domingo, 13 de julho de 2008

A chave interna (por Wolber Campos)

Meu "caminho da roça" de manhã quando vou ao trabalho é pela Marginal do Rio Pinheiros. Isso mesmo, o "limpo e cheiroso" rio que cruza grande parte de São Paulo.
Um dia o cenário estava especialmente bonito. O sol, que havia nascido não há muito tempo, estava imponente no céu azul e limpo (que, infelizmente, em geral tem uma cor acinzentada bem forte no horizonte, devido à poluição). Seu reflexo rebatia deslizando sobre a superfície calma do rio e iluminava a favela no topo do pequeno morro do outro lado da marginal.
Tudo estava tão bonito que mal conseguíamos perceber que o famoso rio paulista funciona como um esgoto ao céu aberto, beleza que até enganava nossos sentidos camuflando o mal-cheiro característico da região.
No topo daquele morro um casebre bem simples, de madeira empilhada, me chamou a atenção. Não devia ter mais do que 20 metros quadrados. Suas paredes eram feitas com uma simples - e fina - folha de madeira, daquelas que nos dá a impressão que seria perigoso espirrar ao seu lado. Porém durante as manhãs ela deveria ter uma vista previlegiada, daquelas em que, ao abrir a janela e fitar o sol refletindo no rio numa limpa manhã, pode-se esquecer por alguns minutos todos os problemas. A falta de dinheiro, de trabalho, muitas vezes de comida... Por segundos tudo vai embora, deixando apenas aquela bonita imagem gravada na memória.
Pensei no porquê de nossa desigualdade social. Num mundo evoluído, onde todos os homens pensassem em conviver em harmonia, esquecendo o egoísmo e pensando mais no bem coletivo do que no próprio, aquela paisagem ganharia contornos ainda mais maravilhosos. Em primeiro lugar o rio seria limpíssimo, pois industriais nunca aceitariam jogar seus detritos e poluir um rio lindo como aquele, diminuiriam seus lucros e tratariam seus dejetos antes de dar a eles um outro fim. Os esgotos teriam também outra saída, já que os honestos políticos deste mundo teriam dinheiro de sobra para tratá-lo. A poluição também não contornaria nossos horizontes com uma moldura cinza pois carros elétricos - que não poluem - estariam aos montes por nossas arborizadas ruas.
Então, aquela pequena casinha lá no topo do morro, seria uma das mais previlegiadas do mundo. Ao abrir sua janela de manhã, observaria o mesmo sol iluminando e refletindo, só que agora, num mundo completamente diferente. Crianças estariam nadando nas águas limpas ali embaixo, pessoas estariam correndo nas pistas de cooper que entrelaçava alegres quiosques nas margens do renovado Rio Pinheiros.
Aquele então seria um lugar concorrido para se morar. No entanto é um casebre, uma simples casinha de madeira tão comum pelas favelas do nosso Brasil.
Uma pergunta ficava me atormentando depois de voltar por essa rápida viagem por um mundo tão perfeito e acordar novamente na poluída Marginal: o que falta para a humanidade acordar e criar esse mundo?
E a resposta estava mais clara do que as águas do rio daquele Brasil utópico. Não precisaríamos esperar um governante salvador que mudaria todo um jeito de viver de uma população. Nem sonhar com um mártir que moveria multidões e renovaria a importância do amor ao próximo e de viver em paz com nossos semelhantes. Nenhuma aparição surpreendente ou mirabolante. Tudo o que precisaríamos é muito mais simples e está ao alcance de todos nós, sem excessão. Basta mudar uma chave interna - e imaginária, é claro - que nos faria agir corretamente sempre. Ética, essa é a palavra. Se todos os homens resolvessem, no mesmo instante, girar essa chave e usar a ética em TODOS os momentos de sua vida, esse mundo perfeito saltaria aos nossos olhos muito mais rápido do que imaginamos.
Com a ética presente em todos os atos dos homens nossos políticos não desviariam dinheiro e com a corrupção extinta sobraria MUITO para se investir em educação, saude, saneamento básico, o que diminuiria completamente nossa desigualdade social. Todos os homens seriam muito mais "irmãos" e não aceitariam o sofrimento alheio ou grandes necessidades. O meio ambiente seria perfeito e o lob do petróleo não seguraria o desenvolvimento de carros elétricos, combístível mais barato e que não agrediria o planeta.
E o mais curioso é que este passaporte para um mundo maravilhoso está ao alcance de cada um. E isso não é novo, não fui eu quem chegou a essa conclusão agora, não ouvi de algum amigo a alguns anos. Tudo isso foi dito a 2000 mil anos atrás, só que poucos ouviram. E hoje muitos escutam, mas não entendem. Quem sabe um dia...