quinta-feira, 21 de novembro de 2013

São Paulo

Nasci aqui. Apesar de tudo, amo esta cidade. Curioso este "tudo". São muitos os problemas e seriam muitas as soluções, caso vontade política fosse algo natural em nosso país.
"Gostaria de sair daqui, mas não consigo. Não saberia viver no interior" é uma frase comum entre conhecidos. As facilidades de uma megalópole, o teórico salário melhor (que é uma ilusão, visto que o custo de vida é muito maior), acesso cultural, entretenimento, vida noturna e uma infinidade de coisas que nos hipnotizam e dão a impressão de que é impossível sair de São Paulo. E isso leva muitos paulistanos a viver de uma forma nessa roda que gira, gira, gira e faz tudo parecer natural, normal.
Mas não é.
Uma das loucuras que temos, aliás, um dos maiores problemas além da violência, é o trânsito. Incrédulo vejo que pessoas se acostumam a se deslocar, duas, três horas ou mais, para chegar ao trabalho, todo dia! E mais, duas, três ou mais para voltar.
Quando percebi que já havia quase dez anos que eu perdia (sim, do verbo perder, de jogar fora horas que seriam produtivas para algo) em torno de três horas por dia apenas me deslocando entre casa e trabalho, consegui sair da "roda viva" para enxergar: ou mudava para perto do trabalho, ou sairia de São Paulo.
Em pensar que uma hora por dia, sendo usada para estudo, planejamento do trabalho, qualquer coisa, renderia muito. Um novo instrumento que aprendesse, em uma hora por dia, me tornaria habilidoso em um ano. E eu perdia três...
A última insanidade que vi foi contra os pobres sabiás. Paulistanos enlouquecidos reclamam que a bela ave canta muito cedo e atrapalha o sono. São Paulo faz isso conosco, pois se é um ônibus, um caminhão de lixo de madrugada, o trânsito que já grita antes do sol raiar, as pessoas acham normal.
Talvez o passarinho nos lembre que já vivemos em paz com a natureza. De uma época em que o homem não precisaria perder horas preso dentro de um veículo, ao lado de outros milhões como ele, todos presos, preocupados com horários, regras, medos e se esquecendo de viver.

domingo, 20 de outubro de 2013

Clareamento dentário e o mundo atual

O mundo atual apresenta duas coisas perigosas que, como já disse neste blog, não são frutos do capitalismo - antes que me digam isso - mas da deficiência moral do ser humano. Uma delas é a ambição da indústria, outra, a tentativa de "esperteza", também conhecida como malandragem ou lei de Gérson.
Muitos me perguntam no consultório sobre o clareamento dental, com dúvidas e "pé atrás" sobre a eficácia, ou perigo, dessa enxurrada de novos materiais e propagandas que prometem um sorriso mais branco.
O perigo mesmo ocorre quando essa dúvida não existe. Aí, muitos passam a acreditar em qualquer nova promessa, pois os géis clareadores não são considerados medicamentos, onde teriam que passar por um rigoroso teste da Anvisa, mas sim, cosméticos. E o uso passa a ser indiscriminado, havendo o mesmo risco das auto-medicações.
O peróxido de hidrogênio, componente básico dos produtos clareadores, tem a capacidade de potencializar a carcinogênese das mucosas, ou seja, levar ao câncer da mucosa bucal, oro-faríngea ou mesmo do trato gastrointestinal, com seu uso incorreto ou sem acompanhamento.
Para se ter uma idéia, no consultório, o dentista constrói uma barreira de resina para evitar que o gel encoste na gengiva, o que levaria a uma queimadura e, quando indica uma moldeira para uso em casa, acompanha a evolução de aplicação de um gel mais fraco, que fica em contato com o dente durante 4 horas por dia,  por semanas seguidas, examinando possíveis alterações na mucosa e infiltrações nas restaurações pré-existentes.
Comprando o produto em uma farmácia, a pessoa não tem uma noção sobre seu estado de saúde bucal, margens de suas restaurações e o pior: sobre a concentração do peróxido que estará o usando, ingerindo ou tocando sua gengiva.
Índices de institutos de oncologia atestam que a incidência de câncer bucal aumentou consideravelmente em adultos jovens, de 35 anos. Há 10 anos atrás os pacientes afetados tinham, em média, mais de 50 anos. Ainda é cedo para dizer que está associado à crescente procura de clareamento dentário sem controle. Será que é cedo?
O lado mais incrível, e preocupante, desta história toda, é quando isso ainda se junta aos "espertalhões", que em sua "malandragem" acabam prejudicando sua vida e a de muitas outras pessoas. No Facebook, há algum tempo atrás, vi uma postagem de uma pessoa com terceiro grau completo e que acreditou em uma dessas pessoas, que clamava sobre os "maravilhosos poderes da água oxigenada", como fazer bochechos diários para clarear seus dentes. Não imaginando que pode estar induzindo muitas pessoas a ter câncer bucal num futuro breve.
Hoje é fácil encontrar sites que ensinam vários truques para usar peróxidos para o branqueamento dos dentes até com (pasmem!) o produto alvejante de limpeza Vanish.
Cada pessoa é livre para escolher seus caminhos, mas deve, no mínimo, procurar saber mais sobre os riscos que estará impondo sobre sua saúde. E a obrigação de cada profissional da área é alertar sobre esses perigos.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Inversos

