quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Luva de pelica

Em uma cidade do interior dois homens conversavam na fila de um caixa eletrônico. Falavam alto, como se o assunto fosse de relevância transcendental e de interesse a todos. Uma senhora elegante e bonita caminhou à máquina quando chegou sua vez. Um não se conteve e comentou para o outro:
- Olha lá, o mamazão daquela mulher! - falou pouco mais baixo, porém, o suficiente para os que estavam em volta escutar.
- Deixa de ser tonto, você não tá vendo que aquilo é selicone? - disse o outro, indignado.
- Será?
- É claro, olha lá! Selicone, na certa!
Um senhor que estava do lado, caminhou na direção dos dois, elegante, colocou a mão ao lado da própria boca, como quem queria falar em segredo, mas respondeu na mesma altura que os homens:
- Eu garanto pra vocês que é natural. - disse, se encaminhou para a bela senhora que havia acabado de retirar o dinheiro, a abraçou e sairam pela porta do banco.
O silêncio enorme só era quebrado por alguns baixos risos que escapavam de um ou outro cliente da fila. Os dois se escondiam na própria vergonha e na dor, muito maior do que se o homem houvesse resmungado, esbravejado ou os agredido.
Na realidade, se tivesse ocorrido qualquer agressão, seria a salvação dos dois. A chance de mudar o foco, de passar a agressão para o outro lado. A chance que não teriam...