quarta-feira, 15 de junho de 2011

Fim de tarde

Ontem, estava saindo do consultório, o Luis me ligou:
- Cara, escuta só esse som! - e por alguns segundos chegou ao meu ouvido o som do sertão.
Estava ele em Barreirinhas, bela cidade onde ficam os Lençóis Maranhenses. Trabalharemos lá este ano, e Luis teve uma reunião com o prefeito e secretários do local para mostrar os detalhes do projeto.
Após a reunião, fim de tarde, chegou em um barzinho, estilo "boteco beira-rio", sentou-se e pediu uma cerveja. Foi o primeiro a se sentar ali, e, para sua surpresa, alguns minutos depois começou a tocar um trio de forró pé-de-serra, daqueles da Nossa Terra (assim mesmo, com letra maiúscula). Eram mais velhos e não tinham uma zabumba, som que era tirado em uma bateria.
- Vamos dar uma zabumba pra esses caras! - me disse empolgado com a música do Luiz Gonzaga tocando ao fundo "vaaaaaaaai boiadeiro que a noite já veeem...".
Uma nostalgia invadiu meu peito. Graças a Deus, uma nostalgia nova, sendo que cenas assim ainda encontramos algumas vezes por ano nessas viagens. Mas veio aquela saudade de Brasil. De um lugar onde podemos, depois de um dia de trabalho, nos sentar em um bar e ver senhores tocando belas canções da nossa terra (aqui está em letras minúsculas, mas lembre-se que sempre serão maiúsculas em sua acepção), do mesmo modo como faziam décadas e mais décadas atrás.
Me despedi, liguei o carro e peguei o trânsito de São Paulo para chegar em casa. Dessa vez com uma música na cabeça: "...guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem". Eu iria, mas guardaria meu carro.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Simpáticas simpatias

No começo de maio a equipe retornou ao Vale do Jequitinhonha para encerrar o projeto Sorriso Solidário. Dessa vez, enfrentaram um intenso frio e muitos começaram a ficar doentes; gripes, febre, dor de garganta.
Em uma das cidades, Valter ficou de cama, com uma forte febre e dores pelo corpo. Voltou para a casa omde estava hospedado (Receptivo Familiar) e entrou embaixo das cobertas. Estava quase dormindo quando bateram na porta.
- Pode entrar! - encontrou forças para dizer.
Entrou uma senhora, com rosto sério e um copo com água na mão.
- Me disseram que você estava passando mal. Vamos ver o que é. Vou jogar essas pedras de carvão no copo e já saberemos. - disse com um ar grave.
Lançou dentro do copo três pedras de carvão, duas desceram vagarosamente até se alojarem no fundo do copo, uma boiou. Ela fez uma cara de desaprovação e disparou:
- É mal olhado! levante-se. - ordenou.
Falou para ele andar de costas, com o copo de água na mão até a porta, sem olhar para onde estava indo, tomar um gole da água e jogar todo o conteúdo por sobre seu ombro, fora da casa, retornando à cama sem olhar para trás.
Ele, abatido demais para discutir, fez todo o combinado.
Deitou, alguns minutos depois, batem à porta novamente. Era uma outra senhora, um pouco mais velha. Disse que veio ajudar, podia curá-lo, mas ele teria que acreditar que poderia ser curado.
- Posso tirar uma de suas meias? - perguntou, a retirando do pé esquerdo assim que Valter concordou.
Saiu e volou alguns minutos depois.
- Olha, vai estar um pouco gelada, mas é para o seu bem. - disse e vestiu a meia, ensopada e gelada.
Alguns minutos mais tarde outra senhora adentrou o quarto, perguntando o que ele estava sentindo. Colocou a mão em sua testa e diagnosticou: "você está com febre!".
Valter sorriu cansado, esperando a próxima simpatia que viria, mas a senhora retirou todas as suas cobertas e ele se sentiu entrando em uma geladeira.
- Tira tudo isso, é febre e você não pode ficar se cobrindo, não. Senão não melhora! - disse e saiu.
Pinduca entrou no quarto - para o alívio de Valter que imaginou mais uma senhora com algum aparato de cirurgia nas mãos.
- Valtão, está tudo bem? Tem um monte de mulher na sala com garrafas de água com raízes, dizendo que é pra você...
Valter disse que já tinha melhorado, tremendo pegou as cobertas de volta, se cobriu e disse que só precisava descansar. Ficou feliz em saber que tanta gente se preocupava com ele, mas já estava bem de simpatias para aquele dia...