faria adormecer o dente) e pedi para que fechasse os olhos, para não espirrar nada que pudesse ardê-los. Ela apertava tanto os olhinhos que estes quase se abriam novamente. Já estava com a seringa próximo à sua boca, quando ela levantou a mão pedindo para falar.
Escondi o anestésico rapidamente para ela não o ver e disse que podia falar, imaginando que diria que não queria a "aguinha".
- Eu posso fechar meus olhos com minhas mãos, tio? - disse, colocando as duas mãos, uma sobre cada olhinho tenso a minha frente.
Anestesiei por completo, ela nem se mexeu. Foi a anestesia mais emocionante da minha vida.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Biodigestor

Foi assim: assistindo a um programa de TV que lhe veio a idéia. "Vou construir um desses!", pensou com convicção. Com a ajuda da igreja de sua comunidade conseguiu o investimento necessário para a obra.
A cada dificuldade que encontrava, Alderi com sua inteligência nata, ia testando e descobrindo a solução para o funcionamento perfeito da estrutura. O resultado foi tão positivo, que hoje recebe a visita outras pessoas, de várias cidades do Brasil, que tentaram produzir um biodigestor e não conseguiram.
A idéia é simples: o esterco de gado libera gás metano para o meio ambiente (contribuindo para o aumento do efeito estufa). O aprisionando, podemos usá-lo como gás natural na cozinha, gerando economia financeira e melhorando a qualidade do ar do meio ambiente. Além de melhorar a qualidade de vida dos animais, livres do esterco em seu pasto, que atrai moscas, carrapatos e doenças.
O projeto é tão importante que, colocando-se um medidor para quantificar o metano produzido, pode-se conseguir o crédito carbono, vendido para países que ultrapassarem a cota máxima de produção de gases do efeito estufa (GEE).
Esta semana recebi um e-mail de Alderi, feliz por estar construindo mais três biodigestores em sua comunidade. O Instituto Brasil Solidário financiará outros dois nos próximos meses.
Um exemplo de como a força de vontade de uma única pessoa pode melhorar a vida de muitos e ainda deixar nosso planeta um local melhor de se viver. O vídeo abaixo foi gravado no começo deste ano e mostra o primeiro aparelho construído por nosso amigo pernambucano.
Hoje já possui um blog onde ensina como construir um biodigestor, num sonho de ver muitas famílias carentes independentes da compra do gás ou da queima diária de lenha. Num sonho de ver um mundo melhor.
Um brasileiro que merece nossa admiração e respeito.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O referencial

Tudo depende do referencial. Nunca podemos nos esquecer disso. Histórias, ouvidas de cada um dos lados, podem dar a certeza de razão para um ou outro. Já ouvi uma amiga reclamando do ex-namorado, que a enrolou por meses, esperando que ela tomasse a iniciativa de terminar.
- Covarde! Porque não foi homem o bastante para chegar e dizer "não dá mais, vamos terminar. Conheci outra pessoa". É simples! - dizia.
Um amigo, depois de meses em um relacionamento que já não vinha bem, conversou com sua namorada e disse que o namoro não estava mais bacana, que seria melhor para os dois terminar e seguirem sua vida. Virou o crápula para a ex e todas as amigas.
Todos nós já tivemos um carro vagaroso na frente, atrapalhando o trânsito e já tivemos também um chato, impaciente, querendo nos ultrapassar de qualquer jeito.
João vinha subindo a serra, voltando do litoral. O trânsito não estava pesado, mas uma kombi subia vagarosamente, o que o fez diminuir muito a velocidade. Como o trecho era de muitas curvas, pacientemente aguardou o momento para ultrapassar, ficando bem próximo para não perder tempo nas poucas oportunidades que teria. Demorou, mas em um espaço de visualização um pouco maior da pista, acelerou bastante e ultrapassou o idoso carro que estava a sua frente. Respirou aliviado, por pouco tempo, pois em seguida um guarda fazia sinal para que parasse e recebesse uma multa por ultrapassar em lugar perigoso.
Segundos depois, vagarosa, passou a kombi ao seu lado, quis não olhar, pois imaginaria que até o para-choque estaria rindo.
Pode-se imaginar a festa que estava dentro do carro. Risadas e comemorações pela "justiça" feita contra o chato que os provocava no carro de trás. João ouvia, não com os ouvidos, mas com a alma, um ruidoso "chuuuuuuuupa!!" subindo vagarosamente a serra de São Paulo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A colheita

Já não era a primeira vez que aquele homem, entre seus 50 anos de idade, demonstrava mal humor ao entregar o papel da guarita do supermercado.
Em outras ocasiões eu havia ficado com aquela expressão de tolo, de quem cumprimenta com um sorriso e recebe uma resposta "atravessada" em resposta.
Neste dia seria diferente. Como se quisesse devolver aquilo que o homem plantou durante as poucas vezes em que tive contato com ele, numa atitude que não me orgulho, como se fosse a vida que quisesse ensinar o "colhemos o que plantamos", decidi não mais sorrir ao cumprimentá-lo. Mais ainda, decidi incorporar a expressão de homens arrogantes que acham que outros são inferiores; baixei o vidro, olhei com cara de bravo e poucos amigos e não disse bom dia, simplesmente estendi a mão para pegar o papel de estacionamento, como se achasse a pior coisa do mundo precisar pegar algo daquele cidadão.
Para minha surpresa o homem me recebeu com uma expressão mais amena, dando um bom dia submisso e sorrindo.
Mundo estranho este em que vivemos. Há pessoas que não dão valor quando são bem tratadas e se desvelam em respeito e cuidado com os que "pisam" nelas. Como se respeitassem apenas os mais poderosos, porque precisam. Como se respeito fosse preciso apenas para quem se teme, não como algo merecido a todos os seres humanos.
Educação, simpatia e respeito deveria ser a regra. Deveria.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O super-herói

