terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Degraus

Paulo
Era mais um dia de trabalho. O mercado financeiro não era uma tarefa fácil. Além da quantidade de estudo para estar ali a responsabilidade de investir dinheiro de seus clientes - pessoas extremamente ricas - não era algo leve.
Mas estava longe de ser algo ruim. Tinha uma vida bem confortável, tranquilidade para criar seus dois filhos e, com a esposa que também possuía um bom trabalho, tudo era mais que o suficiente. 
Seu diretor o tinha como provável substituto e se sentia feliz com o fato de ser reconhecido. Mas ao observar a vida dele logo formou sua ideia: não queria subir o próximo degrau. Seu "superior" trabalhava muito mais que 10 horas por dia, saía de casa antes das filhas acordarem e voltava, quase sempre, após elas estarem dormindo, ainda assim, tendo alguns e-mails importantes para analisar. O carro importado na garagem parecia externamente justificar uma grande lacuna interna que a bebida e as festas nao conseguiam preencher.
Naquela noite, agradeceu aos céus por ter tomado a decisão de estar satisfeito ali, no lugar onde estava.
Pedro
Eram 8h e ele desceu da terceira condução que o levava ao trabalho. Para quem mora longe da empresa 3 a 4 horas por dia de deslocamento era algo natural, apesar de cansativo. Era uma boa empresa, trabalhava bastante, mas as 8 horas por dia eram respeitadas e tinha um salário que conseguia criar os 3 filhos. Estudavam em colégio estadual, assim como ele havia estudado, tiravam boas notas e eram seu orgulho. 
Houve vezes em que pensou sair da empresa e procurar algo onde ganhasse mais, apesar de que lá, todos gostavam dele. Mas observava também vizinhos que estavam desempregado há um tempo e sabia a necessidade que passavam. Enfim, decidiu estar ali, onde era bem quisto e aberto a possibilidades que se aparecessem não hesitaria, mas também soube agradecer o degrau que já estava estabelecido.
Jurandir
Fazia mais de 8 meses que estava sem emprego. Agradecia a Deus que sua esposa, Maria, trabalhava e recebia um salário, que dava para sustentar uma boa alimentação aos 4 filhos.
Seu vizinho não tinha a mesma sorte. Sem emprego a mais de 1 ano e a esposa também sem trabalho, passavam dificuldades até para alimentar os dois filhos pequenos. 
Naquela noite, os vizinhos vieram com os filhos para jantar em sua casa. Mesmo sem trabalho, ele sentiu um imenso orgulho de poder ajudar, o pouco que sua família tinha era mais que o suficiente para dividir com amigos que enfrentavam tamanha dificuldade.
Maria encheu seus olhos de lágrimas, quando ao final da noite, Jurandir entregou a cesta básica, que ela ganhava todo mês, à família que recebeu emocionada a doação. Seriam muitos dias de refeições com aquela ajuda.
Não importa o degrau em que se está na vida, nunca estaremos no primeiro e nem no último. Uma das maiores sabedoria a alcançar é estar pleno onde está, fazendo seu melhor para ser um ponto de luz no mundo. Almejando melhorar, mas sempre satisfeito por estar vivo e, mais ainda, deixando sua energia somar ao mundo.
Naquela noite, 3 pessoas que não se conheciam, deitaram, sorriram e dormiram em paz.