sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Caridade

Muitas pessoas chegam a mim e comentam a vontade de ir ao sertão, ajudar as pessoas, fazer caridade. É, realmente, uma experiência singular e recomendo a quantos possam ir um dia ao menos, que embarquem nessa idéia. Porém, a caridade verdadeira não é encontrada somente lá.
Já vi pessoas, nesses anos de trabalho, que viajaram dias ao nosso lado, se emocionaram, conheceram, viveram. Mas de tudo, aproveitaram o superficial, uma experiência fantástica, mas só isso. Tenho amigos em São Paulo, que quase nunca saíram daqui, e são de um amor ao próximo de se emocionar, que exercitam a caridade a todo momento.
Para falar a verdade, uma cidade grande é um prato cheio para exercitar essa virtude, e em sua forma mais pura, pois na magia do sertão, em meio a pessoas boas, carentes, é mais fácil. Difícil é ser caridoso imerso nas preocupações do cotidiano, num caos social, em meio à bagunça sob o medo da violência.
Mas atitudes simples nos tornam uma pessoa melhor. Poucos lugares oferecem mais possibilidades de fazer uma caridade como o trânsito. Tentei, mas perdi a conta de quantas pessoas pediram passagem no trajeto ao meu trabalho. Quantas vezes ajudamos e damos passagem? E nem digo que devemos deixar todos que dão seta a entrar em nossa frente, pois no trânsito de São Paulo fazer isso é quase ficar parado e não pensar na pessoa que está atrás de você. Digo ajudar algumas pessoas a saírem de situações difíceis no trânsito, quando a verdade é que há uma grande competição, como se motoristas fossem adversários.
Quantos pedintes sofridos que vemos pela rua, nos pedindo dinheiro. Caridade não é dar uma moeda, mas um cumprimento com vontade, carinho, mostrar que você se importa com ele (a), quando a maioria das vezes, ele (a) acha que ninguém se importa. Isso, por si só, pode liberar uma alegria nesta pessoa, um bem estar tão positivo ao seu coração, que nenhuma nota conseguiria.
Pra mim, fazer caridade é dar descarga naquele vaso imundo de um banheiro público, pensando que a próxima pessoa que o usará não terá aquela visão horrível que você viu.
A caridade verdadeira não está lá no sertão, porque está dentro de cada um. Pode-se ir até lá e voltar do mesmo modo que foi, pode-se viver em São Paulo e ser uma pessoa melhor. A cada dia.