quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Roberto Carlos e suas emoções...

Achava engraçado estar ali. Era um eclético musical, gostava de boa música, mas sua preferência era o rock and roll, e pesado. Porém, isso não o fazia desprezar o rei brasileiro.
Ganhou o ingresso e com prazer se dirigiu ao show com sua esposa. Para a grata surpresa dos dois, seu amigo havia lhe dado o melhor lugar: a primeira mesa da primeira fila!
- Amor, meu joelho está encostando no palco onde o Roberto irá cantar! - ela brincou eufórica.
O espetáculo passou rápido. Mesmo para quem não é fã do grande Roberto Carlos não há como negar o poder e carisma que aquele homem tem. Inebriado naquele clima já se imaginava agarrando uma das rosas que, conhecidamente, o rei lançava aos fãs no fim de cada apresentação. "Será meu troféu!", pensou.
Chegou a hora. Começou a música "Jesus Cristo", sempre a saideira. Algo estranho começou a acontecer. Sentiu como se o chão se movesse. Eram senhoras que se arrastavam entre as mesas, vindo das profundezas da plateia e se esgueiravam entre as primeiras filas, como veteranas de guerra que rememoravam os antigos embates nas trincheiras.
Sua mesa começou a se mover. Se preocupou, nem tanto pela sua saúde, mas pelos planos de pegar uma rosa do Roberto.
"Jeeeeeesus Cristo eu estou aqui!" cantava o rei, indicando o fim do show e "Bum!" as senhorinhas se levantaram como que combinadas, quase virando as mesas em frente ao palco, transformando ali como uma pista dos shows de rock que já tinha cansado de ir.
Obrigado a se levantar começou a sentir encontrões de senhoras troncudas que se acotovelavam em busca do melhor lugar para avançar sobre as esperadas rosas que seriam lançadas. Conseguir uma das flores virou questão de honra!
Pensou em dar o troco na mesma moeda, mas mal podia acertar aquele exército de tiazinhas que mais pareciam uma tropa de butijõezinhos lhe atacando. Teria gargalhado com a situação, mas tinha que manter o foco e cuidar de sua vida ao mesmo tempo.
Um rodie se aproximou de Roberto Carlos com um buquê enorme e deu uma a ele. As senhorinhas foram ao delírio. Ele aproximou-a de seus lábios, sem a beijar e a lançou. Se sentiu dentro da carga de um caminhão da Liquigaz passando pelas ruas de Carapicuíba.
Em segundos Roberto ia pegando uma rosa atrás da outra, fazendo um movimento como se beijasse, mais para uma benzida, e a atirando para suas fãs ensandecidas. Tentou, tentou, tentou... Não conseguiu agarrar nenhuma.
Na saída comentou com sua esposa:
- Inacreditável! Já peguei palheta no show do Metállica e do Pantera. Mas uma rosa no do Robertão é tarefa impossível!
Olhou para o lado, havia uma banca com "rosas do Roberto Carlos". Em sua frustração pensou em comprar uma. Mas a semelhança a uma peixaria ao lado de um rio no Pantanal o fez mudar de ideia. Além do mais, dez reais por uma rosa, que nem vinha direto das mãos do rei...
Deu a partida no carro, apesar de tudo feliz, pensado: "se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi...".