Voltamos este fim de semana de uma viagem de 20 dias desde o sertão do Ceará, até as praias do Pará, cercadas pelos vermelhos pássaros guarás e seus imponentes búfalos.
Nos últimos dias conhecemos uma comunidade de pescadores, onde se chega apenas pelo mar. Um barco-escola nos levou até lá.
Uma escola de madeira - assim como as casas de palafita, espalhadas pela rua principal de areia branca - nos aguardava com suas três classes repletas de alunos para receberem kits escolares com cadernos, livros, lápis e canetas; além, é claro, do material de higiene bucal: escova e creme dental.
Depois de uma conversa com os alunos, um delicioso almoço com peixe frito e camarão, junto ao arroz com farinha, fomos conhecer o curral dos pescadores.
A uma boa caminhada da escola chegamos à praia, que é regida pela maré e define a sobrevivência das dezenas de famílias da comunidade.
Uma característica do recortado litoral da região é na maré baixa a areia se secar, deixando barcos no chão e plantas à mostra e, nas horas seguintes, a cheia adentrar em poucos minutos preenchendo tudo novamente, deixando algum desavisado que esteja na praia, isolado, precisando voltar a nado para a região das casas (ou dormindo em alguma charmosa palhoça próxima ao mar).
Cada dia a maré seca uma hora mais cedo e os pescadores sabem exatamente o momento de se encaminhar ao curral e retirar sua sobrevivência do mar. Ele é formado por altas madeiras enfileiradas no sentido em que a maré é puxada e segue até as duas últimas traves, onde uma rede de pesca recebe os peixes que seguem este caminho. Entre as madeiras laterais não há redes, o que nos levava a pensar "por que os peixes não desviavam pelas laterais?".
- Quando a maré passa pelas madeiras faz um barulho (turbilhonamento) que incomoda os bichos, então eles se afastam das bordas e seguem para o centro, onde tem a rede. - explicou um pescador mais experiente.
Quando chegamos ao local, os pescadores já cortavam a rede - que seria amarrada mais tarde novamente - e retiravam os peixes para os enormes baldes que traziam. A quantidade era incrível! e impressionava o número de peixes deixados de lado. As pessoas colocavam em seus cestos exemplares enormes, de mais de um metro de comprimento. Outros pouco menores, que em São Paulo chamariam a atenção em uma feira livre pelo tamanho e beleza, eram jogados na areia e fariam a festa de cachorros e urubus que, assim como os moradores, também sabiam a hora exata de se encaminharem para o local.
Na rede, jazia uma enorme arraia, de aproximadamente um metro e meio e não seria levada. Já havíamos experimentado a carne deste animal, muito saborosa e com uma consistência que permeia entre a carne de peixe e a de gado. Pedimos a um garoto que a preparasse para nós. Ficamos surpresos ao observar que não é um peixe apreciado por eles, que reclamam de seu duro "couro" que deixa a faca cega.
Voltamos para a comunidade. Pescadores com baldes e cestos cheios que alimentarão suas famílias e ainda venderão o excedente para as cidades vizinhas. Nós, surpreendidos pela imensa fartura que existe no litoral norte brasileiro.
Olá Wolber!
ResponderExcluirEstou mergulhada em nova fase de estudos, por isso o sumiço em comentários nos seus preciosíssimos textos. Mas sempre que posso, estou de passagem por aqui, para conhecer melhor um pouco deste nosso imenso Brasil e sua diversidade.
Através deste relato, lembrei dos tempos em que trabalhei, em Minas Gerais, com uma jovem natural de Oriximiná, no Pará. Ela nos falava justamente sobre essa fartura, num certo sentido, que há em sua terra natal. Ao mesmo tempo em que há carência de muitas outras coisas... Eu ouvia como se falássemos de planetas distintos, tantas as diferenças! E no entanto é o mesmo e amado Brasil, com suas necessidades e também suas preciosidades.
Muito bom estar aqui e conhecer um pouco mais sobre esse "vasto mundo" do qual faço parte.
Um abraço!
O Brasil é mesmo uma imensa riqueza, às vezes não percebida, muitas vezes judiada, mas rico, principalmente em matéria humana.
ResponderExcluirE você segue firme na sua missão, né?
