quarta-feira, 20 de maio de 2015

Crônicas de um brasileiro nos Estados Unidos - Contrastes


Era a segunda vez que visitava os Estados Unidos. Da primeira, se surpreendeu mesmo antes da aterrisagem. 

Quando decolou à noite de Guarulhos, em São Paulo, como sempre fazia, olhou para as luzes das casas e ruas que iam se distanciando abaixo de si. Curioso notou a disposição desses pontos brilhantes, irregulares, espalhados como se fossem sementes jogadas ao acaso por um lavrador descuidado. 
Ao se aproximar do destino, espantado, fitou as luzes que se aproximavam abaixo. Eram de uma regularidade que não conhecia. Formavam quadrados perfeitos, brilhando em uma ordem exata, denunciando o que deveria ser um crescimento planejado e consciente. 
Achou estranho sentir aquele contraste como um pequeno incômodo surgindo do fundo de seu peito. Ainda sentiria muito essa sensação, e o avião ainda não tinha tocado o solo. 
Desta vez a surpresa não viria tão cedo, mas quase. 
Visitava um amigo que morava em Portland, do outro lado americano, necessitando um segundo vôo no país. 
Diferente do primeiro, este vôo interno era composto praticamente por cidadãos locais e assim em mais 4 horas estava pousando em seu destino. 
Como acontece em qualquer lugar - quando o avião para - pessoas levantaram e pegaram suas malas no bagageiro. Mas o que viu em seguida o deixou espantado. As pessoas da primeira fila saíram, e só então as da segunda se adiantaram. As que estavam na terceira se levantaram em seguida e, pacientemente, pegaram suas malas de mão e seguiram em diante. 
Ele estava na penúltima fila e viu aquele desembarque calmo, orquestrado, de uma educação intrínseca que, mais do que chocava, emocionava. 
Se emocionou porque lembrava do "salve-se quem puder" quando as portas de um avião abriam em seu país. 
Quando chegou sua vez teve vontade de agradecer às pessoas da última fila por esperá-lo sair, mas se segurou. Lembrou que ninguém agradecia a quem esperava, pois aquilo era o certo, e o certo não é um agrado, é uma obrigação. 
A surpresa desta vez não havia ocorrido antes do avião tocar o solo, mas surgiu antes mesmo de que saísse da aeronave. 
E assim ele saiu, pensativo para uma cultura que era mais nova que a sua, mas estava a muitos e muitos anos na frente em questão de cidadania e educação.