sábado, 12 de junho de 2010

"Com muita humildade"

Já comentei em outros textos que a virtude que mais admiro é a humildade. Ela é tão perfeita, que não precisa ser divulgada, muito pelo contrário. Quando é anunciada, geralmente é simulada.
Hoje, vi na TV uma entrevista do jogador brasileiro, se não me engano, Felipe Melo. Considerado bruto e, em muitos casos, violento, ele admitiu:
- Com humildade, eu reconheço que entro duro em muitos casos, mas pretendo melhorar...
Foi um comentário quase perfeito. O problema é que, quando se se trata de humildade, o não perfeito é igual a um erro grosseiro. A pessoa que realmente é humilde nunca fala isso. Se admitir humilde é um sofisma e mesmo que fosse uma verdade, a afirmação desmentiria e transformaria o outrora humilde em egocêntrico.
A pessoa que realmente é humilde, de forma alguma, admitiria isso. Se envergonharia de ser elogiada.
O jogador brasileiro mostrou uma grandeza de espírito em admitir um erro, para o mundo inteiro. Se não tivesse se intitulado "muito humilde", com certeza todos nós o intitularíamos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A cidade grande

Quando saímos a trabalho pelo sertão do Brasil, costumamos ficar, na maioria das vezes, mais de vinte dias fora de casa. Quase um mês convivendo em pequenas comunidades, com suas belas culturas, fazendo amizades, aprendendo com a sabedoria sertaneja, nos divertindo com as crianças, enfim, tirando completamente nossa cabeça daquela correria que estamos acostumados em nosso dia-a-dia.
O trabalho é feito em escolas, que recebem a população local, em peso. O som das crianças brincando - fato corriqueiro a cada dia de projeto - é música para nossos ouvidos. Quer coisa mais alegre do que risadas, gritos de pega-pega e brincadeiras?
Por essas e outras, a volta para a cidade grande é sempre um baque. Levamos alguns dias até nos adaptarmos à dura realidade. Cruzar com uma pessoa na rua e não olhar em seus olhos e perguntar "tudo bem?". No sertão todos te cumprimentam, mesmo quando não se conhecem, há uma educação generalizada, faz parte da cultura. Em São Paulo se eu andar na rua e cumprimentar uma pessoa podem ocorrer duas coisas: 1 - se for um homem pensará: "esse é veado!". 2 - Se for uma mulher: "xavequeiro!".
Outra coisa que sentimos falta é a alegria das crianças. Minha infância, apesar de ter sido em São paulo, ainda foi em rua de terra, jogando bola com golzinhos de pedra e brincando com um monte de amigos. Bem parecido com as pequenas cidades que visitamos. Porém, hoje em dia, as crianças estão mais estáticas em frente ao vídeo-game, TV e computador; a violência e os carros já não permitem tanta liberdade.
Luis Salvatore sempre disse que sua rua é muito fria, apesar de ter pouco movimento de carros e até ser consideravelmente arborizada, é um silêncio total. Lugar daqueles em que as crianças, provavelmente, ficam na frente das TVs. Um dia ele ouviu, vindo da rua, aquele som que estamos acostumados a ouvir nas escolas: crianças brincando de pega-pega. Eram risadas, umas chamando as outras, se divertiam. Ele se impressionou, "será possível nesta rua?", pensou. Foi para a janela feliz e, realmente, eram crianças de rua, que brincavam. Quase fechou os olhos e ficou curtindo.
De repente, algo monstruoso o tirou de seu "transe". Sua vizinha abriu a janela e gritou, com todo o ar que pode retirar de seus pulmões:
- Calem a boca!!! Que barulheira é essa, molecada!!! Vão embora!!! Chega!!! - berrava numa altura, e de um jeito, que mostrava seu total descontrole.
Como por um susto as crianças ficaram em silêncio e foram embora. E Luis nunca mais ouviu um dos sons que mais gosta, em frente sua casa.

Saudade

Domingo fui ao aeroporto receber a Ju, minha esposa, que voltava de uma viagem internacional à trabalho. O saguão de chegada de vôos internacionais é, disparado, o local que mais transborda emoção de um aeroporto. Isso porque quem viaja ao exterior, geralmente, fica fora por mais tempo. Além disso, ao cruzar a fronteira, a saudade sempre é mais inquietante, dolorosa, enfim, pleonasticamente saudosa! Mais até do que viagens mais longas em territórios nacionais.
Enquanto aguardava, observava as pessoas que, como eu, esperavam um ente querido. Famílias, amigos, pessoas de todas as idades, conversavam e olhavam ansiosas para a porta automática que, minuto a minuto, se abria, liberando a passagem de algum viajante empurrando seu carrinho repleto de malas.
A porta se abre: Aparece um rapaz, de seus 18 anos, vestido com um "chamativo" casaco verde amarelo, usado pelos brasileiros que sentem orgulho em mostrar as cores de sua pátria no exterior. Ao meu lado uma mãe dá dois pulos e acena com ambos os braços. "Alex! Alex!", chama e corre em direção ao, agora, sorridente garoto, junto a uma irmãzinha mais nova. Os três se abraçam, emocionados.
A porta se abre: Sai por ela um homem de seus 30 anos, olhar de quem procurava alguém entre tantas pessoas. "Fêeeeee!!", diz uma mulher que corre em sua direção junto a uma linda menininha que grita "tiiiiiiiiiiioooooooo!!!". E os três se encontram num abraço bem apertado. Essa cena, particularmente, me deixou mais tocado. Pelo fato de eu ser um tio coruja de três sobrinhos, facilmente estava colocado no meio daquele abraço.
E outros sorrisos se seguiram, abraços, beijos. Pessoas que saíam juntas, conversando sobre a viagem e novidades. Tudo isso fazia do saguão um lugar leve e feliz, mesmo estando em um frio aeroporto e abarrotado de gente. A alegria envolvia tudo isso.
De repente a porta se abriu e eu tive que parar de observar as emoções em volta. Era hora de matar a minha saudade.