Viver em São Paulo trás algumas coisas, uma delas é ter uma saudade imensa da natureza. Essa saudade está tão enraizada no homem - o único animal que resolveu fugir dela, construir prédios de concreto, cobrir o solo fértil com asfalto e viver em gigantes gaiolas de concreto - que mesmo alguém que nasceu neste meio, sente uma paz enorme ao fazer um passeio por uma Chapada Diamantina, visitando cachoeiras e vendo paisagens de tirar o fôlego.
Uma das maiores alegrias, foi mudar para uma casa que possui um pequeno quintal, e nele um quadrado de grama, já o suficiente para pisar descalço e lembrar que a natureza ainda existe por aqui.
Ali, resolvemos colocar alguns pequenos potes com alpiste, atraindo alguns amigos alados para essa morada.
Em algumas semanas, eles começaram a nos visitar. Várias espécies vem apreciar o banquete farto durante todo o dia e assim aprendemos a diferenciar os pássaros. Alguns são solitários, outros, como os pardais, nos visitam sempre em casal, e fomos nos apegando, sabendo até qual era macho ou fêmea, mais bravo ou manso.
Em uma viagem à Diamantina, sentei bem cedo para o café da manhã, o dia abria bonito. Um pequeno barulho no chão próximo à porta: um lindo pássaro. O olhei como se fosse um amigo, já que estava com uma ótima ligação com seus parentes paulistas.
Pluft! Outro pousou sobre as costas de uma cadeira e em alguns segundos, o primeiro voou certeiro sobre a mesa do café, dando algumas bicadas em um dos pães que ali ficava. Automaticamente o rapaz do hotel correu com um pano, espantando os dois pássaros, dizendo algo algum tipo de som, como se espantasse moscas.
O fato se repetiu mais umas três vezes, entre sorrisos e pensamentos de como é viver em um lugar com natureza de mais e em outro com natureza de menos...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O único problema

