quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dinheiro fácil

Quando se faz um trabalho social, tem-se uma reputação a zelar. Deve-se tomar extremos cuidado com exemplos e conselhos. Muitas pessoas acabam depositando sobre você grande fé e confiança e, mesmo em meio a alguma brincadeira e bagunça, a essência deve ser boa.

Certa vez, na cidade de Palmas-TO, acabamos o trabalho na escola e combinamos um luau com alunos e amigos. Não sabíamos, mas a 20 minutos da escola, havia uma cachoeira, não muito grande, mas muito bela, em torno de 1,80m, que caía suavemente sobre um pequeno lago, tocando aquela suave e intensa música da natureza.

Luis, a descobriu na saída fotográfica que faz com seus alunos, na oficina em que ensina a arte da fotografia digital. Um pequeno exemplo do quanto essa capacitação mexe a vida dos adolescentes das escolas são garotos que encaram a fotografia como profissão, como é o caso de Givanilson, da cidade de Balsas-MA, que trabalha em uma empresa tirando fotos de eventos e casamentos, ou da Joyce e Suedivaldo, que melhoram a cada dia suas técnicas e já possuem seus blogs fotográficos.

Durante a tarde, Luis conheceu o lindo local e, automaticamente, pensou no violão de noite. Conversou com o "tiozinho" dono do simples bar que ficava ao pé da cachoeira que garantiu: "Então eu espero vocês com o bar aberto de noite. Pode ficar tranquilo que estarei por aqui!!".

Quando chegamos à noite o bar estava fechado. Chamamos, batemos palmas, assoviamos, oramos. Em vão, nem sinal do homem, que àquela hora devia estar curtindo seu "fogo".

"Não é possível, não trouxemos nada, água, cerveja, ou refrigerante", pensamos naquele breu do centro do Brasil. Até que um amigo falou:

- Olhem só, sempre há alguma falha a ser encontrada... cresci abrindo casas para brincar, conheço possiveis formas de abrir algo... - disse checando as grades e cadeados que lacravam o boteco de madeira rústica. Até que de repente “trec”, uma grade se mexeu. Estava aberta! Comentamos com os amigos locais que iríamos entrar como amigo do dono, anotar tudo e deixar o dinheiro depois. Assim, um de nós entrou, pegou as latinhas e fomos para o luau. Seguimos, assim, o procedimento noite afora.

A lua seguia alta, iluminando apenas o suficiente, completando a chama trêmula da fogueira ao pé de uma grande árvore.
No final contamos as latinhas e imaginamos quanto seria se ele cobrasse caro. 3 reais cada uma? Daria uns 36 reais, cobrando caro. Deixamos um bilhete, pedindo mil desculpas por entrar no bar sem ele estar presente, informando o que tomamos, e um dinheiro em cima: 50 reais.
No dia seguinte, o homem deve ter pensado: "Foi o dinheiro mais fácil que já ganhei...".

P.S.: Esterei em viagem até a terça feira, 28/09. Abraço a todos!

domingo, 19 de setembro de 2010

Um dia de atendimento

Que imagem temos quando pensamos em um dentista? Um consultório sóbrio, sério. Um profissional que chegará de branco para atender em uma sala, a sós. Medo. Infelizmente, não são boas as nossas primeiras impressões.
Tentamos fazer diferente. A idéia é montar um consultório dentro da sala de aula de escolas no sertão brasileiro, então por que não dar às crianças uma outra imagem? De que o dentista pode brincar com a crinçada enquanto atende, dar risada com elas, jogar água para acabar com a bagunça, pegar o violão durante alguns minutos do dia. Já ouvimos muitas crianças dizendo que morriam de medo e resolveram passar ali, serem atendidas dentro da sala de aula.
Não se trata de um texto narcisista, de modo algum. É apenas uma amostra de como os dentistas do Instituto trabalham. A idéia, também, é ter as crianças próximas, olhando, aprendendo porque o dente do amiguinho está com aquele buraco enorme - como o seu - e o que ela precisa fazer para não ter esse problema nunca mais.
É completamente agradável, são muitas as vezes que crianças ficam o dia inteiro ali, ao meu lado, brincando, aprendendo, cantando. Não é à toa que trabalho muito mais tempo que em meu consultório, em São Paulo, mas me canso muito menos. Ou melhor, não me canso.


A professora que filmava não enquadrou muito bem... :) Mas dá para ter uma idéia.
Atendimento na querida escola do Pé do Morro, em São Raimundo Nonato-PI.