Quando falamos em super-heróis, pensamos em uma entidade, de uniforme, sua vontade imensurável de melhorar o mundo e caráter inalterável. Eu definiria um herói de outra maneira, com atitudes positivas, bondade no coração aliada à ação, para tornar o mundo melhor.
Porém, meses atrás, conheci um, nos moldes originais, inclusive nos uniformes que usa para evidenciar sua luta pelo bem.
Alguns podem não entender, outros julgar sem perceber a real pureza das ações e idéias deste benfeitor. A humanidade tem seus devaneios. Muitos vivem dizendo que Jesus Cristo vai voltar e que este tempo está prestes a acontecer. Se Ele nascer novamente entre nós, como da primeira vez, não escolheria um berço de ouro, e sua mãe daria a luz em um simples casebre, uma favela. Quando um homem muito pobre, viesse dar seu testemunho de ser o Cristo, provavelmente seria ridicularizado e perseguido por todos das igrejas que hoje o clamam. Assim como a história mostrou lá atrás.
Sendo assim, como querer que todos possam enxergar um super-herói.
Mas ele está lá, firme em sua luta, na cidade de Palmeiras, interior da Bahia. Índio Gladiador - "gladiador do meio ambiente!", ele completa - é um brasileiro que tem no sangue a vocação de cuidar do planeta. Daquelas pessoas que vendo um lixo esparramado sobre um terreno não reclama ou perde sua calma, segue até o local e pacientemente recolhe todo o entulho, mostrando aos que estão em volta que a melhor lição é fazer a sua parte.
Não vive só de ações silenciosas, educa a todos que pode, ensina as crianças sobre o perigo do lixo para toda a humanidade e incentiva a todos para a reciclagem dos materiais. Assim, de sua própria ação, criou vários tambores de coleta seletiva e espalhou pela cidade. Com grande parte do material constrói utensílios ou artesanatos, os quais vende para se sustentar. O restante leva para o GAP (Grupo Ambiental de Palmeiras), que fazendo uma comparação com a história em quadrinhos seria a Liga da Justiça, onde trabalham outras pessoas de bem, como Joás, mais um herói de nosso país.
Ele mesmo constrói suas armaduras, com latas, pedaços de garrafa pet, tampinhas de plástico, anéis de metal. E anda praticamente o tempo todo uniformizado, para chamar atenção para o problema do lixo e a importância da reciclagem.
Incrível como a vida imita a ficção, pois nosso amigo encontra até vilões pela frente:
- Outro dia eu estava recolhendo lixo na beira de um córrego e um homem disse que eu era louco de ficar fazendo aquilo. Eu disse que queria deixar o mundo um lugar melhor, ele saiu e voltou com um montão de lixo e jogou ali perto. - disse e com uma paz inalterável comentou que pacientemente juntou todo o lixo que o rapaz jogou mais algumas vezes, até que mostrasse que a sua vontade de fazer o bem era superior a do outro de fazer o mal.
Assim ele segue sua luta. Dia a dia buscando molhorar o planeta em que vive para que os pequeninos tenham um lugar mehor para viver no futuro.
Índio, eu acreditava em heróis. Depois de te conhecer, passei a acreditar em super-heróis!

Foto: Luis Salvatore

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Nem um metro

Eu estava atendendo sua filha, quando ela me perguntou:
- A última vez que vocês vieram aqui foi em outubro do ano na passado, não foi? - concordei e ela continuou - Eu não pude trazer a minha filha porque quase morri! - disse séria.
Perguntei o motivo e ela contou sua história. Mora perto da escola, em Tamboril, sertão do Ceará, mas costuma acompanhar o marido na roça, onde ele trabalha com plantação. Andando pela trilha, não percebeu a grande cobra cascavel que estava no caminho. Pisou no perigoso animal que no reflexo a atacou.
- Foi tão rápido que nem deu para ouvir o guizo da bicha. As vezes andando a gente ouve ela avisando e desvia, mas acho que nem ela tinha me visto.
Não era a hora de Josefa morrer, alguns fatores a ajudaram.
- Primeiro eu dei sorte que ela não mordeu em cheio, acertou meu dedo do pé, mas só com um dente. Depois, ela tinha acabado de matar um rato do mato, soltado a maior parte do veneno nele. E por último, que minha filha estava perto e correu pra me acudir. - completou.
E foi muita sorte mesmo. Alguns segundos após o susto da picada, sua vista começou a escurecer. A filha correu em sua direção enquanto se apoiava no mato rasteiro ao lado da trilha, matou a cobra e a levou rápido para o socorro.
Pela gravidade do caso, mesmo sendo uma pequena cidade, foi resgatada de helicóptero para a capital, onde ficou internada por uma semana.
Na mesma viagem, duas cidades a frente, em Primavera, no Pará, terminei tarde o trabalho. Só restava na escola eu, Manolo - grande amigo que me ajuda na área da saúde - e o vigia da escola. Havia sido um dia cansativo. Fui até o escovódromo e joguei água no meu rosto, como para recobrar as energias, me espreguicei, e fui à frente da escola, ligar para casa. Ao voltar para me despedir o segurança disse:
- Olha, acabei de matar uma urutu ali atrás das torneiras. - disse com a normalidade de quem diz que  comeu uma tapioca.
Urutu é uma cobra bem venenosa e me preocupei por ser dentro da escola, onde há centenas de crianças durante o dia. Ele a havia matado onde eu havia acabado de lavar o rosto.
- Mas era pequenininha, não tinha nem um metro.
Lembrei da história da senhora de Tamboril. "Não tinha nem um metro", era o que eu precisava ouvir para ficar bem tranquilo...

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Caridade

Muitas pessoas chegam a mim e comentam a vontade de ir ao sertão, ajudar as pessoas, fazer caridade. É, realmente, uma experiência singular e recomendo a quantos possam ir um dia ao menos, que embarquem nessa idéia. Porém, a caridade verdadeira não é encontrada somente lá.
Já vi pessoas, nesses anos de trabalho, que viajaram dias ao nosso lado, se emocionaram, conheceram, viveram. Mas de tudo, aproveitaram o superficial, uma experiência fantástica, mas só isso. Tenho amigos em São Paulo, que quase nunca saíram daqui, e são de um amor ao próximo de se emocionar, que exercitam a caridade a todo momento.
Para falar a verdade, uma cidade grande é um prato cheio para exercitar essa virtude, e em sua forma mais pura, pois na magia do sertão, em meio a pessoas boas, carentes, é mais fácil. Difícil é ser caridoso imerso nas preocupações do cotidiano, num caos social, em meio à bagunça sob o medo da violência.
Mas atitudes simples nos tornam uma pessoa melhor. Poucos lugares oferecem mais possibilidades de fazer uma caridade como o trânsito. Tentei, mas perdi a conta de quantas pessoas pediram passagem no trajeto ao meu trabalho. Quantas vezes ajudamos e damos passagem? E nem digo que devemos deixar todos que dão seta a entrar em nossa frente, pois no trânsito de São Paulo fazer isso é quase ficar parado e não pensar na pessoa que está atrás de você. Digo ajudar algumas pessoas a saírem de situações difíceis no trânsito, quando a verdade é que há uma grande competição, como se motoristas fossem adversários.
Quantos pedintes sofridos que vemos pela rua, nos pedindo dinheiro. Caridade não é dar uma moeda, mas um cumprimento com vontade, carinho, mostrar que você se importa com ele (a), quando a maioria das vezes, ele (a) acha que ninguém se importa. Isso, por si só, pode liberar uma alegria nesta pessoa, um bem estar tão positivo ao seu coração, que nenhuma nota conseguiria.
Pra mim, fazer caridade é dar descarga naquele vaso imundo de um banheiro público, pensando que a próxima pessoa que o usará não terá aquela visão horrível que você viu.
A caridade verdadeira não está lá no sertão, porque está dentro de cada um. Pode-se ir até lá e voltar do mesmo modo que foi, pode-se viver em São Paulo e ser uma pessoa melhor. A cada dia.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Brasil, BRICs e populismo