As mais diversas teorias já foram formadas para explicar as mazelas em que vive a sociedade humana. Outras tantas já surgiram para dar a direção ideal para a humanidade seguir adiante e conviver em paz. 
Miséria, fome, doenças, corrupção, violência, guerras, ambição desmedida, já foram jogadas como filhas do capitalismo. 
O socialismo reinou em alguns países e tampouco conseguiu melhorar a história, se mostrando agressivo e limitando a liberdade de seus cidadãos tanto quanto as ditaduras de direita. 
Seja o que for, tudo o que pode melhorar a vida do homem esbarra em um único e simples problema: o ser humano. 
Seja qual for o sistema, a ideologia ou a história de qualquer povo, agisse com respeito ao próximo e pensamento no coletivo, todo lugar seria um paraíso a se viver. 
Um dos grandes males atuais, a desigualdade social, faz o cenário para uma luta de classes, onde muitos pintam ricos ou empresários como o problema. Mas alguém acha que uma pessoa rica paga poucos impostos? Ou um empresário, que consegue fazer sua empresa sobreviver apesar de tanta burocracia ou taxas sufocantes impelidas ao seu negócio, que gera empregos que ajudam milhares de famílias e mais impostos, não cumpre sua parte?
O fato é que esse imposto não volta para o povo na forma de educação, saúde, saneamento básico, como deveria. Fica no bolso de seres humanos corruptos. 
A mesma quantidade de pessoas desonestas há em ricos, ou pobres, capitalistas, socialistas, católicos, evangélicos, ou seja lá os adjetivos usados. 
Pegássemos todo o dinheiro do mundo e dividíssemos igualmente para cada habitante deste planeta, há alguma dúvida que em dois anos teríamos ricos e pobres, do mesmo jeito? 
Isso não é culpa do capitalismo. Há pessoas irresponsáveis, que torrariam o dinheiro sem se preocupar e esperariam dos outros o sustento. 
Já ouvi de amigo, formado e instruído a seguinte frase: "a gente fala dos políticos, mas se estivesse lá, quem não roubaria também?".
Esse egoísmo é o problema. A vontade de melhorar a si mesmo, não se importando com o coletivo, é o que causa todas as mazelas da humanidade. Não melhore este pequeno defeito interior, podemos ter o sistema que for. 
E tudo começará a melhorar quando respondermos a essa pergunta: "não, eu não roubaria também!".

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Médicos, saúde e política

Nosso país, neste momento de transformação, passa por uma delicada situação. A história dos médicos cubanos - ou de qualquer outro país - a serem importados, mostra uma de nossas maiores mazelas: a chaga da má política que temos no Brasil.
O enredo desta história é o seguinte: o governo não retorna os impostos corretamente à população como deveria (na forma de saúde, educação, saneamento e tudo o mais que temos direito), as pessoas reclamam, ele procura algo para desviar o foco e atira outro para a fogueira em seu lugar, neste caso, os médicos.
Dizer que a saúde em frangalhos que temos em nosso país é por causa dos médicos que não querem ir para o interior é exatamente a mesma coisa que dizer que o problema da educação aqui é culpa dos professores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza como ideal a proporção de 1 médico para cada 1000 habitantes. Aqui no Brasil, pasmem, a relação observada é de 1 para cada 622 habitantes. Bom, parece claro que o problema real não é a falta de profissionais. Desse modo, a idéia inicial de construir mais faculdades parece estúpida.
E em relação às cidades de interior que carecem de profissionais? Chegamos então ao problema estrutural. Será que alguém acredita que médicos são tão ricos a ponto de desprezar um salário de 20, 30 mil, ou mais, oferecidos em cidades com um custo de vida baixíssimo, onde poderiam ficar um tempo e guardar uma poupança generosa?
É sabido muitas cidades pequenas não suportam pagar esses salários e, geralmente, no terceiro mês o médico não mais o recebe. Agora, ele deixou sua cidade, família, amigos para ir a uma longínqua cidade e não receber um bom salário.
E ainda se depara com uma situação muito pior: trabalha em lugares sem estrutura alguma, uma fila enorme, muitas vezes com risco de ser agredido, como se fosse sua culpa a demora em atender. Ouvi casos como o de um colega que, atendendo uma emergência, foi surpreendido por uma família de 4 pessoas que caíram da moto (há lugares onde 4 ou cinco pessoas andam na mesma moto) com fraturas múltiplas. Se imagine nesta situação, possuindo apenas um estetoscópio para examinar.
Entre tudo isso, a idéia de injetar mais dois anos na formação do profissional é ainda mais grotesca. A medicina já leva em sua maioria mais de 8 anos de formação (6 de faculdade mais 2 de residência). Fazer um médico sair da faculdade após dez anos de estudo é como uma punição, como se fossem os culpados por toda uma tragédia que temos na saúde pública do Brasil.
Tragédia que foi causada por décadas de desvios de recursos públicos que deveriam ser destinados para a saúde da população e apenas fez encher os bolsos dos verdadeiros culpados. Culpados pela morte de milhões de brasileiros. Culpados por cada um que sofre numa maca de um corredor de hospital público de um grande centro, ou num posto sem recurso do interior. Esses sim, os verdadeiros culpados de um crime imensurável de tão cruel.
Minha consideração a todos os médicos deste país. Que toda esta injustiça não passe de mais um desvaneio de um governo amedrontado que não está sabendo lidar com um povo que está cada dia mais consciente.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Manifestações e foco

