sábado, 31 de julho de 2010

Homem-problema

Eles estão por toda parte. Temos que torcer para não cruzar com um deles. Mas como? São tão comuns quanto procurar alguém de olhos azuis. Uma hora você vê um.
Um lugar fácil de encontrar esse "ser" é em um supermercado, ou banco, em qualquer lugar que haja uma fila e que seja necesário um mínimo de paciência. Ah, paciência é algo que ele - ou ela, deixemos bem claro - não tem.
- Ai meu Deus do céu, como é lerda... - geralmente fala alto, para todos da fila ouvirem, inclusive a pessoa que trabalha duro, durante horas, no caixa.
Quem trabalha com público, vez ou outra encontra um deles, e aí, é só rezar...
Um dia ele entrou em meu consultório. Sorriu e eu, idiota, acreditei naquele sorriso. Ainda dei sorte, ele gostou de mim. Nunca reclamou diretamente comigo, com o mundo em volta sim, mas comigo não. Pensando bem, não dei sorte, dei azar. Quando o homem-problema não gosta de você, sai de perto e azucrina outro.
Fiz uma prótese para ele. Ficou boa (modéstia à parte), mas na semana seguinte ele estava lá.
- Olha, isso tá machucando muito! Não dá pra usar não! - disse, agressivo como sempre.
Eu, ainda inocente - não sabia ainda o que era um homem-problema, muito menos que aquela criatura se tratava de um dessa espécie - ajustei a prótese e o marquei para semana seguinte. Muito antes ele estava de volta.
- Essa "chapa" não tá boa não. Tá machucando tudo! - disse e xingou o protético (pessoa que constrói a prótese no laboratório). Me elogiava - já disse que, por azar, ele gostava de mim? - e "descascava" no pobre profissional que tinha feito tudo certinho.
O pior é que eu examinava e via sua mucosa, realmente, machucada. Na verdade, não é que o HP (decidi parar de repetir "homem-problema", é muito grande e pode até atrair...) inventa essas coisas, mas ele tem a incrível capacidade de atrair problemas.
Na semana seguinte, a peça, em vez de vir na sua boca, veio em sua mão. Havia quebrado o grampo de metal. No final das contas, fiz outras duas próteses para ele e não cobrei. As três não tiveram bom ajuste. Perguntava a mim mesmo, onde eu errava. Foi quando me veio a resposta. Num dia de ajuste - devia ser o de número 452, se não me engano -, perguntei se ele estava bem.
- Bem nada! Essa semana fui ao hospital, pra me operar. Fiquei nervoso, minha pressão subiu e não puderam fazer a cirurgia. Aí piorei, fiquei mais nervoso ainda e tiveram que me internar... - e prosseguiu. Havia mais desgraças em seu relato. Mas eu não me lembro, ainda bem.
Foi ali que tudo ficou claro como água: o problema não era eu ou a prótese. Era ele! o HP atraía, e atrai, tudo para si.
Meses depois o vi embaixo da porta de outro dentista. Ele ficou completamente sem graça ao me ver.
- Ooooh, meu amigo. Eu vou passar com a Dra. Ciclana para ver outra prótese. Olha, o seu trabalho é muito bom, mas é que aquele protético...
Eu disse que ele estava certíssimo. Que eu fiz tudo o que podia e não consegui ajudá-lo, teria melhor sorte com outro profissional.
Saí sorrindo. Parecia que havia tirado um peso de toneladas sobre meus ombros. Mas fiquei com uma dó da Dra. Ciclana...

11 comentários:

  1. Wolber,

    Td mt bom de ler. Adorei o espaço.
    Abç

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, Wolber, simplesmente ADOROOOOOO passar aqui pra ler seus "causos".
    Nem me fale em HP, ou HM.
    Meu pai diz que esse tipo de gente, você nunca pode fazer a seguinte pergunta:
    Tudo bem com você?

    Ai meu amigo...vem o rosário todooo, vem todo o muro de lamentações na sua frente hehehe..
    Socorroooooo. E olha que aqui onde eu moro, tá lotado de gente assim.
    Eu encontro na rua, finjo que não vejo, entro correndo no carro, enfins, sumoooooooo.
    Nunca vi tantas pessoas atrairem tantos problemas na vida.
    Uma antena mesmo.

    Enfins...imagino o seu sufoco kkkkkk!

    Um beijooooooo!!!!

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  3. Olá Ira! Tudo bem?
    Muito obrigado pela visita e pelas palavras.
    Um prazer Tê-la aqui!

    Um abraço!

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  4. Olá Sil!
    Haha, você tem razão. A melhor coisa, infelizmente, é "fugir". A gente tem que pensar em ajudar, em tentar modificar as pessoas para melhor, dar conselhos e etc., mas é fundamental que a pessoa queira mudar. Senão não adianta. Gastamos saliva à toa e, o pior, um montão de energia.
    Muito obrigado pelas palavras. Seus comentários são sempre muuito agradáveis!

    Grande abraço!

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  5. Fico imaginando a familia desse camarada. A pobre da mulher e os filhos... Santos, no mínimo.

    Um beijo!

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  6. Olá!!
    Realmente, santos. Esses tem lugar garantido no céu. Entram sem precisar de documentação...

    Grande abraço!

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  7. Siento no comprender bien los que escribes. La traducción no es buena.
    Un abrazo

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  8. Olá Mercedes!
    E este texto não ajudou, imagino que a tradução de homem-problema para o espanhol deve ficar algo sem pé nem cabeça... (mesmo essa expressão rs)
    Mas bem-vinda, mesmo assim! ;)

    Um abração!

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  9. Wolber, passei pra deixar um abração!

    Bom fim de semana!!!!!!

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  10. Esse caso já virou história mesmo! Uma lembrança um tanto "desagradável", mas que felizmente nos remete a uma boa interpretação e, é claro, a importância de mantermos sempre o pensamento positivo para nossas vidas!

    Um grande abraço!

    Carlos

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  11. É isso mesmo Carlos! O difícil é "topar" com essas pessoas complicadas e, ainda assim, manter o alto astral.
    Temos que tentar envolvê-las com energia positiva e não nos contaminar com o baixo-astral.
    Tarefa árdua!! rs

    Abração!

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