Há mais de oito anos viajamos pelo sertão do Brasil. Desde as cidades mais estruturadas até as localidades mais isoladas onde dormimos em casa de moradores que não possuem banheiros. Já ouvi algumas historias sobre fome e miséria, assim como a seca que ainda hoje dificulta a vida de muitos brasileiros. Eu mesmo, em tanto tempo visitando locais diversos, nunca presenciei uma cena trágica dessas, apesar de saber que elas existem, assim como a miséria debaixo das pontes e nas grandes periferias dos grandes centros urbanos.
Porém já vi muitas historias de comerciantes que não conseguem registrar seus funcionários, pois assim eles deixariam de ganhar o Bolsa Família. Pessoas que me contam fatos sobre meninas que engravidam para ganhar o auxílio maternidade. 
Em uma palestra no início do ano, Jim O'Neill - economista chefe do banco de investimento Goldman Sachs -, que criou o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) designando as futuras potências econômicas do planeta, disse que, infelizmente, em pouco tempo o famoso grupo tem grande chance de ser apenas RIC. O Brasil poderá sair desta projeção pois, de todos os integrantes, é o único que não investe pesado em infra-estrutura e educação, dando prioridade a políticas populistas e investindo grande volume financeiro em ações de curto prazo, como ajuda financeira para empresas ou baixando impostos para vender mais carros, por exemplo. 
Hoje não temos desculpas para usar políticas como o bolsa-família. Investir dinheiro público com intuito de ganhar votos na próxima eleição é um atentado contra o próprio povo! Estamos perdendo a oportunidade de lançar o Brasil na onda de desenvolvimento e torná-lo um dos fortes países das próximas décadas.
Até quando o país será regido por homens que pensam apenas no que fazer para estar no poder daqui a quatro anos, e não no que fazer para sermos um país melhor daqui a dez?
Como cantava Luiz Gonzaga nos anos cinquenta, em meio a uma seca que castigava o sertão e gerava uma miséria digna de auxílio. Agradecia o auxílio de roupas e dinheiro para os sertanejos, mas pedia aos políticos para investirem na infra-estrutura, em empregos:

"... mas doutor uma esmola a um homem que é são
      ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão".

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Um profissional exemplar (por Carlos Fonseca)

Certa vez me fiz uma pergunta, e que talvez já tenha sido feita por muitas pessoas. “- Por que é tão difícil acordar pela manhã?”
E a resposta me veio da maneira mais surpreendente que poderia imaginar, e me serviu inclusive para elucidar a definição de “profissional exemplar”. Tudo começou quando em mais uma manhã de trabalho parei em um semáforo próximo de casa, fim do verão, por volta das 6H10 da manhã. Um garoto que aparentava os seus vinte e poucos anos, de semblante simples e sorriso no rosto, se aproximou do meu carro e colocou acima de meu retrovisor um pequeno pacote com algumas balas e seguiu dizendo:“-Bom dia senhor!” , após aguardar um certo tempo o garoto retirava o pacote com as balas e dizia com o mesmo sorriso e empolgação: “- Muito obrigado, tenha um bom trabalho”.
Seria um acontecimento qualquer para a rotina de um paulistano que percorre mais de 80 Km por dia e passa por mais de 15 semáforos, mas este singelo evento se repetia com a mesma motivação todos os dias, no calor, no frio, em dias de chuva, inclusive nos feriados. E o que mais me deixava surpreso era a pontualidade e a dedicação do rapaz, que nos 4 meses seguidos esteve naquele mesmo local com a mesma motivação e o mesmo sorriso todos os dias da semana.
Não vou negar que comprei as balas algumas vezes, principalmente nos dias de chuva, e assim como eu muitas pessoas faziam o mesmo, acredito até que aquele pequeno “comércio do farol” lhe ofereceu um importante retorno financeiro. Acontece que determinado dia não o encontrei mais, e assim seguiu por algumas semanas e meses, e tal foi minha surpresa quando encontrei outro garoto no mesmo lugar, com a mesma “estratégia” de venda e com uma motivação parecida. Foi então que tive a ideia de questionar o novo vendedor a respeito do paradeiro de seu antecessor, e o mesmo me disse:
- Ele é meu irmão, um dia um de seus clientes o convidou para trabalhar em uma empresa, está ganhando bem e está muito feliz.
Dei um sorriso, agradeci os esclarecimentos, e me enchi de orgulho ao lembrar de toda dedicação que aquele garoto ofereceu ao seu comercio informal, do quanto ele teve que superar a vontade de permanecer na cama nos dias de chuva e frio, mas sempre se colocou motivado e confiante. Esta simples história me fez refletir sobre a maneira com a qual as pessoas encaram o trabalho, tornando o seu dia-a-dia muitas vezes cansativo e estressante, ao invés de encarar com motivação e comprometimento, ingredientes facilitadores para o crescimento e satisfação profissional. Mas uma coisa não posso negar, de fato aquele garoto é um profissional exemplar.

Carlos Fonseca é dentista, tem 28 anos, e realiza projetos sociais em São Paulo ("Sorria Jd. Capela") e pelo Brasil com o "Bandeira Científica" da USP.

sábado, 28 de julho de 2012

Portugal

Temos muito a agradecer a Portugal. Claro que na história de nosso Brasil foram cometidos erros, excessos e muitas coisas erradas que levamos décadas e mais décadas para acertar. Outras, até hoje ainda sentimos.
Mas a história só pode ser julgada quando nos colocamos nas circunstâncias históricas da época vivida. Em um tempo mercantilista, de nações de reis e nobres materialistas, seria difícil pensar em uma metrópole que não explorasse as riquezas de uma imensa colônia como foi o nosso caso.
Pensemos nos fatos positivos. Como um país incrivelmente pequeno em sua extensão territorial manteve uma colônia gigante intacta, mesmo em meio a tantos países poderosos e com frotas marítimas assustadoramente superiores à sua decadente frota, em uma época em que nações agiam como piratas, conseguiu manter a união de todas suas capitanias.
A forte Espanha - que dominou Portugal por alguns anos naquela mesma época - perdeu o controle de todos os seus territórios (divididos no tratado de Tordesilhas) que se tornaram todos os países diferentes que nos circundam.
A vinda da família real para as terras brasileiras, em 1808, ajudou a manter a união, mesmo em meio a tantos movimentos separatistas do nordeste ao Sul.
Nossa independência foi realizada aos poucos, mas sem que precisássemos derramar sangue sobre nosso solo, como ocorreu em tantos outros países.
Se hoje podemos viajar mais de 4.000 quilômetros, verificando as mais diferentes paisagens, observando as diferenças culturais de cada estado, cada povoado, histórias, e tantas diferenças que tornam o Brasil um dos países mais ricos do mundo, temos que reconhecer a grande contribuição de Portugal.
E incrível o grande carinho que percebemos recíproco entre brasileiros e portugueses. Como nações irmãs que reconhecem a importância enorme que um exerceu na história do outro.
Aqui fica o carinho, de um homem que exalta todo o amor que tem pelo seu país, ao outro, que como um irmão mais velho, o guiou para sua formação.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Brasil e suas culturas