Depois da euforia em torno das manifestações, da alegria em ver que não eram apenas você e seus amigos que conversavam revoltados sobre toda a bagunça que acontecia em nosso país, é preciso ter atenção a este momento. Dele em diante pode haver uma moralização e uma caminhada rumo a um país melhor, uma "baixada de poeira" e o Brasil continuar o mesmo país injusto e campeão de corrupção ou, na pior das hipóteses, dar o caldo para piorar uma situação que já era ruim.
Em uma palestra na última semana, dois jornalistas e economistas americanos mostraram sua visão consciente de todos esses acontecimentos passados por aqui nas últimas semanas. Além de especialistas em análise de cenários mundiais, ainda levam a vantagem de olhar de fora, sem a visão apaixonada ou extremamente crítica de um brasileiro.
Sobre as manifestações, foram categóricos:
- Enquanto muitos perguntam o que levou a essas manifestações - de uma hora para outra - nós, de fora, temos outra visão: por que elas demoraram tanto a acontecer?
Discorreram sobre a série de absurdos que o país viveu nas últimas décadas e, principalmente, nos últimos anos.
"Após retomar a democracia, colocar a economia no prumo, ver tantos escândalos de corrupção, políticos que desfilam com um slogam de que rouba, mas faz, e é sabido que tem milhões de dinheiro do povo, desviado, no exterior, um governo que profissionalizou o esquema de corrupção, que se generalizou tanto na camada política ao ponto da situação comprar a oposição, gerando o mensalão. Um esquema descoberto que gerou condenados que ainda desfilam livres.
Todos esses acontecimentos geram uma sensação de impunidade que corrói todo o sistema de uma sociedade e vemos uma violência crescente onde um cidadão entrega um celular ao bandido, na frente de casa e, ainda assim, leva um tiro na cabeça. Um bandido que mata uma criança de 5 anos, na frente dos pais, porque ela chora. Um jovem que dirige fazendo zigue zague entre cones da ciclofaixa, atropela e arranca o braço de um rapaz e ainda joga o membro no rio."
E seguiram com uma série de casos - todos acontecidos a pouco tempo e vamos deixando de lado - que iam trazendo novamente a revolta de cada fato ocorrido.
- E chegamos a uma conclusão no porquê demorou tanto a ocorrer esse grito do povo diante tanta barbaridade que ocorre por aqui, quando a Argentina, Venezuela e tantos países neste nível de absurdos pelo mundo, já tinham saído às ruas antes. Muito provável pela política populista que vem sendo aplicada à população durante anos, principalmente o Bolsa Família.
Mostraram alguns cenários que podem seguir a tudo isso que vivemos e o maior receio é que um movimento como este, sem um líder, apartidário, com muitas vozes, pedidos, na maioria com sincero desejo de mudança e boa vontade, mas genéricos e sem uma conduta coerente e escrita de como chegar lá, tipo "acabar a corrupção, mais saúde, mais educação", venha a ser arrebanhado por um líder populista, que tenha um grande poder de persuasão, um bom discurso, mas sem boas intenções ou capacidade.
Um ótimo exemplo é nossa vizinha Argentina, que após manifestações quem liderou foi Nestor Kirchner Com ótimo discurso, se tornou a voz do povo, porém levou a Argentina onde está e ainda colocou sua esposa como presidenta, que agora tenta intervir no maior meio de comunicação do país, que veicula uma série de casos de corrupção na administração do casal.
Por tudo isso este momento é delicado e cabe ao povo brasileiro se informar, discutir e tentar levar o país em uma reta ascendente, longe do perigo de, não só perder o bonde do progresso, mas de pegar o atoleiro da mazela populista.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Um novo tempo

