Quando saímos a trabalho pelo sertão do Brasil, costumamos ficar, na maioria das vezes, mais de vinte dias fora de casa. Quase um mês convivendo em pequenas comunidades, com suas belas culturas, fazendo amizades, aprendendo com a sabedoria sertaneja, nos divertindo com as crianças, enfim, tirando completamente nossa cabeça daquela correria que estamos acostumados em nosso dia-a-dia.
O trabalho é feito em escolas, que recebem a população local, em peso. O som das crianças brincando - fato corriqueiro a cada dia de projeto - é música para nossos ouvidos. Quer coisa mais alegre do que risadas, gritos de pega-pega e brincadeiras?
Por essas e outras, a volta para a cidade grande é sempre um baque. Levamos alguns dias até nos adaptarmos à dura realidade. Cruzar com uma pessoa na rua e não olhar em seus olhos e perguntar "tudo bem?". No sertão todos te cumprimentam, mesmo quando não se conhecem, há uma educação generalizada, faz parte da cultura. Em São Paulo se eu andar na rua e cumprimentar uma pessoa podem ocorrer duas coisas: 1 - se for um homem pensará: "esse é veado!". 2 - Se for uma mulher: "xavequeiro!".
Outra coisa que sentimos falta é a alegria das crianças. Minha infância, apesar de ter sido em São paulo, ainda foi em rua de terra, jogando bola com golzinhos de pedra e brincando com um monte de amigos. Bem parecido com as pequenas cidades que visitamos. Porém, hoje em dia, as crianças estão mais estáticas em frente ao vídeo-game, TV e computador; a violência e os carros já não permitem tanta liberdade.
Luis Salvatore sempre disse que sua rua é muito fria, apesar de ter pouco movimento de carros e até ser consideravelmente arborizada, é um silêncio total. Lugar daqueles em que as crianças, provavelmente, ficam na frente das TVs. Um dia ele ouviu, vindo da rua, aquele som que estamos acostumados a ouvir nas escolas: crianças brincando de pega-pega. Eram risadas, umas chamando as outras, se divertiam. Ele se impressionou, "será possível nesta rua?", pensou. Foi para a janela feliz e, realmente, eram crianças de rua, que brincavam. Quase fechou os olhos e ficou curtindo.
De repente, algo monstruoso o tirou de seu "transe". Sua vizinha abriu a janela e gritou, com todo o ar que pode retirar de seus pulmões:
- Calem a boca!!! Que barulheira é essa, molecada!!! Vão embora!!! Chega!!! - berrava numa altura, e de um jeito, que mostrava seu total descontrole.
Como por um susto as crianças ficaram em silêncio e foram embora. E Luis nunca mais ouviu um dos sons que mais gosta, em frente sua casa.
Pois e na minha cidade tbem cumprimentamos todo mundo Poços de Caldas ainda guarda essas peculiaridades de cidade interiorana.
ResponderExcluirHa dois meses estou em S.P. um dia fui a padaria e cumprimentei uma senhora, logo pela manha ela me olhou com uma cara de quem pergunta: Quem é você para me cumprimentar? Virou a cara e seguiu. Dai comecei a me sentir uma estranha no ninho.
Bjos achocolatados
Onde nasci, os idosos cumprimentavam até as criancinhas.
ResponderExcluirComo eu andava muito, obedecendo os adultos da família, desfrutava-me constantemente desse:
__BOM DIA! __ BOA TARDE!
Nesse momento, eu me sentia muito importante. Lembro-me até dos "olhos nos olhos"
Ô amigo Wolber... adoro ler você!!
Um grande abraço. Tenha um belo fim de semana.
I agree, I miss the sound of children playing in the streets or outside the house or at the lawn. Most are engrossed playing with video games and other technological advancements that interest them more. I'm glad that as a kid, I was able to experience playing outdoors, too.
ResponderExcluirGrande Wolber obrigado pelo texto... não vou contar o episodio mais recente, meu "com o filho da vizinha"... triste e lamentável...fica para um dia no bar ao lado do colega... Infelizmente é a nossa cidade, que ainda dependemos para nossos sonhos, mas quem sabe um dia vou poder acordar, todos os dias, ao som destas crianças. Quem sabe um dia.. abs do Luis
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