Um país imenso e rico, não só territorialmente, mas, principalmente, culturalmente. Viajar pelo Brasil é mergulhar no mais profundo oceano de variedades regionais. Seja nos diferentes sotaques e entonações de um mesmo português (que deveria se chamar língua brasileira), seja nos folclores e histórias de cada estado.
No trabalho que estamos realizando na região norte e nordeste tivemos uma "injeção" de cultura musical incrível! Saímos da cidade de Tamboril, no sertão do Ceará, visitamos Crateús, onde já implantamos um intenso projeto nos últimos anos, seguimos para Barreirinhas, no Maranhão, e finalizamos em Quatipuru, no Pará.
Sempre digo que fazer um trabalho social, é receber mais do que se doa, e esta é uma das provas. A maioria dos locais, gratos por receber pessoas que vem de outros estados para contribuir com experiências ou atendimentos em sua cidade, prestam homenagens, com apresentações culturais, seja do seu folclore ou músicos locais. E em menos de vinte dias vivenciamos a diversidade que existe em estados ou cidades vizinhas.
Tamboril é uma cidade curiosa. Se localiza no alto da Serra das Matas, ponto mais alto do Ceará. Apesar de estar no sertão, costuma fazer um frio intenso, principalmente de noite. Em nossa última noite no local, organizaram um show. Seria uma banda de forró. Não o que nós chamamos de forró - o nosso grande Luiz Gonzaga, para a população mais jovem, toca o pé-de-serra -, mas o que nossos amigos locais chamam, que é o estilo brega (famoso com bandas como Calcinha Preta, Moleka 100 Vergonha e outras).
Após o último dia de trabalho seguimos para a quadra de futebol da comunidade. Estacionado em frente havia um grande caminhão e em cima da caçamba toda uma estrutura de caixas e instrumentos montados, ao estilo de um trio elétrico simplificado, e pela noite seguiu o estilo brega, cantado por um rapaz acompanhado de um teclado.
Dia seguinte passamos em Crateús, onde verificamos os trabalhos implantados nas escolas da cidade, e dormiríamos na comunidade de Pocinhos, um organizado assentamento que deve ser um exemplo a ser seguido no seguimento para todo o país. Ali há a querida Casa das Redes, onde nos receberam com a alegria de sempre e uma surpresa: o grande sanfoneiro Zé, nos aguardava com uma banda. Além de sua sanfona, seu filho no teclado, um triângulo, uma zabumba, havia no lugar de um vocalista, um senhor tocando pífano, uma simples flauta que desenhava toda a escala melódica das famosas músicas de Luiz Gonzaga. Uma beleza que tocava fundo nossa alma. No piso de terra à frente da casa, casais dançavam o forró, o verdadeiro forró, levantando, literalmente, poeira. Uma cena que lembra qualquer foto de festa da região do começo do século, bastava esquecer os fios, caixas de som e as roupas mais modernas. A essência estava ali: igual!
A próxima parada seria em Barreirinhas. O Maranhão é conhecido por ser a terra do reggae no Brasil e, por sorte, haveria uma noite com uma radiola de reggae em uma linda palafita sobre o rio Preguiças. Ouvimos durante horas músicas que passavam do reggae brasileiro de São Luiz, ao rei Bob Marley. Tudo ao deleite das imagens das luzes amarelas - da rua em frente a uma duna - refletindo nas calmas e limpas água do rio.
Nossa última parada seria em Quatipuru. Uma cidade localizada entre o mar e um rio, que respira a pesca e preserva sua tradição com casas de palafitas e de barro pela estrada que liga à Primavera. Havia a festa do camarão e, de noite, fomos conhecer o local. Na entrada do espaço já ficamos surpresos com o tamanho das caixas de som, que subiam ao lado do palco como uma alta muralha. Um DJ, ao estilo da famosa banda Super Pop, saiu de dentro de uma nave no palco, que imitava um metrô (mesmo nome da banda). Começou o estilo melody, atual febre na região, com suas batidas fortes, repetidas, como um tecno-regional.
Demoramos muito tempo para assimilar tamanha diferença cultural em tão pouco tempo. Na verdade, não sei se a absorvemos até hoje.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sobre devolver sorrisos

Acabamos o trabalho e estamos no caminho de casa. Paramos a alguns minutos atrás em um posto na estrada que liga Iraquara a Feira de Santana. A rotina de descer, ir ao banheiro, comer algo. Minha fome era de um sorvete e peguei um Magnun, daqueles grandes de chocolate.
Conversava e dava risada com os amigos em frente a adesivos engraçados e irônicos. Apareceu em minha frente uma menininha, daquelas bem carentes, roupinha suja e cabelo bem desgrenhado. Com cara triste e humilde me pediu:
- Tio, você pode comprar um desse pra mim? - disse e apontou para meu sorvete.
Eu tinha pego o último, mas haviam outros grandes e variados na geladeira. Dei 5 reais a ela e disse para escolher um ali.
Alguns segundos depois, voltou com um corneto na mão, com um sorriso enorme na boca, e me mostrou:
- Tio, olha o que eu consegui pegar! - e levantou o sorvete como a um troféu.
Ainda me disse antes de se virar e abrir seu prêmio:
- Muito obrigado, tio, que Deus o abençoe! - e abriu mais uma vez o grande sorriso que me deu ao mostrar o sorvete.
Neste projeto meus amigos brincam que eu devolvo sorrisos quando faço restaurações estéticas com materiais de qualidade. Hoje eu precisei apenas de um sorvete.

sábado, 23 de junho de 2012

Diário de um trabalho social - parte 5

Sábado, 23 de junho de 2012

Hoje damos seqüência ao projeto na cidade de Palmeiras, na Bahia. Uma cidade histórica que remete aos tempos áureos de garimpo na região.
Estamos na época de São João, e as bandeirinhas espalhadas pela cidade dão o charme na fachadas coloridas das casas.
Começo o ultimo dia de atendimentos, já que amanhã estaremos em Iraquara, inaugurando a Biblioteca Municipal Luis Eduardo Salvatore (que ganhou o nome do presidente do IBS).
Já fica a sensação de dever cumprido e de final de trabalho.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Diário de um trabalho social - parte 4

Quarta-feira, 20 de junho de 2012

Estamos deixando Irecê, cidade onde o trabalho foi incrível!
Agora na van, com destinos à Palmeiras, também na Bahia.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Diário de um trabalho social - parte 3

Sexta, 15 de junho de 2012

Estamos novamente na estrada. Terminamos ontem o trabalho na vila de São Jorge, em Alto Paraíso, Goiás e estamos mos encaminhando para Irecê, na Bahia. Ali, chegaremos e já montaremos o auditório para o seminário de amanhã.
Serão 1.100 km até lá, por isso, mas uma vez saímos as 5:20 da manhã.
Acabamos de almoçar em um restaurante de estrada, na cidade de Luis Eduardo Magalhães, BA.
Ontem, em nossa despedida da charmosa e linda vila, fomos presenteados com um pôr-do-sol fantástico!
Um grande abraço!

domingo, 10 de junho de 2012

Diário de um trabalho social - parte 2

Domingo, 10 de junho de 2012

Enfim, chegamos em Alto Paraíso. Aqui faremos nesta segunda o seminário no auditório da cidade para todas as escolas do município.
Nesta manhã, rodamos os últimos quilômetros que faltavam e montamos, ainda cedo toda a aparelhagem no local.
Alto Paraíso é a porta de entrada para a Chapada dos Veadeiros e antes do almoço conseguimos um tempo para visitar um mirante, que fica a caminho de São Jorge.
Subimos no teto da van para uma boa visão e um barulho característico champanha atenção: duas araras vermelhas passaram voando sobre nós, a uma certa distância e sumiram nos buritis que se erguiam imponentes no horizonte. Não conseguimos tirar uma boa foto das lindas aves.
Desci e andei na direção dos buritis, que surpresa! Duas outras araras (elas sempre voam em casal), estas canindés, vermelha, azul e amarela, vinham voando na minha direção. Pensei em fotografar, mas achei melhor filmar. Elas vieram num vôo rasante, bem perto, e enquadrei cada movimento na máquina, dando um zoom quando se afastavam e o retirando quando elas se aproximavam. Durante quase 2 minutos fiz imagens que me deixaram muito feliz! Das mais bonitas que já captei, pensei.
Como ir da euforia para a decepção? Quando fui rever as imagens na câmera vi que não tinha acionado o botão. No final, quando as araras sumiram no horizonte e apertei o botão pensando em desligá-la, ela começou a filmar, mostrando uma cena sem nexo de uma caminhada para voltar ao carro.
Bom, ao menos ficaram muito bem gravadas na memória, como um presente, poder ver o vôo de duas araras livres na natureza, a pouquíssimos metros de minha cabeça.

