quinta-feira, 11 de julho de 2013

Médicos, saúde e política

Nosso país, neste momento de transformação, passa por uma delicada situação. A história dos médicos cubanos - ou de qualquer outro país - a serem importados, mostra uma de nossas maiores mazelas: a chaga da má política que temos no Brasil.
O enredo desta história é o seguinte: o governo não retorna os impostos corretamente à população como deveria (na forma de saúde, educação, saneamento e tudo o mais que temos direito), as pessoas reclamam, ele procura algo para desviar o foco e atira outro para a fogueira em seu lugar, neste caso, os médicos.
Dizer que a saúde em frangalhos que temos em nosso país é por causa dos médicos que não querem ir para o interior é exatamente a mesma coisa que dizer que o problema da educação aqui é culpa dos professores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza como ideal a proporção de 1 médico para cada 1000 habitantes. Aqui no Brasil, pasmem, a relação observada é de 1 para cada 622 habitantes. Bom, parece claro que o problema real não é a falta de profissionais. Desse modo, a idéia inicial de construir mais faculdades parece estúpida.
E em relação às cidades de interior que carecem de profissionais? Chegamos então ao problema estrutural. Será que alguém acredita que médicos são tão ricos a ponto de desprezar um salário de 20, 30 mil, ou mais, oferecidos em cidades com um custo de vida baixíssimo, onde poderiam ficar um tempo e guardar uma poupança generosa?
É sabido muitas cidades pequenas não suportam pagar esses salários e, geralmente, no terceiro mês o médico não mais o recebe. Agora, ele deixou sua cidade, família, amigos para ir a uma longínqua cidade e não receber um bom salário.
E ainda se depara com uma situação muito pior: trabalha em lugares sem estrutura alguma, uma fila enorme, muitas vezes com risco de ser agredido, como se fosse sua culpa a demora em atender. Ouvi casos como o de um colega que, atendendo uma emergência, foi surpreendido por uma família de 4 pessoas que caíram da moto (há lugares onde 4 ou cinco pessoas andam na mesma moto) com fraturas múltiplas. Se imagine nesta situação, possuindo apenas um estetoscópio para examinar.
Entre tudo isso, a idéia de injetar mais dois anos na formação do profissional é ainda mais grotesca. A medicina já leva em sua maioria mais de 8 anos de formação (6 de faculdade mais 2 de residência). Fazer um médico sair da faculdade após dez anos de estudo é como uma punição, como se fossem os culpados por toda uma tragédia que temos na saúde pública do Brasil.
Tragédia que foi causada por décadas de desvios de recursos públicos que deveriam ser destinados para a saúde da população e apenas fez encher os bolsos dos verdadeiros culpados. Culpados pela morte de milhões de brasileiros. Culpados por cada um que sofre numa maca de um corredor de hospital público de um grande centro, ou num posto sem recurso do interior. Esses sim, os verdadeiros culpados de um crime imensurável de tão cruel.
Minha consideração a todos os médicos deste país. Que toda esta injustiça não passe de mais um desvaneio de um governo amedrontado que não está sabendo lidar com um povo que está cada dia mais consciente.