domingo, 15 de maio de 2011

Banco

Numa cidade do interior do estado de São Paulo, Itapetininga, os moradores mais velhos se lembram nostálgicos do tempo em que a modernidade passou a chegar em sua terra. De todas, a mais curiosa - e engraçada - foi a época em que o serviço financeiro, os bancos, começaram a se popularizar.
Pode-se imaginar, para pessoas simples, em toda a humildade que o interior lhes envolvia, o que era confiar todo seu dinheiro, ganho em sua lida de cada dia, a um estranho, que havia construído uma grande casa e dizia que tomaria conta de sua fortuna.

Havia um senhor idoso, que todo dia se encaminhava ao caixa, retirava todo seu dinheiro, o contava na frente do atendente, o olhando com cara desconfiada, como quem diz "estou esperto, viu?", para ver se todo seu dinheiro estava ali mesmo. Conferindo que ali estava toda a quantia que havia deixado no dia anterior, a depositava novamente, dizendo "até amanhã". Seguia para casa tranqüilo, sabendo que, pelo menos a ele, aqueles homens não enganariam.

Um morador, faria uma compra grande, então se encaminhou para o banco, para retirar seus 15 mil reais (em moedas atuais). O gerente lhe disse que era uma grande quantia, que ele esperasse "alguns minutos, que o carro-forte chegaria em pouco tempo com o dinheiro". Ele se inflamou, sabia desde o primeiro instante que estava sendo enganado. Aquilo não ficaria assim, faria um escândalo para que todos pudessem ouvir. Encheu os pulmões e bradou:
- Ladrões!!! Eu sabia!!! Meu dinheiro estava aqui dentro, deixei aqui com vocês e vocês o levaram daqui!! Quero o meu dinheiroooo!!!!

Um velhinho, já tinha imaginado o banco como a melhor invenção da modernidade. Ficou fascinado com a vantagem de depositar um dinheiro ali e ter um talão de cheques, aquelas folhas maravilhosas que, com sua assinatura, seria aceita como dinheiro em qualquer lugar. O usava em todos es estabelecimentos. Ia almoçar, ao pedir a conta, tirava o talão de seu bolso e fazia o ritual mágico que havia se habituado: abria o talão na mesa, postava a caneta sobre a folha de cheque e a deslizava sorrindo.
Não poupava em lugar algum, saía com todos os amigos para um jantar. Na hora de pagar, não deixava ninguém ajudar com a despesa.
- Podem deixar, eu tenho um cheque! - dizia, abrindo o talão sobre a mesa, postando a caneta sobre a folha e a deslizando, sorrindo.
Fez isso com toda paixão e orgulho por algumas semanas, sempre ávido para pagar tudo a todos. O gerente do banco, preocupado com o número de cheques que chegavam, chamou o velhinho para uma conversa.
- Senhor, percebemos aqui que está chegando um grande número de cheques a serem debitados em sua conta. E o valor já superou seu limite. Sua conta está no negativo e o senhor está nos devendo 2.500 reais...
- Quanto? - perguntou calmamente o velhinho, ouvindo novamente o valor de sua dívida.
Não pensou duas vezes, tirou o talão de seu bolso, postou a caneta sobre a folha de cheque e a deslizou sorrindo, escrevendo "dois mil e quinhentos reais".

Fatos verídicos colhidos em forma de documentário pelo cinegrafista Vítor Pinduca