sábado, 9 de junho de 2012

Diário de um trabalho social

Sábado, 9 de junho de 2012

Estamos na estrada, para mais uma viagem. Nesta etapa trabalharemos no projeto Amigos do Planeta na Escola nas cidades de São Jorge (GO), Irecê (BA) e Palmeiras (BA).
Nos encontramos hoje em frente ao escritório do IBS às 5 da manhã. O deslocamento é grande, em torno de 1.300 km.
"Cair da cama" as 4 da madrugada também se explica por nossa São Paulo. Sair perto das 7 horas pode significar perder uma hora parados no trânsito, tempo precioso quando se está noite adentro tentando chegar ao destino.
Nossa cidade também tem suas curiosidades. Saímos completamente agasalhados pelo frio, em torno de 12 graus, e céu encoberto e duas horas mais tarde na estrada, debaixo de um sol intenso começamos a passar calor.
Agora acabamos de cruzar a divisa de São Paulo-Minas Gerais, sentido Uberaba (na foto da estrada, a baixada é o rio Grande, divisa dos dois estados).
Estamos na estrada, às 12:18h, daqui a 100km devemos parar em Uberlândia para almoçar.
Um ótimo fim de semana a todos!

Grande abraço!

domingo, 3 de junho de 2012

Crônicas de um jogo de futebol

Uma noite, um jogo de futebol, um estádio cheio. Histórias que tem muito a ensinar sobre nós mesmos.

No dia 10 de maio, o Santos recebeu o time Bolívar (Bolívia) para uma partida em casa. Foi uma bela resposta. Na partida de ida, na semana anterior, os bolivianos deram um péssimo exemplo de como receber um adversário. Xingamentos, agressividade fora e dentro de campo, objetos jogados contra os jogadores - incluindo uma maçã arremessada da arquibancada direto no rosto do jogador Neymar.
Neste jogo de volta, na Vila Belmiro, o sentimento de revanche era grande, porém o "troco" foi todo dentro de campo - e das regras. O Santos venceu por 8 a 0. Via-se uma gana nos olhos de cada jogador do time brasileiro, para fazer mais gols, não para jogadas mais duras como alguns esperavam.
Certa altura, em torno dos 6 tentos para o time brasileiro, um jogador boliviano foi até o zagueiro Edu Drascena e pediu para "aliviar um pouco" e não fazer mais gols.
Na torcida uma grande faixa exibia uma frase em espanhol "aqui a resposta é dentro de campo".

O futebol tem certos aspectos difíceis de se entender. Um esporte maravilhoso, emocionante, mas que provoca atitudes incompreensíveis de muitas pessoas. É mais fácil de entender uma luta entre judeus e palestinos, uma violência sem razão, mas com motivos seculares de embates e uma diferença histórica em suas raízes.
Aqui, dois jovens do mesmo poder aquisitivo, da mesma cidade, se fossem trabalhar no mesmo local, provavelmente, seriam grandes amigos, mas num determinado dia, os dois acabam indo a um jogo de lados diferentes. Um decidiu que torcia para um time, o segundo preferia outro. Pessoas com a mesma cultura, mas decidiram que gostam de camisas de cores diferentes. Um acaba matando o outro por isso.
Seres humanos, modificados pela emoção, mas sempre agindo, exteriorizando sua essência. Certo ou errado, nunca se deve culpar a emoção do momento, ou o álcool ingerido, por atitudes tomadas. Só jogamos para fora o que está ali dentro, bem quieto, esperando um pequeno descuido para sair.
Eu estava no portão de entrada, aguardando meu irmão, quando ouvi um barulho de vaias e gritos, olhei e vi um grupo de torcedores bolivianos, perdidos, e passando no meio de toda torcida do Santos que esperava para entrar no portão principal. Dois guardas ao meu lado correram para proteger e levar os amedrontados visitantes para o lugar correto. Um homem de seus 40 anos, olhou para mim e falou:
- Pra que proteger, deixa esses índios tomarem porrada!
Ele não falou brincando.

Minutos depois um homem comia um cachorro-quente. Acabou, enrolou o papel nas mãos e o atirou para o lado, no meio da rua. Alguns metros dali, outro terminou sua cerveja, abaixou e, carinhosamente, colocou a latinha no chão, e saiu. Qual dos dois era pior? O segundo, pois tinha mais consciência a ponto de tentar esconder o que realmente era: um "porco".

É fato o problema que enfrentam os jogadores brasileiros quando jogam em cidades com altitude extrema. A baixa concentração de oxigênio preocupa inclusive danos a saúde geral de qualquer indivíduo, fazer intenso exercício num ambiente tão hostil. Os times destes próprios países costumam jogar ao nível do mar, deixando a altitude apenas como arma para prejudicar jogadores que não estão acostumados com ela.
Comprovando isso, o time que perdeu de 2 a 1 na Bolívia, ganhou de 8 a 0 em casa, com uma facilidade que parecia um jogo de profissionais contra crianças.

Humildade.
Ainda sobre o tema da altitude, é incrível como certas pessoas públicas acham que podem dar suas declarações emocionais, parciais, e não pensar com a razão, visto que comentários podem se voltar contra eles mesmos.
Maradona, depois de um jogo onde a seleção brasileira perdeu para um desses times que jogam na altitude, deu uma entrevista ácida, dizendo que a altitude não influenciava em nada o resultado do jogo. Qualquer jogador que já atuou nestas condições saberia que não prejudica em nada o rendimento, e outras baboseiras de seu costume nas entrevistas.
Algumas semanas depois, a seleção argentina (da qual era técnico) perdeu de maneira vexaminosa para a seleção da Bolívia, na altitude. 6 a 1. E ele não podia explicar com a verdadeira causa do desastre, que seria o motivo óbvio. Assumiu que seu time jogou mal e procurou explicações alternativas, muito piores que a verdade, que não podia usar por ter sido garoto-propaganda das cidades de altitude quando a Fifa quis impedir jogos nestas condições.
Nada como um dia após o outro...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Escassez