Estamos vivendo um momento histórico. Não, o Brasil não acordou agora. O brasileiro consciente está acordado há tempos, se indignando com tantas coisas erradas, inconformado com a ousadia das pessoas que lideram politicamente nosso país, revoltado com a audácia de cometerem tantos crimes diante de nossos narizes sem se importarem - como se fôssemos inúteis letárgicos que nunca reagiríamos -.
Ledo engano dos maus governantes da nossa nação. E disse nossa, porque é NOSSA, e não apenas deles como imaginavam e, infelizmente, como uma parte do nosso povo ainda acredita. 
O brasileiro veio se conscientizando com o tempo que pagamos os maiores impostos do mundo, sendo dos países mais desiguais do Globo terrestre!
É para se exultar de alegria. Se não perdermos o foco, se esses protestos seguirem a cada ato desmedido, a cada votação hedionda - como a pec 37 ou aumentos dos próprios salários e cortes nos dos educadores - se nosso povo realmente se manter erguido e gritar a cada falcatrua dos péssimos dirigentes que temos, o Brasil seguirá no caminho do bem, de um país justo e bom para se viver. 
É um momento histórico. O impeachment do Collor também entrou para a história, mas comparado ao que pode ser este o momento atual é um fato menor, mais infantil. Aquele ato foi claramente controlado pela mídia, que ainda tinha um poder total sobre a massa. O que vemos hoje partiu da própria população e, numa incrível diferença, com crítica agressiva a vários setores da mídia que tentaram manipular novamente o povo. Neste ponto enorme agradecimento às redes sociais que mostram a verdade num mundo onde cada câmera em celular transforma o cidadão em próprio repórter dos acontecimentos. 
Uma boa metáfora "o gigante despertou", mas não é real. O gigante despertara há muito tempo, é que só agora resolveu agir. 
Vida longa, gigante!!!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Definição

Em uma cidade do sertão, o dentista voluntário atendia noite adentro. A comunidade quilombola em que estava tinha uma carência enorme de atendimentos odontológicos e aquela oportunidade poderia ser única para muitos ali. Por isso, perto das 10 horas da noite ele ainda seguia adiante. 
Um garoto que estava, grande parte do dia, ao seu lado lhe perguntou:
- Lá em São Paulo você também trabalha até tarde assim?
Ele, sem pensar, respondeu:
- De jeito nenhum! Ficar até tarde assim no consultório eu não fico por dinheiro nenhum. - parou, pensou e continuou - Só de graça...
Disse e, sorrindo, continuou atendendo. 
O garoto não entendeu, talvez ainda fosse novo demais pra entender a profundidade daquela definição. 
Ou talvez pela tamanha simplicidade daquela definição, ela fosse difícil demais de ser compreendida. 

