terça-feira, 10 de julho de 2012

Brasil e suas culturas

Um país imenso e rico, não só territorialmente, mas, principalmente, culturalmente. Viajar pelo Brasil é mergulhar no mais profundo oceano de variedades regionais. Seja nos diferentes sotaques e entonações de um mesmo português (que deveria se chamar língua brasileira), seja nos folclores e histórias de cada estado.
No trabalho que estamos realizando na região norte e nordeste tivemos uma "injeção" de cultura musical incrível! Saímos da cidade de Tamboril, no sertão do Ceará, visitamos Crateús, onde já implantamos um intenso projeto nos últimos anos, seguimos para Barreirinhas, no Maranhão, e finalizamos em Quatipuru, no Pará.
Sempre digo que fazer um trabalho social, é receber mais do que se doa, e esta é uma das provas. A maioria dos locais, gratos por receber pessoas que vem de outros estados para contribuir com experiências ou atendimentos em sua cidade, prestam homenagens, com apresentações culturais, seja do seu folclore ou músicos locais. E em menos de vinte dias vivenciamos a diversidade que existe em estados ou cidades vizinhas.
Tamboril é uma cidade curiosa. Se localiza no alto da Serra das Matas, ponto mais alto do Ceará. Apesar de estar no sertão, costuma fazer um frio intenso, principalmente de noite. Em nossa última noite no local, organizaram um show. Seria uma banda de forró. Não o que nós chamamos de forró - o nosso grande Luiz Gonzaga, para a população mais jovem, toca o pé-de-serra -, mas o que nossos amigos locais chamam, que é o estilo brega (famoso com bandas como Calcinha Preta, Moleka 100 Vergonha e outras).
Após o último dia de trabalho seguimos para a quadra de futebol da comunidade. Estacionado em frente havia um grande caminhão e em cima da caçamba toda uma estrutura de caixas e instrumentos montados, ao estilo de um trio elétrico simplificado, e pela noite seguiu o estilo brega, cantado por um rapaz acompanhado de um teclado.
Dia seguinte passamos em Crateús, onde verificamos os trabalhos implantados nas escolas da cidade, e dormiríamos na comunidade de Pocinhos, um organizado assentamento que deve ser um exemplo a ser seguido no seguimento para todo o país. Ali há a querida Casa das Redes, onde nos receberam com a alegria de sempre e uma surpresa: o grande sanfoneiro Zé, nos aguardava com uma banda. Além de sua sanfona, seu filho no teclado, um triângulo, uma zabumba, havia no lugar de um vocalista, um senhor tocando pífano, uma simples flauta que desenhava toda a escala melódica das famosas músicas de Luiz Gonzaga. Uma beleza que tocava fundo nossa alma. No piso de terra à frente da casa, casais dançavam o forró, o verdadeiro forró, levantando, literalmente, poeira. Uma cena que lembra qualquer foto de festa da região do começo do século, bastava esquecer os fios, caixas de som e as roupas mais modernas. A essência estava ali: igual!
A próxima parada seria em Barreirinhas. O Maranhão é conhecido por ser a terra do reggae no Brasil e, por sorte, haveria uma noite com uma radiola de reggae em uma linda palafita sobre o rio Preguiças. Ouvimos durante horas músicas que passavam do reggae brasileiro de São Luiz, ao rei Bob Marley. Tudo ao deleite das imagens das luzes amarelas - da rua em frente a uma duna - refletindo nas calmas e limpas água do rio.
Nossa última parada seria em Quatipuru. Uma cidade localizada entre o mar e um rio, que respira a pesca e preserva sua tradição com casas de palafitas e de barro pela estrada que liga à Primavera. Havia a festa do camarão e, de noite, fomos conhecer o local. Na entrada do espaço já ficamos surpresos com o tamanho das caixas de som, que subiam ao lado do palco como uma alta muralha. Um DJ, ao estilo da famosa banda Super Pop, saiu de dentro de uma nave no palco, que imitava um metrô (mesmo nome da banda). Começou o estilo melody, atual febre na região, com suas batidas fortes, repetidas, como um tecno-regional.
Demoramos muito tempo para assimilar tamanha diferença cultural em tão pouco tempo. Na verdade, não sei se a absorvemos até hoje.