Esse é o nosso Brasil: terra dos contrastes. Das favelas na grande cidade, crescendo aos pés de luxosos condomínios. Dos ricos empresários com cultura de sobra, fechando sua janela ao pedinte que lhe estende a mão no farol. Da colossal arrecadação de impostos e do miserável retorno dos benefícios à sua população.
O último texto mostrou nosso espanto pela fartura de peixes em uma comunidade de pescadores do Pará. Porém uma solitária fartura. O peixe é o alimento em abundância, mas há carência de muitas outras coisas. Tão surpresos quanto observamos os peixes que sobravam, visitamos a escola de palafita da comunidade. E não, não era por ser de palafita - o que dava até uma beleza ao local, assim como belas casas da comunidade, erguidas pelas hastes de madeira que as afastam da maré alta -, mas pela continuidade do ensino.
Eram três salas, repletas de lindas crianças. Olhos brilhando ao fitar os kits escolares que ganhavam. Dei uma rápida palestra, olhei seus dentes. A maioria com cáries enormes! Dentes perdidos esperavam por uma extração. Quem faria se para ir a um dentista seria necessário um barco e muito tempo até o destino? A primeira escassez que notamos foi essa: saúde.
Idagamos sobre a educação, ali os alunos estudam apenas até a quarta série. Depois, somente pegando o barco-escola de madrugada até a outra cidade (algo que vimos também na comunidade de pescadores de Paraty-Mirim-RJ). São poucos os que seguem essa rotina. A grande maioria dos alunos não mais são chamados assim. Tornam-se pescadores como seus pais, avós... E nao é problema o fato da profissão, digna e bela como qualquer outra, mas sim o fato de não haver uma alternativa. De crianças não terem chance de sonhar com outros horizontes, mesmo que fosse apenas continuar estudando. Apenas?
Se o acesso à educação, saúde, inclusão social, para brasileiros que vivem com poucos recursos em uma cidade maior não é fácil, o que dizer dos que vivem em uma comunidade mais isolada?
Fizemos uma confraternização com as crianças e adultos na praia, sob uma bela palhoça. Tocamos violão, fizemos um belo churrasco. Eles cantavam, brincavam. As crianças comiam e sorriam. Notamos, com curiosidade, que elas preferiam muito mais a farinha que tínhamos do que o peixe assado, onde observamos o excesso de um em relação ao outro.
Num belo pôr de sol percebi que a fartura de peixes na região não era solitária como disse no começo do texto. Era acompanhada da maior fartura que um povo pode alcançar, e, acredito, a mais rica de todas as outras: a de felicidade.







                                               Fotos: Luis Salvatore

terça-feira, 1 de maio de 2012

Fartura

Voltamos este fim de semana de uma viagem de 20 dias desde o sertão do Ceará, até as praias do Pará, cercadas pelos vermelhos pássaros guarás e seus imponentes búfalos. Nos últimos dias conhecemos uma comunidade de pescadores, onde se chega apenas pelo mar. Um barco-escola nos levou até lá.
Uma escola de madeira - assim como as casas de palafita, espalhadas pela rua principal de areia branca - nos aguardava com suas três classes repletas de alunos para receberem kits escolares com cadernos, livros, lápis e canetas; além, é claro, do material de higiene bucal: escova e creme dental. Depois de uma conversa com os alunos, um delicioso almoço com peixe frito e camarão, junto ao arroz com farinha, fomos conhecer o curral dos pescadores.
A uma boa caminhada da escola chegamos à praia, que é regida pela maré e define a sobrevivência das dezenas de famílias da comunidade. Uma característica do recortado litoral da região é na maré baixa a areia se secar, deixando barcos no chão e plantas à mostra e, nas horas seguintes, a cheia adentrar em poucos minutos preenchendo tudo novamente, deixando algum desavisado que esteja na praia, isolado, precisando voltar a nado para a região das casas (ou dormindo em alguma charmosa palhoça próxima ao mar).
Cada dia a maré seca uma hora mais cedo e os pescadores sabem exatamente o momento de se encaminhar ao curral e retirar sua sobrevivência do mar. Ele é formado por altas madeiras enfileiradas no sentido em que a maré é puxada e segue até as duas últimas traves, onde uma rede de pesca recebe os peixes que seguem este caminho. Entre as madeiras laterais não há redes, o que nos levava a pensar "por que os peixes não desviavam pelas laterais?".
- Quando a maré passa pelas madeiras faz um barulho (turbilhonamento) que incomoda os bichos, então eles se afastam das bordas e seguem para o centro, onde tem a rede. - explicou um pescador mais experiente.
Quando chegamos ao local, os pescadores já cortavam a rede - que seria amarrada mais tarde novamente - e retiravam os peixes para os enormes baldes que traziam. A quantidade era incrível! e impressionava o número de peixes deixados de lado. As pessoas colocavam em seus cestos exemplares enormes, de mais de um metro de comprimento. Outros pouco menores, que em São Paulo chamariam a atenção em uma feira livre pelo tamanho e beleza, eram jogados na areia e fariam a festa de cachorros e urubus que, assim como os moradores, também sabiam a hora exata de se encaminharem para o local.
Na rede, jazia uma enorme arraia, de aproximadamente um metro e meio e não seria levada. Já havíamos experimentado a carne deste animal, muito saborosa e com uma consistência que permeia entre a carne de peixe e a de gado. Pedimos a um garoto que a preparasse para nós. Ficamos surpresos ao observar que não é um peixe apreciado por eles, que reclamam de seu duro "couro" que deixa a faca cega.
Voltamos para a comunidade. Pescadores com baldes e cestos cheios que alimentarão suas famílias e ainda venderão o excedente para as cidades vizinhas. Nós, surpreendidos pela imensa fartura que existe no litoral norte brasileiro.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Vídeo: Bibliotecas no Maranhão

Em março viajamos para o Maranhão, na cidade de Barreirinhas, em um fim de semana (de quinta a domingo). Lá verificamos a entrega das 23 bibliotecas doadas pela parceria Instituto Brasil Solidário e Casas Bahia (o projeto Amigos do Planeta na Escola), e entregamos as placas que tanto dão orgulho aos gestores de cada uma delas. Além disso, fizemos o levantamento da sala de um posto de saúde na comunidade de Atins, onde doaremos um consultório odontológico, especialidade tão carente naquela região.
Escolas pequenas, inseridas em uma zona rural de difícil acesso, onde apenas carros especiais passam os atoleiros de areia e regiões extremamente alagadas.
É incrível quanta coisa vivemos nestes pouquíssimos dias; paisagens maravilhosas, histórias de vida, sorrisos de crianças, animais selvagens, aprendizados sobre a cultura local e o cotidiano de trabalho do nosso povo.
Algo que seria impossível descrever em palavras neste texto. Como dizem que uma imagem vale mais que mil delas, tentei condensar tudo em 15 minutos de vídeo.
E ainda falta! Mas dá pra dar o gostinho...

quinta-feira, 22 de março de 2012

"Haja minino!"

