terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Borboletas

O casulo balança, ligeiramente, para um lado e para o outro. Movimentos que mostram os primeiros desejos da borboleta de sair para sua nova vida. Esforço necessário para que o pequeno ser vivo ganhe força e resistência para enfrentar todos os desafios de sua existência. Se tentássemos ajudar, abrindo as fortes paredes para que a borboleta saísse com maior facilidade, acabaríamos criando um ser frágil e que não teria forças suficientes para os futuros obstáculos que viriam.
Se comparássemos essa história com a de um pequeno bebê nascido em 1994, poderíamos dizer que envolveram o seu casulo com ainda mais algumas camadas.
Minaçu, no sertão de Goiás, é uma cidade que possui um alto índice de abandono de crianças pelos pais. Entre outros motivos há um grande número de mulheres que são levadas para tentar a sorte na Europa, em empregos duvidosos. Assim os pequenos acabam sendo criados pelos avós, ou tios.
O destino de Jenifer seguiu linhas parecidas. Sua vida foi difícil desde suas primeiras horas, nascida de uma gravidez não desejada. Logo aos 3 dias de idade foi abandonada pela própria mãe num vaso sanitário de um banheiro público. Não fosse seu tio a encontrar a tempo a dantesca cena teria um trágico desfecho.
Seu tios a criaram com muito carinho, tanto que até hoje os chama de pais.
Desde esse trauma até os dois anos passou por muitas doenças que a afligiram, principalmente a amigdalite.
- Minha infância foi muito difícil, sofri bastante com essas doenças, mas Deus me deu mais uma chance e estou aproveitando o máximo possível! – costuma dizer, sempre analisando o lado bom de tudo.
Por volta dos 7 anos seus pais começaram a notar o gosto que a pequena apresentava para cantar. Mas diferente dele, admirador de música caipira e dela que aprecia o gospel, Jenifer gostava de cantar músicas em inglês, mesmo não entendendo nada das letras.
Foi assim que decidiram levá-la, aos 8 anos, ao primeiro festival de música. Teve ali sua colocação mais discreta até hoje: um sexto lugar.
- Nessa época não conhecíamos as regras e ela não foi muito arrumada. Eles dão pontos pra roupa também! – lamenta a tia/mãe.
Depois deste festival, só vieram sucessos: venceu todos os outros concursos que disputou. Uma voz linda e afinada, um timbre suave e um grande carisma deram grande vantagem nas disputas.
De todos os concursos que ganhou guarda um deles com um carinho especial. Em 2005, aos 11 anos cantou uma música bem animada da Avrill Lavigne.
- Nesse dia eu não fiquei nem um pouco nervosa. Eu dançava, pulava, batia palma, na maior animação. E todo mundo correspondia, pulavam e dançavam. Esse eu nunca vou esquecer, até chorei de tanta felicidade. – lembra emocionada.
Seu maior sonho é se tornar uma cantora profissional. Talento para isso ela tem, mas também sabe que, infelizmente, hoje em dia não depende apenas disso. Porém se não conseguir sonha também em ser médica. Adoraria poder salvar a vida de outras pessoas.
Pelo que já conseguiu ultrapassar até aqui, quem pode duvidar? Quem sabe o destino não colocou as dificuldades em sua vida justamente para que ela pudesse se sair delas mais forte. Como uma borboleta, consiga passar pelos obstáculos para alçar vôos cada vez mais altos.