sábado, 9 de junho de 2012

Diário de um trabalho social

Sábado, 9 de junho de 2012

Estamos na estrada, para mais uma viagem. Nesta etapa trabalharemos no projeto Amigos do Planeta na Escola nas cidades de São Jorge (GO), Irecê (BA) e Palmeiras (BA).
Nos encontramos hoje em frente ao escritório do IBS às 5 da manhã. O deslocamento é grande, em torno de 1.300 km.
"Cair da cama" as 4 da madrugada também se explica por nossa São Paulo. Sair perto das 7 horas pode significar perder uma hora parados no trânsito, tempo precioso quando se está noite adentro tentando chegar ao destino.
Nossa cidade também tem suas curiosidades. Saímos completamente agasalhados pelo frio, em torno de 12 graus, e céu encoberto e duas horas mais tarde na estrada, debaixo de um sol intenso começamos a passar calor.
Agora acabamos de cruzar a divisa de São Paulo-Minas Gerais, sentido Uberaba (na foto da estrada, a baixada é o rio Grande, divisa dos dois estados).
Estamos na estrada, às 12:18h, daqui a 100km devemos parar em Uberlândia para almoçar.
Um ótimo fim de semana a todos!

Grande abraço!

domingo, 3 de junho de 2012

Crônicas de um jogo de futebol

Uma noite, um jogo de futebol, um estádio cheio. Histórias que tem muito a ensinar sobre nós mesmos.

No dia 10 de maio, o Santos recebeu o time Bolívar (Bolívia) para uma partida em casa. Foi uma bela resposta. Na partida de ida, na semana anterior, os bolivianos deram um péssimo exemplo de como receber um adversário. Xingamentos, agressividade fora e dentro de campo, objetos jogados contra os jogadores - incluindo uma maçã arremessada da arquibancada direto no rosto do jogador Neymar.
Neste jogo de volta, na Vila Belmiro, o sentimento de revanche era grande, porém o "troco" foi todo dentro de campo - e das regras. O Santos venceu por 8 a 0. Via-se uma gana nos olhos de cada jogador do time brasileiro, para fazer mais gols, não para jogadas mais duras como alguns esperavam.
Certa altura, em torno dos 6 tentos para o time brasileiro, um jogador boliviano foi até o zagueiro Edu Drascena e pediu para "aliviar um pouco" e não fazer mais gols.
Na torcida uma grande faixa exibia uma frase em espanhol "aqui a resposta é dentro de campo".

O futebol tem certos aspectos difíceis de se entender. Um esporte maravilhoso, emocionante, mas que provoca atitudes incompreensíveis de muitas pessoas. É mais fácil de entender uma luta entre judeus e palestinos, uma violência sem razão, mas com motivos seculares de embates e uma diferença histórica em suas raízes.
Aqui, dois jovens do mesmo poder aquisitivo, da mesma cidade, se fossem trabalhar no mesmo local, provavelmente, seriam grandes amigos, mas num determinado dia, os dois acabam indo a um jogo de lados diferentes. Um decidiu que torcia para um time, o segundo preferia outro. Pessoas com a mesma cultura, mas decidiram que gostam de camisas de cores diferentes. Um acaba matando o outro por isso.
Seres humanos, modificados pela emoção, mas sempre agindo, exteriorizando sua essência. Certo ou errado, nunca se deve culpar a emoção do momento, ou o álcool ingerido, por atitudes tomadas. Só jogamos para fora o que está ali dentro, bem quieto, esperando um pequeno descuido para sair.
Eu estava no portão de entrada, aguardando meu irmão, quando ouvi um barulho de vaias e gritos, olhei e vi um grupo de torcedores bolivianos, perdidos, e passando no meio de toda torcida do Santos que esperava para entrar no portão principal. Dois guardas ao meu lado correram para proteger e levar os amedrontados visitantes para o lugar correto. Um homem de seus 40 anos, olhou para mim e falou:
- Pra que proteger, deixa esses índios tomarem porrada!
Ele não falou brincando.

Minutos depois um homem comia um cachorro-quente. Acabou, enrolou o papel nas mãos e o atirou para o lado, no meio da rua. Alguns metros dali, outro terminou sua cerveja, abaixou e, carinhosamente, colocou a latinha no chão, e saiu. Qual dos dois era pior? O segundo, pois tinha mais consciência a ponto de tentar esconder o que realmente era: um "porco".

É fato o problema que enfrentam os jogadores brasileiros quando jogam em cidades com altitude extrema. A baixa concentração de oxigênio preocupa inclusive danos a saúde geral de qualquer indivíduo, fazer intenso exercício num ambiente tão hostil. Os times destes próprios países costumam jogar ao nível do mar, deixando a altitude apenas como arma para prejudicar jogadores que não estão acostumados com ela.
Comprovando isso, o time que perdeu de 2 a 1 na Bolívia, ganhou de 8 a 0 em casa, com uma facilidade que parecia um jogo de profissionais contra crianças.

Humildade.
Ainda sobre o tema da altitude, é incrível como certas pessoas públicas acham que podem dar suas declarações emocionais, parciais, e não pensar com a razão, visto que comentários podem se voltar contra eles mesmos.
Maradona, depois de um jogo onde a seleção brasileira perdeu para um desses times que jogam na altitude, deu uma entrevista ácida, dizendo que a altitude não influenciava em nada o resultado do jogo. Qualquer jogador que já atuou nestas condições saberia que não prejudica em nada o rendimento, e outras baboseiras de seu costume nas entrevistas.
Algumas semanas depois, a seleção argentina (da qual era técnico) perdeu de maneira vexaminosa para a seleção da Bolívia, na altitude. 6 a 1. E ele não podia explicar com a verdadeira causa do desastre, que seria o motivo óbvio. Assumiu que seu time jogou mal e procurou explicações alternativas, muito piores que a verdade, que não podia usar por ter sido garoto-propaganda das cidades de altitude quando a Fifa quis impedir jogos nestas condições.
Nada como um dia após o outro...