Ainda há no Brasil lugares onde as pessoas tem 8, 10, 13 filhos. Nos dias atuais, no sertão, a média de descendentes diminuiu, mas ainda vemos pais muito animados. Em todo lugar que passamos há crianças e mais crianças.
Estivemos em uma casa, de seus 20 metros quadrados - se chegasse a tanto -, com paredes de ripas de madeira e teto feito de palhas entrelaçadas, ao lado da escola que o IBS, em parceria com as Casas Bahia, está construindo na comunidade. Um jovem casal vive ali com seus 5 filhos e, enquanto as obras continuam, um parente que ajuda a levantar a sonhada escola se mudou temporariamente para lá, com sua esposa e mais 5 filhos.
Entramos para conhecer; curioso imaginar como 14 pessoas vivem ali dentro.
- Ah, na hora da comida é uma bagunça danada! Criança correndo por todo lado! - disse a avó, que mora em frente, dando uma divertida risada.
De noite, as redes são penduradas pelos 3 cômodos da casa de chão batido. A única cama - de casal - fica no quarto e Luis se divertiu vendo várias redes penduradas em direções diferentes, sobre e em volta dela.
- Mas me diz uma coisa: como que dá pra fazer tanto "minino" com tanta gente em volta??? - perguntou entre risadas para a mãe, que suspeita estar esperando mais um.
Ela riu envergonhada, pensou, mas não deixou de responder:
- Ah, a gente faz meio devagarzinho... - risos por todo lado.
Já na mesma cidade, Jaciria, que trabalha na secretaria de educação de Barreirinhas e nos acompanha no projeto, é a filha mais nova de 13 irmãos (dois já falecidos). Seu pai morreu quando ela tinha apenas 7 meses de idade.
Em nossa base de Canudos, na Bahia, as vezes tem tanta criança ao nosso redor que brincamos que um dia abriremos o chuveiro para tomar banho e não cairá água, descerá uma criança sobre nossos braços.
Porém, hoje, há uma história mais triste por trás do alto número de natalidade: políticas populistas. Ouvimos histórias de mulheres que engravidam pensando no benefício em dinheiro que receberão no nascimento do filho.
- Uma mulher que conheço queria comprar uma moto, engravidou e comprou depois que o bebê nasceu. Outra já mobiliou a casa a cada filho que teve. As crianças mal comem direito, mas a casa tá cheia de móveis - ouvimos.
Uma triste realidade que contrasta com uma época em que ter vários filhos era uma regra, a casa cheia: uma alegria. Assim como nossa amiga arrematou:
- E todos me dizem que meu pai só parou nos 13 filhos porque morreu, senão continuava!
Quem duvida?

quarta-feira, 14 de março de 2012

Opostos

Nem sempre os opostos se atraem. Em muitos casos, na verdade, se repelem.
No ano passado, quando trabalhamos em Barreirinhas - linda cidade do Maranhão - conhecemos um bar que ficava em uma palafita, sobre o lindo rio Preguiças. O local nos remetia às memórias das mais belas fotos de algum bar desse estilo em outras partes do mundo.
Um salão amplo, telhado de palha, sem paredes. Aliás, não tinha motivos para se ter paredes; a visão se dava para o rio que refletia as luzes amarelas dos postes que iluminavam a passagem de areia entre o rio e uma linda duna, presente no centro da cidade.
Como não podia deixar de ser, naquela noite, havia uma radiola - uma parede montada com caixas enormes de som, operadas por um DJ - que rolava o ritmo dominante da região norte do Maranhão: o reggae.
Foi uma noite muito agradável, onde aquela paisagem maravilhosa se misturava ao leve som que surgiu na Jamaica e chegou pelas ondas do rádio àquelas terras desde meados do século XX.
Assim, quando retornamos na última visita para entregar as bibliotecas, tínhamos a esperança de rever o lugar em nossa primeira noite. Em uma triste surpresa o bar estava fechado. Há boatos que se tornará um restaurante.
Resolvemos conhecer outro lcal, onde haveria o show de um músico (um vocalista e um tecladista). O espaço estava cheio, em um pátio cercado por muros escuros. Curioso que não foi esta diferença visual que nos chocou, mas sim o estilo musical.
Música é algo maravilhoso e falar contra um som diferente do que você gosta seria intolerância pura, porém o estilo que assustava era das composições. Músicas que falavam sobre sexo, bebidas, de uma forma agressiva, até depreciando as mulheres, algo triste, por baixo do jeito alegre de ser cantado.
Tínhamos a lembrança de uma noite linda, em contato com a natureza, debaixo do som do reggae, com músicas que falam de paz, amor, Deus, crianças e natureza. Estávamos ali, ouvindo sobre "pegar a mulher de jeito, atarracar...".
Sem preconceito musical, mas em estágio evolutivo, estávamos naquela noite um passo atrás de onde já estivemos.
Vendo as fotos, lembramos com carinho daquele lugar. Bar ou restaurante, sempre estará na memória como um estágio a alcançar.






sábado, 25 de fevereiro de 2012

O boi do João Rita

Curioso como nomes e apelidos acabam se incorporando às pessoas e se transformam em uma marca, um som, algo que, dito mais tarde, mal pensamos no que significa, já remetemos a imagem do objeto em questão.
Imagine que você faça parte de uma banda. Tudo pronto para seu início, músicas feitas, grupo coeso; mas falta um nome. Alguém lhe pede uma sugestão, e você, sem titubear, dispara:
- Que tal "Os Paralamas do Sucesso"?
Dá para imaginar a reação dos amigos em volta? Paralamas, como de um carro, mas do sucesso? O que tem a ver. Seria uma boa definição para uma "idéia de jerico". No entanto, alguém deu a idéia, incrivelmente outras pessoas aceitaram, o nome se incorporou a uma banda de excelente qualidade e hoje, quando falamos Paralamas do Sucesso, ninguém pensa no medonho nome. Aliás, não imagino um outro nome para dar à banda. Não teria um melhor. Quando vou a um show dos Paralamas, a palavra é suave como uma bela música tocada pelo Hebert Viana.
Uma de minhas mais longínquas lembranças, quando era muito pequeno, era, bem cedinho, mamar uma mamadeira deitado no sofá da sala, preparada pela minha mãe ou pela querida avó. Quando terminava todo o leite, minha vó sempre dizia:
- Ooo boi do João Rita! - terminava com um lindo sorriso, daqueles que só as avós sabem dar.
Esse slogam acompanhava qualquer um dos meus irmãos, ou primos que mamavam suas suculentas mamadeiras e "boi do João Rita" soava como uma palavra só, que já significava que a criança havia mamado tudo, com fervor.
Muitos anos mais tarde, ouvi minha vó chamando um primo ainda bebê de nosso velho apelido e um gostoso saudosismo me invadiu. Já estava crescido e a curiosidade apareceu.
- Vó, por que boi do João Rita?
Ela respondeu:
Quando eu era pequena, lá no interior de Minas, nós morávamos em uma fazenda. O dono da fazenda do lado se chamava João Rita e tinha uma boa boiada. No meio dela tinha um boi muito safado, que mamava em todas as vacas. Mal deixava leite para os bezerros se eles não o separassem. Por isso criança que mama muito é igual ao boi do João Rita.
Como é bom dar uma risada pura, tão verdadeira como aquelas lembranças de tempos de criança. Depois de tantos anos, tudo fez sentido. Admirei mais ainda minha vó pela criatividade e por tornar um apelido tão gostoso de ouvir. Com certeza, quando tiver um filho e der uma mamadeira para ele, esse será o novo Boi do João Rita.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O sorriso

