quinta-feira, 28 de maio de 2009

Políticos...

Numa das cidades em que trabalhamos tive uma dura lição. Às vezes, devido a tantas coisas que vemos por aí, ou em notícias, nos achamos "macacos velhos", descolados. Cansei de ver prefeitos luxuosos, saindo de suas "Hi-Luxes" ao lado de bairros se desmanchando de tão carentes.
Numa cerimônia de abertura dos trabalhos o prefeito discursou. Num tom pausado e sincero o bondoso velhinho (que para ajudar ainda me lembrava Papai Noel) discorreu sobre a alegria da cidade receber pessoas que vinham de longe pensando em realmente ajudar as pessoas. Prosseguiu comentando sobre dificuldades que a cidade passava e como estaria disposto a nos ajudar para melhorar a vida dos sofridos cidadãos.
Por um momento pensei: "Poxa, esse prefeito parece que realmente tem boas intenções". Me pareceu diferente de quase todos que já havia visto e imaginei que falar com ele sobre o plano de saúde bucal que estávamos implantando nas escolas seria muito interessante. Um prefeito facilmente o espalharia por todas as escolas municipais e poderia diminuir o número de crianças com dor de dente, filas nos postos de saúde, gastos com materiais odontológicos ali, enfim, comecei a imaginar um futuro sorrindo em dentes brilhantes de garotos felizes na cidade utópica em que estávamos.
Discurso acabado, sob as palmas de um grande público, o prefeito se aproximou e nos cumprimentou, um por um, perguntando nosso nome, com um franco e bondoso sorriso no rosto, o que só me confirmou minhas impressões.
Após o último cumprimento, enquanto todos se levantavam e seguiam aos seus postos para iniciar o primeiro dia de trabalho na cidade, me coloquei ao seu lado e, pacientemente, o esperei acabar de conversar com o diretor da escola.
- Senhor prefeito, poderia falar um pouco com o senhor? - perguntei feliz já esperando um bom papo.
Comentei sobre o sucesso do trabalho em outras cidades, que escolas haviam diminuído muito o número de crianças que faltavam às aulas por motivo de dor de dente, isso em apenas um ano de implantação de uma escovação diária, do quanto isso diminuiria gastos e filas nos postos de saúde...
Enquanto eu falava percebi que seus olhos iam ficando distantes, como se estivessem procurando alguém em volta, não dando muita importância ao que eu dizia. Não leio pensamentos, mas quase podia ouvi-lo pensando: "Como me livro desse chato...". Uma sensação horrível começou a me invadir. Me sentia um idiota, falando praticamente sozinho, até que ele mesmo aliviou minha agonia ao me interromper:
- Escuta, você conhece o doutor Francisco?
Disse que não (como se fosse possível conhecer um dentista numa cidade do sertão em que nunca havia estado antes).
- Você pode conversar com ele sobre isso.
Me pediu licença e saiu, jogando acenos simpáticos aos que acenavam para ele.
Me sentindo um garotinho enganado na peça mais antiga do mundo fui para a minha sala atender, jurando nunca, mas nunca mais, ser enganado por um político novamente!