sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Nunca é "apenas" mais uma viagem

Domingo, dia 8, estaremos novamente na estrada. O IBS continuará o trabalho Amigos do Planeta, em conjunto com as Casas Bahia, no Maranhão, Piauí e Ceará.
Nunca é "apenas" mais uma viagem. Um dia meu irmão me perguntou, depois de tantos anos trabalhando no sertão: "Mas não é sempre a mesma coisa?".
Não, nunca é a mesma coisa. Cada viagem nos sentimos empolgados como se fosse a primeira! Em lugares novos é sempre uma ótima experiência, conhecer cidades e culturas diferentes, e em locais pelos quais já passamos, reencontrar grande amigos que fazemos é um prazer enorme. Isso sem falar o principal: fazer o trabalho mais gostoso do mundo: o social.
Porém esta etapa tem um gostinho ainda mais especial. No Maranhão, passaremos na cidade de Nova Iorque, onde fizemos mais que amigos: somos da família. Nossa família maranhense é a da professora Régea, cuja bonita história contei aqui no blog a tempos atrás. Ela e seus irmãos (Bruno, Glorinha e Andressa) nos chamam de irmãozinhos e seus pais nos recebem como filhos.
No lar, onde a luz elétrica ainda não chegou, nos sentimos em casa. Acordamos com os pássaros e, com o sabonete e shampoo nas mãos, andamos ao ar livre, até o poço, onde retiramos a água para um delicioso banho de moringa sob o céu - quase sempre azul -, no box de tijolos construído no quintal.
Como disse no outro texto, este ano Régea se forma em letras e fazia questão (nós também) de que estivéssemos presentes. Por um momento isso quase não foi possível, estaríamos no meio da viagem e ainda não haveríamos chegado em Nova Iorque. Mas ela não desistiu até mudar a data da formatura para o dia exato em que estaremos na cidade.
Será um dia inesquecível, onde nossa "irmãzinha" receberá seu sonhado diploma e nós, como bons irmãos mais velhos, estaremos presentes e orgulhosos!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

De volta

É incrível como somos guiados pela nossa aparência. Muitos podem fingir, e até se enganar, que não dão a mínima ou que pouco se importam com o visual. Mas nossa imagem vai muito mais além do que ser ou não ser vaidoso.
Ela nos insere ou expulsa de um meio, nos enturma ou repele de um grupo e isso antes mesmo das pessoas raciocinarem sobre o fato. Como aquela pessoa com quem "vamos com a cara" ou evitamos no primeiro sorriso que dá ao nos cumprimentar.
Contei a pouco tempo um caso do amigo dentista Wanderson, em que ele teve a grande alegria de melhorar a vida da Joanita, apenas lhe fazendo uma prótese nova. E essa viagem foi realmente marcante para ele. Mais uma surpresa numa cidade mais à frente.
Quem me conhece sabe que acredito que somos meros instrumentos para realizar projetos maiores - a história "mão de Deus" é um exemplo do que penso - e em Sergipe tivemos mais uma prova.
Geralmente, quando atendo numa sala de aula, costumo deixar que as crianças fiquem em volta observando, assim acabam perdendo o medo e ainda aprendem olhando para as enormes cáries que os amiguinhos tem. Porém, muitas vezes, a bagunça fica enorme e Manolo (nosso braço direito e esquerdo na área odontológica) tem que pedir pra todo mundo sair da sala.
Num desses momentos de paz e silêncio perguntei ao Wanderson: "te atrapalha se eu chamar a criançada para entrar de novo?". Disse porque tem pessoas que não gostam, se sentem incomodadas pelo barulho. Ele disse que não e a sala voltou a ficar cheia.
Terminando uma moldagem de uma mocinha de 14 anos que não tinha um dente da frente perguntou se ela conhecia outra menina com o mesmo problema. Esta respondeu negativamente, mas uma aluna que estava ao lado, apenas observando lançou:
- Eu conheço, espera aí que vou chamar! - e saiu em disparada pela porta.
Voltou alguns minutos depois com uma garota de 15 anos, sem os dois incisivos centrais (os dentes da frente).
A história nos emocionou. Não julgo o dentista que extraiu seus dois dentes, pois não sei como estavam, pode ser que precisassem mesmo serem removidos. Mas não consigo entender como um profissonal pode extrair os dois dentes da frente de uma mocinha de 15 anos e não fazer uma prótese para reabilitá-la. Mesmo que ela não tivesse dinheiro, é inconcebível!
Wanderson a moldou de manhã e fez algo inédito no trabalho até então: confeccionou uma prótese provisória no mesmo dia, pra que ela use até que a outra chegue, daqui a alguns meses. Procurando em seus materiais se havia alguns dentes de resina para usar, encontrou dois incisivos centrais, exatamente da mesma cor e tamanho de que a garota precisava! E olha que ele não costumava levar dentes de sobra, mas pensou que eu pudesse usar alguns se desse problemas nas próteses que eu havia colocado nas cidades anteriores.
Filmei e tiramos fotos do caso e de noite, na pousada, ligamos a máquina na televisão, analizando cada detalhe. Era incrível como ela mudava de expressão antes e depois da prótese. Seu olhar era como se estivesse vago, sem profundidade, antes e depois tivesse ganhado novamente vida.
Uma moça que voltou a ser bonita e a se sentir novamente inserida em sua pequena comunidade escolar. Tudo por um pequeno pedaço de prótese que segurava dois felizes dentes de resina.

O vídeo que fiz é o bastidor da entrevista que o grande amigo Víctor Pinduca (nosso cinegrafista) fez com Wanderson, mostrando este caso: http://www.youtube.com/watch?v=PkAJIVI9kus