Era uma estrada do sertão de Pernambuco. Andávamos devagar, pelos buracos e, ao mesmo tempo, admirando a bela paisagem da caatinga que mostrava suas folhagens verdes pela chuva que vinha abençoando a região nas últimas semanas.
Metros à frente, uma menininha esperava para atravessar a rua. Puxava uma cabra e uma ovelha por duas cordinhas e exibia um semblante de paz. Paramos para que ela atravessasse. Ela sorriu tímida e agradeceu. A cena foi de uma pureza, dessas que envolvem o sertão do Brasil, que lhe pedi:
- Posso tirar uma foto sua?
Ela sorriu envergonhada e disse que sim, quase fazendo uma pose junto aos seus animaizinhos. Tirei. Agradeci com um sorriso sincero. Ela sorriu, me agradeceu - como se precisasse - e terminou a travessia da estradinha.
Do outro lado, abriu uma porteira de madeira e aguardou passarmos a sua frente. Acenei e disse um novo obrigado. Ela abriu um sorriso lindo, acenou efusivamente com a mão, com um carinho tamanho, e um agradecimento, e uma emoção, como se fôssemos alguém da família, que não via a muito tempo.
Um sorriso tão sincero, tão puro, que me marcou para o resto da vida.

domingo, 29 de janeiro de 2012

A secretária

Ela tinha acabado de assumir a secretaria de Educação de sua cidade quando a conhecemos. Passou por enormes dificuldades. No meio político, não é fácil entrar com ideais, vontade e honestidade. Em uma incrível inversão de valores, temos a impressão que as pessoas honestas, com boas intenções, são perseguidas. Com ela foi assim.
Nasceu em uma família simples e seu sonho foi sempre seguir o caminho da educação. E assim, depois de alguns anos na área, recebeu o convite para ser a secretária de educação de Iraquara, cidade do interior da Bahia, que possui em torno de 22 mil habitantes.
Assim que assumiu, procurou fazer uma revolução no ensino local, desagrando algumas pessoas; logo passou a receber perseguição política.
- No começo, eu tinha que levaá-la e buscá-la todo dia. Ela recebia até ameaças. - me disse Sissi, motorista da prefeitura.
Uma de suas primeiras ações foi resolver um daqueles problemas que vem se arrastando durante anos. Uma das escolas da prefeitura dava enormes prejuízos e levava recursos que poderiam melhorar a situação de muitas outras. Procurou o governo do estado e resolveu fazer uma parceria, assim ela receberia recursos maiores e melhoraria consideravelmente seu ensino. Deu certo, porém os adversários políticos enxergaram uma boa brecha. Dias depois um carro de som, pago por alguns vereadores, passava pelas ruas da comunidade dizendo que a "senhora Simone" pretendia fechar escolas e acabar com a educação do município, junto a outras mentiras.
Pessoas de seu próprio convívio profissional faziam intrigas, diziam que ela "queria apenas aparecer, se mostrar" com seus atos em favor da educação.
Pensou em desistir algumas vezes, quando a tristeza apertava demais, porém seguiu em frente. Seu sonho era maior que isso.
Foi nessa época que chegamos à cidade com o projeto de desenvolvimento sustentável na escola. Foi uma agradável coincidência (se é que elas existem); nós precisávamos dela e ela de nós. Um projeto que leve mais de mil livros e estantes para formar uma nova biblioteca na escola, computadores, internet, rádio-escola, oficinas de arte, ações de meio ambiente e saúde, é sempre bem recebido pelo poder público. Não raro aparecem políticos dos mais diversos níveis para discursar e tirar fotos. E assim Simone tinha um grande trunfo: poderia realizar as melhorias que sugeríamos - e que tanto sonhava -, sem a oposição ferrenha que vinha sofrendo.
O trabalho que realizamos em uma escola, rapidamente foi multiplicado para todas as escolas da cidade. Hoje cada uma delas - mais de 30 - foram reformadas ou estão em reforma. Todas com escovação diária, escovódromo, horta comunitária, bibliotecas, aulas de capoeira... Se transformaram em um local onde as crianças querem ficar.
Para isso, devo salientar, recebeu o importante apoio apoio do prefeito Edimário, comprometido com a educação.
Como é difícil elogiar um prefeito, sem que pareça interesse. Quem visita este blog acompanha que, até hoje, praticamente todas minhas menções a políticos foram críticas ferrenhas. Mas, graças a Deus, há luz no fim do túnel. Até aqui conhecemos poucos, mas bom políticos que se diferem muito dos demais. Gestores que se empenham em gerir com responsabilidade e foco na educação de seu povo. Assim como Edimário, em Iraquara, conhecemos Zé Carlos em Irecê, que junto com a secretária de educação local, Margô, também desempenham um trabalho bonito nas escolas da cidade. Em Primavera, no Pará, conhecemos a jovem prefeita Cleuma, que também luta com garra para melhorar sua cidade.
Enfim, é bom terminar um texto elogiando políticos. A sensação é de que temos, sim, um futuro promissor. Há gente boa, com ideais e vontade de melhorar nosso país. E nós, precisamos discernir essas pessoas e fazer com que virem maioria, deixando de lado os velhos "coronéis" e sua política senil. O povo está, aos poucos, começando a tomar consciência disso.
Observamos isso com as "Simones", "Margôs", e sua turma que começa a aparecer neste meio, incomodando os amantes da velha anarquia política que ainda existe por aqui.
Como diz a própria Simone: "Não vou desistir!"
Todo o Brasil agradece, minha amiga!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Surpresa chinesa

Não era a primeira vez que ele estava visitando a China. Aliás, já havia pisado várias vezes naquele diferente país de costumes tão distintos de seu querido Brasil. Seu trabalho tornou a visita ao outro lado do mundo algo rotineiro, mas aquela vez era um pouco diferente, um amigo o havia acompanhado para dividir essa experiência e aqueles não eram dias costumeiros de solidão.
Se divertia com o amigo, que não falava o inglês, quem diria entender algo em chinês. E assim que o avião pousou, deu o primeiro conselho:
- Olha, é um país muito diferente, com uma culinária excêntrica e estranha. Não pergunte muito sobre a comida. Se não sabe o que é, coma. Pode ser que goste e pode ser positivo não ficar sabendo...
Explicou que nas primeiras vezes sentiu dificuldades com a comida, mas atualmente já experimentou muitas coisas, até espetinhos de gafanhoto e baratas, que lá são tratadas e limpas, diferentes das nojentas baratas de esgoto que estamos acostumados a ver.
Uma noite visitaram um lindo restaurante, daqueles mais tradicionais e com aparência de caro. Alguns pratos foram sendo servidos e o amigo foi comendo, lembrando o primeiro conselho recebido quando tocou o solo chinês. Um "enroladinho", que lembrava um charuto árabe, chamou a atenção dele, pelo sabor e boa aparência. Com a fome que estava, o visitante comeu vários.
- Nossa, esse aqui é uma delícia, hein?! O que será que é? - perguntou.
O garçon estava próximo e ele perguntou sobre o prato. Deu risada quando soube e indagou ao amigo:
- Você tem certeza que quer saber?
O outro hesitou, mas resolveu satisfazer sua curiosidade.
- Ele disse que é carne de cachorro, que é muito boa e temperada com capricho...
O amigo sorriu amarelo, mas estava dançando conforme a música. Como diria um conhecido seu: "já está no inferno? Abrace o diabo!". Perguntou no que era enrolado; se em repolho, folha de uva...
Ele perguntou ao garçom, novamente deu risada e repetiu "você tem certeza mesmo que quer saber?".
- O Garçom falou que é enrolado em pele de cachorro curtida, que é uma iguaria aqui, muito fino...
O amigo deu risada, o que poderia fazer? Mas, no fundo, pensou que alguns conselhos são bons de serem seguidos...