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Experiências pessoais

O ser humano, realmente, é um bicho muito estranho. Na sua maioria segue um padrão que, mesmo que queiramos usar boa vontade para mudar e melhorar, acabamos "batendo a cabeça". 
Por ter feito muito trabalho social, quando abri minha clínica, procurei fazer nela um ambiente extremamente agradável, não pensando ser utopia ter um clima completo de amizade entre todos que trabalhassem lá dentro, sejam dentistas, secretárias, ou faxineira. 
Alguns amigos, que se formaram em administração e engenharia, me aconselhavam quando eu falava sobre meu local de trabalho: "cuidado, o patrão não pode ser bonzinho assim", "tem que ser justo, mas não pode amolecer", "você pode ser o cara mais legal do mundo com funcionário, quando precisar fazer algo que ele não concorde, vai reclamar e você será o pior cara do mundo!".
Agradecia os conselhos, mas achava que podia ser diferente, afinal de contas, o clima de trabalho na clínica era uma delícia. 
Ultimamente tive as desagradáveis provas de que eles, para minha total tristeza, estavam certos. Quando o rumo que a clínica tomava começou a seguir uma linha que as fez sair de sua posição de conforto, como ter que ser empenhar mais, começaram a apresentar um comportamento ríspido e até agressivo quando não concordavam com algo. Como se trabalhar naquela empresa fosse um favor que faziam a mim. 
Todas as vezes que relevei faltas sem descontar no salário, almoços em restaurantes bacanas em dias de comemoração, deixar estudar no trabalho em dia de provas, não se incomodar com entrar na internet pessoal durante o expediente e outras regalias que desfrutavam, nada mais contava. Era como se, de repente, lutassem contra um vil chefe.
E o pior: "Inês é morta!". Como um pai que só percebe que educou mal um filho, lhe dando tudo o que pedia e, quando este vira um adolescente mal criado, não tem como desatar as mãos, vi que não há mais nada a fazer. A não ser ter aprendido a lição e não errar da próxima vez. 

domingo, 5 de maio de 2013

Duas escolhas

Atualmente é comum repararmos no atendimento, seja qual for o serviço que procuramos. A pessoa que ainda não percebeu que a boa sobrevivência no mercado, hoje em dia, está completamente ligada a um bom atendimento, está na contra-mão da evolução do mundo, seja ela material ou espiritual.
E isso é o que mais entristece quando vemos um trabalhador insatisfeito, com sua vida e descontando essa infelicidade em todos que pode. Você deve tratar bem a pessoa que atende não só porque recebe por isso (o que já seria um bom motivo) mas porque é um ser humano e merece todo o respeito possível.
Quando uma pessoa nos atende mal, é mal educada, temos duas alternativas: sermos impregnados com aquele mal humor e remoer aquilo, revidando e levando conosco tudo de ruim - o caminho mais fácil e mais comum -, ou tentarmos impregná-lo com nosso bom humor e melhorar sua vida. É uma escolha.
E como é difícil seguir o melhor caminho, mais feliz e menos doloroso. Mas cada dia é um aprendizado e uma nova chance para colocar bons hábitos em prática.
Se alguém erra, não precisamos errar juntos...

quarta-feira, 20 de março de 2013

O poder do exemplo

Já ouvi pessoas dizendo que a novela das 21h mostra a vida como ela é. Que o programa do Datena (ainda existe?) é importante, pois mostra a realidade. Não concordo com nenhuma delas!
As coisas boas superam, em muito, as más. Claro que existe maldade, crimes, violência, ocorrendo por aí, mas fosse na proporção que aparece na TV, estaríamos perdidos! O problema é o foco nas coisas ruins, e o pior: o exemplo.
Em um interessante debate com um amigo ele foi de uma razão cruel: "a televisão passa o que as pessoas querem ver, que dá lucro a ela. Existe a TV Cultura, com uma programação instrutiva, cultural e educacional. Quantos a assistem? Compare com o Ibope do Big Brother Brasil.". Triste realidade.
Porém acho que uma emissora tem um papel muito grande na construção de uma sociedade. Uma criança que cresce vendo nas telas crimes, traições, luxúrias, ambições desmedidas, pode achar que é certo agir desse modo.
Claro que pessoas bem esclarecidas podem jogar games onde "metralham" o exército inimigo, policiais e até cidadãos comuns, desligar o Play Station e ser um cidadão pacífico, sem se alterar. Mas é inocente quem acha que os assassinos que fuzilam alunos em escolas, cinemas ou pelas ruas, nunca jogaram ou foram incentivados por esses programas.
Todas as mídias deveriam forçar o contrário, passar coisas positivas, que melhorem a sociedade. Inverter a proporção desgraça x mundo bom, que temos hoje. Forcem as pessoas a ver apenas coisas boas, deixem as crianças crescerem apenas com bons exemplos, para que se choquem quando observarem algo errado e não que se acostumem com ele.
Utopia? Pode parecer. John Lennon sonhou com um mundo assim mais de 30 anos atrás. Jesus a mais de 2000.
Sim, é possível.

