domingo, 3 de junho de 2012

Crônicas de um jogo de futebol

Uma noite, um jogo de futebol, um estádio cheio. Histórias que tem muito a ensinar sobre nós mesmos.

No dia 10 de maio, o Santos recebeu o time Bolívar (Bolívia) para uma partida em casa. Foi uma bela resposta. Na partida de ida, na semana anterior, os bolivianos deram um péssimo exemplo de como receber um adversário. Xingamentos, agressividade fora e dentro de campo, objetos jogados contra os jogadores - incluindo uma maçã arremessada da arquibancada direto no rosto do jogador Neymar.
Neste jogo de volta, na Vila Belmiro, o sentimento de revanche era grande, porém o "troco" foi todo dentro de campo - e das regras. O Santos venceu por 8 a 0. Via-se uma gana nos olhos de cada jogador do time brasileiro, para fazer mais gols, não para jogadas mais duras como alguns esperavam.
Certa altura, em torno dos 6 tentos para o time brasileiro, um jogador boliviano foi até o zagueiro Edu Drascena e pediu para "aliviar um pouco" e não fazer mais gols.
Na torcida uma grande faixa exibia uma frase em espanhol "aqui a resposta é dentro de campo".

O futebol tem certos aspectos difíceis de se entender. Um esporte maravilhoso, emocionante, mas que provoca atitudes incompreensíveis de muitas pessoas. É mais fácil de entender uma luta entre judeus e palestinos, uma violência sem razão, mas com motivos seculares de embates e uma diferença histórica em suas raízes.
Aqui, dois jovens do mesmo poder aquisitivo, da mesma cidade, se fossem trabalhar no mesmo local, provavelmente, seriam grandes amigos, mas num determinado dia, os dois acabam indo a um jogo de lados diferentes. Um decidiu que torcia para um time, o segundo preferia outro. Pessoas com a mesma cultura, mas decidiram que gostam de camisas de cores diferentes. Um acaba matando o outro por isso.
Seres humanos, modificados pela emoção, mas sempre agindo, exteriorizando sua essência. Certo ou errado, nunca se deve culpar a emoção do momento, ou o álcool ingerido, por atitudes tomadas. Só jogamos para fora o que está ali dentro, bem quieto, esperando um pequeno descuido para sair.
Eu estava no portão de entrada, aguardando meu irmão, quando ouvi um barulho de vaias e gritos, olhei e vi um grupo de torcedores bolivianos, perdidos, e passando no meio de toda torcida do Santos que esperava para entrar no portão principal. Dois guardas ao meu lado correram para proteger e levar os amedrontados visitantes para o lugar correto. Um homem de seus 40 anos, olhou para mim e falou:
- Pra que proteger, deixa esses índios tomarem porrada!
Ele não falou brincando.

Minutos depois um homem comia um cachorro-quente. Acabou, enrolou o papel nas mãos e o atirou para o lado, no meio da rua. Alguns metros dali, outro terminou sua cerveja, abaixou e, carinhosamente, colocou a latinha no chão, e saiu. Qual dos dois era pior? O segundo, pois tinha mais consciência a ponto de tentar esconder o que realmente era: um "porco".

É fato o problema que enfrentam os jogadores brasileiros quando jogam em cidades com altitude extrema. A baixa concentração de oxigênio preocupa inclusive danos a saúde geral de qualquer indivíduo, fazer intenso exercício num ambiente tão hostil. Os times destes próprios países costumam jogar ao nível do mar, deixando a altitude apenas como arma para prejudicar jogadores que não estão acostumados com ela.
Comprovando isso, o time que perdeu de 2 a 1 na Bolívia, ganhou de 8 a 0 em casa, com uma facilidade que parecia um jogo de profissionais contra crianças.

Humildade.
Ainda sobre o tema da altitude, é incrível como certas pessoas públicas acham que podem dar suas declarações emocionais, parciais, e não pensar com a razão, visto que comentários podem se voltar contra eles mesmos.
Maradona, depois de um jogo onde a seleção brasileira perdeu para um desses times que jogam na altitude, deu uma entrevista ácida, dizendo que a altitude não influenciava em nada o resultado do jogo. Qualquer jogador que já atuou nestas condições saberia que não prejudica em nada o rendimento, e outras baboseiras de seu costume nas entrevistas.
Algumas semanas depois, a seleção argentina (da qual era técnico) perdeu de maneira vexaminosa para a seleção da Bolívia, na altitude. 6 a 1. E ele não podia explicar com a verdadeira causa do desastre, que seria o motivo óbvio. Assumiu que seu time jogou mal e procurou explicações alternativas, muito piores que a verdade, que não podia usar por ter sido garoto-propaganda das cidades de altitude quando a Fifa quis impedir jogos nestas condições.
Nada como um dia após o outro...

7 comentários:

  1. O futebol, como a vida, tem essas variações...
    Nada como um dia após o outro...
    Dieguito, mais uma vez, pagou pela língua comprida...
    Agora, usar o futebol como desculpa para agredir é coisa de quem gosta mais de agressão do que do futebol!
    Abraços, Wolber!

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    1. Exatamente, Leonel!

      Também concordo que alguém que se envolva neste tipo de violência usa qualquer coisa como desculpa, seja o time, a bebida ou qualquer outra baboseira.

      Ah, e uma das coisas mais prazerosas nestes casos, é ver alguém arrogante tendo que engolir a seco suas palavras impensadas, não é? :)

      Grande abraço, Leonel!

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  2. - Liinda retratação Wolber!!
    - temos que acabar com o MAL é com o BEM!!
    - Assim seremos pessoas melhores e viveremos melhor ainda!!

    - Saudades

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    1. Com certeza, Kyria!

      A história do "dar a outra face" é exatamente isso, não ao pé da letra, se deixar ser agredido.

      É não revidar, e mostrar com exemplos a maneira certa de agir.

      Tudo isso dito a 2000 anos. Tá na hora de começarmos a por em prática...

      Um abraço, minha amiga!

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  3. Amigo Dóctor Wolber....

    Fórgo em dizer que se existe alguma coisa na face da terra que eu a-b-o-m-i-n-o... É futebol ( esse que vc relatou ).
    O bicho gente + álcool + gente + emoção + falta de princípios e muita falta de EDUCAÇÃO é = a essa me*** toda chamada de espetáculo futebolístico....

    Ótima postagem, aliás... SENSACIONAL
    Abraços
    Tatto

    P.S.- respondi lá no HELP DO TATTO

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    1. Grande Tatto!

      É, meu amigo, eu tenho esse lado negro: curto muito futebol. Mas isso não faz com que deturpe minha visão para tanta coisa errada que venha no mesmo balaio.

      Uma pena que algo que deveria ser para um entretenimento positivo, esporte e saúde, acaba trazendo coisas negativas junto.

      Sem falar no nosso velho pão e circo, sem o pão, como já escrevi aqui também...

      Valeu, meu amigo!! Um abração pra você!

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  4. Wolber Campos

    Olá meu amigo, pode estar se perguntando "quem é esse FAKE".. rss
    Sou eu meRmo meu amigo... O Tatto/Xipan
    Passei aqui pra que você visite este blog e veja um ensaio que fiz referente ao seu trabalho que muito eu admiro.

    PHOTO FAKE - CLIQUE AQUI

    Espero que agrade, apesar de não estar pronto e quero seu parecer antes de tudo... Ok

    Abraços
    Tatto/Xipan/Help/Fake... rss

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