sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bonzinho só "toma na cabeça"?

Pergunta que não cala. Muitas vezes me pego pensando sobre isso. No final dessa viagem tive uma dura lição.
Sempre faço questão de cumprimentar com um sorriso, perguntar o nome das pessoas que me atendem, enfim, não importa se estou ali para ser atendido ou não, tento fazer o trabalho do outro ser mais agradável, pois gosto que façam isso comigo. Infelizmente, muitos não enxergam assim.
No final do trabalho, tive a oportunidade de tirar alguns dias de descanso. Ficaria em uma pousada, Wanderson - amigo e dentista que viajou comigo - ficaria com sua namorada, na casa ao lado.
Wilson, o dono, me recebeu bem, apresentou a pousada, e assinamos a estadia, até quinta-feira.
Segunda, meu primeiro dia inteiro no local, voltei de uma longa trilha, bem cansado - e muito feliz! - quando ele me disse:
- Ah, viu, você vai ter que sair na quarta, depois do café. Houve um problema com a reserva. Mas vou ver se consigo alguma outra pousada pra você. Tá difícil... - disse como se eu não tivesse outra alternativa.
Estava cansado, não pensei muito, e deixei meu lado "sussas" falar na minha frente, antes que eu o calasse:
- Sério Wilson? Que pena. Bom, vou descansar, depois a gente vê o que faz. - disse e fui para o quarto.
Na cama comecei a pensar o que teria acontecido, se tudo estava certo até quinta. Tinha ouvido falar de algumas pessoas que pensam muito em dinheiro e dão certas "mancadas". Era muito provável que ele havia recebido uma proposta de duas pessoas, onde ganharia mais, visto que eu estava sozinho num quarto de casal.
Dia seguinte resolvi parar de ser bobo (ou bonzinho, visto que, infelizente, essas palavras se misturam nos dias atuais, por causa de tantos malandros e aproveitadores). Fui até o dono e perguntei:
- Wilson, queria saber por que você mudou a palavra do que havíamos combinado no domingo? - disse sério, e meu sorriso de bonzinho, ou de bobo, como queiram, havia sumido. Tentei lembrar de alguns filmes onde alguns caras faziam cara de mal e acho que me saí bem, pois ele gaguejou e respondeu:
- Veja bem, não é que eu mudei, houve um problema na reserva, marcaram duas juntas, inclusive, o rapaz será mandado embora... - e continuou se explicando e se enrolando.
- Tudo bem, acontece. E você concorda que eu não tenho nada a ver com isso, certo? - perguntei, quase exultante em fazer papel de bravo. - Agora como fazemos? Tenho um blog, que colocarei um diário dessa viagem, lido por mais de 4000 pessoas (eu sei, menti, são mais de 4000 visitas, mas achei que teria mais resultado assim) e o que você imagina que eu direi sobre sua pousada?
- Eu sei, pode falar mal a vontade, quanto quiser. Não tenho nem o que falar. - disse, já nervoso.
Dei por encerrada a conversa, chateado por sair de onde já estava, e ficar longe de meus amigos. Mas fiz minha parte.
Dia seguinte, no café da manhã, Wilson me chamou:
- Viu, consegui arrumar aquele probleminha. A mulher que viria não poderá vir. Pode ficar tranquilo até quinta.
Fiquei entre feliz e chateado ao mesmo tempo. Fosse eu "gente boa", compreensível, estaria em outro lugar, praticamente expulso da pousada. Como fui "casca grossa", o dono fez questão em me ajudar e resolver o problema.
Que inversão de valores!
Estou um pouco desanimado, não queria que fosse assim. Espero estar errado. Mas há alguns casos em que ser simpático pode não ser uma boa alternativa.