sábado, 21 de março de 2009

O amor

Todo dia ele era o mesmo atencioso e apaixonado namorado. Cuidava de sua amada com um carinho difícil de presenciarmos hoje em dia. Pela manhã passava creme em seus ondulados e maltratados cabelos, vagarosamente, pra ter certeza que espalharia perfeitamente e os deixariam mais bonitos.
De noite, deitava-se ao seu lado completamente solícito, aquecendo-a das noites frias daquelas semanas. Suas mãos acariciavam o braço de sua pequena, até que o sono o impedisse de continuar com seus abnegados cuidados.
Outro dia podia-se ver a barriga de sua companheira crescida, já de uns 4 meses. O futuro pai, agora, passava a mão ali, com todo o cuidado, como se já sentisse nos próprios dedos o filho querido. Pelo seu sorriso percebe-se que não pensa muito no futuro da criança. Será áspero? Terá muitas privações? Pouco importa. Quantas crianças hoje em dia tem um pai que ama seus filhos com todas as suas forças?
Sua história poderia passar despercebida em meio a tantos casais apaixonados pela cidade. Afinal de contas – e graças a Deus! – o amor ainda está por toda parte. Seja em ricos ou pobres, cultos ou ignorantes, jovens ou velhos, o amor é o sentimento mais democrático que temos. A única necessidade para tê-lo é estarmos vivos. E pobre daqueles que não o tem, seja pela família ou por amigos...
O que chama a atenção em sua história é o local onde moram. Não por ser em Pinheiros, bairro de classe média de São Paulo ou pela rua, a Mourato Coelho, uma das mais movimentadas da noite paulistana e nem por ser na frente de um grande supermercado 24 horas. Mas sim pelo fato de sua cama de casal – dois finos papéis de papelão – ficar na calçada, embaixo da janela de vidro onde pessoas adentram a noite fazendo suas compras.
São jovens moradores de rua. Não sabem sobre seu futuro, não imaginam como será o de seu filho. Apenas sabem que se amam.