Isso é maravilhoso.
As fotos em preto e branco deram um charme especial à postagem. Lindas!
Beijo, doutor!
Bom dia!
ResponderExcluirGostei muito de ler, e mais eu adoro pescar.Que lindo esse lugar!
Grande abraço
se cuida
Amigo Dóctor Wolber....
ResponderExcluirE aí? Tudo cada vez mais cada vez... rss
Sabe, desde a primeira vez que por aqui passei fiquei seu fã pelo espírito aventureiro e a bondade que emana de tu e teus amigos ao levar esse tanto que para certas regiões é uma imensidão de ajuda.
Confesso que gostaria de participar, mas não consigo desvencilhar-me desse emaranhado de coisas do dia a dia que me amarram e sufocam.. rss
Mooooooorrrro de inveja ( da boa é claro.. rs ) de ocêis, essas estórias lindas e esse convívio diário junto a esse povo simples e sofrido.
Um dia eu mando tudo às favas e garro um chão desses meu véi.... Ô se vou!!!
DeussssssssKiAbençoe ocê amigão.
Abraços
Tatto
Olá Suzy! Que bom recebê-la novamente pelos comentários! :)
ResponderExcluirBacana o que disse, o próximo texto iria justamente comentar esses contrastes, pois a fartura que se vê em peixes não segue, infelizmente, outras áreas (mesmo alimentos fora da pesca não são fartos).
E nosso país, realmente, é um mundo!
Um grande abraço!
Minha amiga Milene! Tudo bem?
ResponderExcluirVocê disse muito bem: um país riquíssimo, principalmente em matéria humana! Essa fartura me encanta mais ainda quando sentamos para conversar com um pescador, uma senhora que faz potes e panelas de barros, ou um lavrador.
Quantas histórias, experiências e o melhor: sabedoria. Aprendemos muito em ser pessoas melhores conversando com essas pessoas pseudo-simples. Pois em evolução espiritual estão a passos largos na frente de muitos "dotores".
Ah, e bacana ter comentado das fotos preto e brancas. Quando anexei, coloquei apenas aquela que aparece duas crianças assim. Olhei e resolvi por todas. Achei melhor.
Bom tê-la por aqui, Milene!
Um abraço!
Olá minha amiga!
ResponderExcluirEsse lugar é fantástico. Há quatro palhoças como aquela da foto, espalhadas pelas areias em frente ao mar. Ao anoitecer, quando pisa na água, algas fluorescentes acendem por segundos'.
É inacreditável!!
Beijo!
Grande brother Tatto! Tudo bem, meu amigo?
ResponderExcluirCara, você é uma pessoa que ficaria com a boca aberta, como desse macaco que está em sua foto de perfil. Sou suspeito para dizer, mas essas viagens são incríveis, enriquecedoras, além da alegria de poder levar um ajuda de alguma forma para as pessoas.
Digo que se merecemos algo por levar um trabalho social, recebemos muito, mas muito mais com essa vivência e experiências.
Como disse a nossa amiga Milene, crescemos principalmente com a sabedoria de vida observada. Eles conseguem nos dar muito mais do que levamos e nem imaginam...
Um abração, meu amigo. E qualquer dia salte do galho e vamos junto!! :D
Muito bom saber que, apesar de longe das "facilidades" urbanas, a fartura impera nesses distantes recantos do nosso país.
ResponderExcluirPena que desperdicem tanto alimento, que poderia ser aproveitado...
Essas passagens são momentos inesquecíveis, eu também viajei bastante e recordo como se fossem sonhos...
Parabéns pela bela narrativa! Me deu até vontade de comer peixe!
Abraços, Wolber!
Gostei do seu bog, Wolber.
ResponderExcluirUm abraço desde Argentina.
HD
Grande Leonel! Como vai, amigo?
ResponderExcluirRealmente é um grande desperdício de peixe. E que peixes!
Sabe que as vezes volto de viagem e, logo em seguida, já lembro dessas experiências como se fossem sonhos?! Curioso.
Ah, Leonel, se estivesse conosco quando assamos aquela carne de arraia... Deliciosa! :)
Grande abraço!
Olá Humberto!
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado deste blog! Seja bem-vindo!
Grande abraço daqui do Brasil, amigo!