" you may say I'm a dreamer, but I'm not the only one. I hope someday you will join us and the world will be as one"
John Lennon

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Luva de pelica

Em uma cidade do interior dois homens conversavam na fila de um caixa eletrônico. Falavam alto, como se o assunto fosse de relevância transcendental e de interesse a todos. Uma senhora elegante e bonita caminhou à máquina quando chegou sua vez. Um não se conteve e comentou para o outro:
- Olha lá, o mamazão daquela mulher! - falou pouco mais baixo, porém, o suficiente para os que estavam em volta escutar.
- Deixa de ser tonto, você não tá vendo que aquilo é selicone? - disse o outro, indignado.
- Será?
- É claro, olha lá! Selicone, na certa!
Um senhor que estava do lado, caminhou na direção dos dois, elegante, colocou a mão ao lado da própria boca, como quem queria falar em segredo, mas respondeu na mesma altura que os homens:
- Eu garanto pra vocês que é natural. - disse, se encaminhou para a bela senhora que havia acabado de retirar o dinheiro, a abraçou e sairam pela porta do banco.
O silêncio enorme só era quebrado por alguns baixos risos que escapavam de um ou outro cliente da fila. Os dois se escondiam na própria vergonha e na dor, muito maior do que se o homem houvesse resmungado, esbravejado ou os agredido.
Na realidade, se tivesse ocorrido qualquer agressão, seria a salvação dos dois. A chance de mudar o foco, de passar a agressão para o outro lado. A chance que não teriam...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Amizade é...

