quarta-feira, 25 de maio de 2011

Atitudes

João era um cara, tipicamente, esquentado. Seu temperamento era paradoxal; uma das pessoas mais carismáticas - e boas - que eu conheço, mas pisasse alguém em seu calo, era bom sair de perto.
Como somos amigos de infância, presenciei situações do tipo: um "trombadinha" (como chamávamos os malandros em nossa adolescência) passava encarando, fazendo cara de mal, como quem diz "vou assaltá-los!", e era o bastante.
- Tá olhano o quê, ô babaca! Acha que tenho medo só porque você é feio pra caramba? - dizia, indo na direção do elemento, que sempre desviava. (acho que a confiança do meu amigo é tão grande que assustava mais ainda).
Era "esquentado" contra injustiças, diga-se de passagem. Nunca arranjou encrenca em filas, ou por impaciência, mas quando via algum espertalhão, desses folgados que gostam de levar vantagem sobre os outros, já deixava o cheque com a boiada (para não sair da briga) assinado.
- Sei o quanto erro em estourar muito e sei o quanto preciso melhorar... - dizia sempre, mostrando seu caráter e preocupação em se tornar uma pessoa melhor.
Poucas semanas atrás, João saía com seu carro. No final de sua rua, embicou em uma avenida movimentada e viu um carro descendo rapidamente. Imaginou "dá tempo" - como pode acontecer com qualquer um de nós - e entrou. O carro, como de costume em São Paulo, acelerou e brecou bem perto do seu, e ,mesmo saindo mais rápido, o adversário (outro costume no trânsito de São Paulo são os carros serem adversários) acelerava e gesticulava.
Aquilo o deixava muito nervoso. "Pra quê tanto stress? O cara podia ter diminuído!", pensava. Mas parece que muitos aceleram apenas para dar motivo para justificar sua ira.
Entrou em uma rua menor à esquerda, o outro entrou atrás, "colando" em sua traseira e tentando emparelhar o carro. João tentava ter paciência, mas era muito difícil. Até um momento em que o farol fechou e o outro carro tirou para o lado e parou junto à sua janela. O homem baixou o vidro e começou a gritar, o xingando de vários nomes.
João baixou sua janela. Olhou para a pessoa tresloucada no outro veículo. Levantou sua mão e disse:
- Amigo, me desculpa! Achei que daria tempo pra entrar e acabei te fechando. Sei que tava errado. Mals aí.
Aquilo transfigurou o homem. Como da água para o vinho, seus olhos irados refletiram compaixão. João nunca tinha visto uma mudança de atitude tão drástica daquela forma.
- Opa, tudo bem. Me desculpe também. Estou atrasado, acabei estressando à toa. Foi mal! - disse, até sorrindo.
João me contou:
- Cara, incrível! Parecia que eu ia parar o carro e tomar um chopp com o cara. Ficamos quase "brothers"...
Nada como uma mudança de atitude. Pode-se ter certeza que naquele dia duas pessoas mudaram, um pouco para melhor.