quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Carro de pobre

Ele sairia com a namorada e o irmão. Na última hora, o cunhado pediu uma carona. "É claro, te deixo em casa!", disse solícito. Os quatro entraram em seu velho carro e seguiram animados como sempre, dando risadas.
O cunhado tinha amizade e apreço por ele e, com liberdade, brincava com seu carro, chamando-o "carro de pobre". O jovem crescera em um ambiente mais abastado, amigos com muito dinheiro, acostumado ao luxo, porém a brincadeira era sem maldade, na ingenuidade de quem ainda não aprendeu que chamar alguém pobre de pobre pode ser a mesma situação de chamar alguém feio de feio.
O dono nem ligava, achava graça, e ele mesmo gozava de seu querido carro velho.
Era "carro de pobre" pra cá, "carro de pobre" pra lá, até que se aproximaram da casa do rapaz.
- É a próxima rua á direita, mas pode parar na esquina - disse o cunhado.
- Imagina, eu te levo até em casa. - respondeu.
O cunhado disse que não havia problema, não precisava sair do caminho, não teria que andar muito. Mas àquela hora da noite o amigo fazia questão de deixá-lo em frente sua casa.
Ao abrir a porta para descer, o cunhado comentou:
- Pôxa, meus amigos sempre me deixam lá em cima, na esquina.
Ele prontamente respondeu:
- É que este é um carro de pobre, e carro de pobre sempre leva os amigos onde eles precisam, desvie o que precisar, seja onde for.
O silêncio que ficou no carro foi quebrado no momento seguinte por uma gargalhada geral. O único que não deu risada foi o cunhado.
- Podia ter dormido sem essa... - disse baixinho. E seguiu para casa pensativo.