Era final de um grande projeto, de início no Ceará e término no Pará, na cidade de Primavera.
A última noite é sempre muito especial. Apesar de ser um trabalho leve espiritualmente (pois fisicamente é uma prova de resistência!) sempre se começa com a grande responsabilidade de ter muitos pacientes a atender, crianças com dor, adultos que nunca usaram próteses, enfim, a expectativa de não saber o que encontrará pela frente e ter de lidar com a saúde de muitas pessoas.
Ele faria as próteses. Dezenas e mais dezenas de pessoas para moldar durante o dia, confeccionar a primeira parte das próteses de noite (alguns casos passando das 22 horas), tirar uma prova no dia seguinte e embalá-las com cuidado, para que nenhuma distorção aconteça na volta para São Paulo, onde elas seriam finalizadas.
Tudo foi intenso e muito cansativo, porém, extremamente gratificante. Naquela noite a sensação de dever cumprido aliada ao impagável contentamento por ter ajudado tantas pessoas o deixava inebriado.
Olhava para seus amigos e sentia um orgulho geral, de cada um que havia participado da equipe. Em meio ao calor úmido e intenso que o envolvia, percebeu o prazer que eles tomavam a Cerpa, cerveja local, bem gelada. Não tinha costume de beber, mas todo o conjunto o levou a experimentar aquele néctar que seus amigos tanto falavam.
Foram algumas cervejas, menos do que seus amigos haviam tomado, mas para um "iniciante" o bastante para amanhecer com uma considerável ressaca.
Entrou na van, a caminho de Belém, onde pegaria o avião para casa, e o mundo parecia girar, só que em torno de si mesmo. Escolheu, estrategicamente, o lugar junto à janela, no último banco e tentou dormir. A cada solavanco do carro porém, seu estômago embrulhava e desembrulhava. O vai e vem da estrada o faria fatalmente colocar para fora tudo aquilo que insistia em continuar a festa da noite anterior em seu estômago.
Após uma curva não resistiu, mas não faria um estardalhaço por causa disso. No carro todos dormiam, abriu a janela, pôs a cabeça para fora; percebeu que havia dois motoqueiros na faixa do lado, quase ultrapassando a van, mas não deu tempo: goooooooooooorf!!! Colocou para fora metade da cerveja tomada na noite anterior.
Suspirou aliviado. Recostou no banco contente por todos continuarem nas mesmas posições. Ninguém perceberia seus revertérios. Pensando nisso, outra rajada de mal estar o acometeu, se precipitou novamente janela afora. Nesse momento os motoqueiros, sabiamente, já estavam lá atrás, preferindo tomar distância daquele voluntário feroz.
Para completar o paradoxo só restaria saber se os motoqueiros bebiam. Seria curioso dois motoqueiros com caras de mal, jaquetas de couro, motos estilo Harley, serem abstêmios e um voluntário bonzinho de uma ong vomitando pela janela por ter exagerado na bebida na noite anterior.
Nunca saberia, naquele momento nem pensava nisso, apenas aliviou toda a outra metade que o virava do avesso. As motos distanciaram ainda mais.
Voltou para dentro, encostou no banco aliviado. Só o incomodava aquela sensação de ter escovado os dentes com ácido clorídrico e rosto imprestável pelo serviço que o vento ajudou a fazer durante sua incursão fora do automóvel.
Ainda se recompondo, sentiu um toque de seu amigo sentado no banco do lado que, de olhos fechados e bem baixinho, para que só ele ouvisse, perguntou:
- Tá dando uma vomitadinha aí, brother?
E antes que ele pensasse em responder, lhe deu duas coisas valiosíssimas, que nem ele imaginava conseguir naquele momento: uma garrafa de água mineral e um saquinho com lenços de papel.
Ninguém naquela van soube do acontecido. Hoje conta a história para todos, lembrando o alívio de se lavar, se limpar, e de ter um amigo do lado. Sempre.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Invertendo a inversão

E assim caminha a humanidade. E nós, nascemos girando, girando, girando na mesma roda, sem ao menos pararmos para pensar se esse é o giro certo.
Foi batendo muito a cabeça que algo começou a me incomodar. Não gosto de ficar "chorando" desconto. Algo que me deixa desconfortável é pedir para alguém abaixar o preço de seu serviço ou de seu produto. Para mim, a pessoa cobra o preço que acha justo para seu trabalho e pronto. Honestidade dos dois lados: nós pagamos pelo serviço bem feito.
Porém os anos foram me mostrando que as coisas não acontecem como deveriam. Normalmente as pessoas, sabendo que muitos vão pechinchar, colocam seus valores mais altos, quando encontram alguém que insiste para cobrar a menos, abaixa para seu preço justo e tudo fica certo.
O triste é, quando alguém não quer prejudicar o vendedor e paga o valor pedido, sem pechinchar.
Algo está errado: a pessoa bacana, que acreditou no trabalho, quis ajudar, paga mais caro. O "chato", que brigou para abaixar o preço, muitas vezes pouco se importando com a vida de quem vende, ganha o desconto e paga menos.
Eu também já errei muito. No consultório as vezes, quando era necessário, desmarcava alguém bacana, porque sabia que era compreensivo, e não aquele agressivo, que iria reclamar. Hoje, não faço mais isso. Até pelo lado profissional seria errado. Priorizar pacientes difíceis em vez dos bacanas seria insano.
Mas o principal é pelo lado moral. A vantagem tem que ser dada ao melhor ser humano, cada dia mais.