quinta-feira, 30 de julho de 2009

Prefeitura X Minorias

Quem é da cidade de São Paulo vem acompanhando a alguns meses alguns atos da Prefeitura para tentar melhorar o trânsito caótico da cidade.
Os amigos leitores das cidades do interior do Brasil não devem imaginar o que é um congestionamento daqui.
Perdemos muitas horas por dia nos deslocando de casa para o trabalho. Isso sem exagero mesmo, há trabalhadores que levam de duas a três horas para ir e outras três para voltar, somando-se assustadoras 5 ou 6 horas perdidas por dia, olhando para fora de uma embaçada (mais ainda nesses dias chuvosos) janela do ônibus.
A primeira tentativa para tentar aliviar, ao menos um pouco, o problema foi o rodízio municipal de veículos, que significa não poder usar seu carro no dia que seja marcado para o número final da sua placa - na segunda-feira não circulam os de final 0 ou 1 e assim por diante.
Nesses últimos dias novas atitudes energéticas foram tomadas, mostrando que a prefeitura tem coragem para mexer em vespeiros. Porém dessa vez coragem não está sendo aliada ao bom-senso.
Primeiro os caminhões foram impedidos de circularem durante o dia na cidade. "Ah, ótimo! Aqueles caminhões realmente enchem as ruas e aumentam muito o trânsito" alguém pode dizer. Porém fica mais difícil de se aceitar quando pensamos num trabalhador que tem o seu caminhão como sustento. Uma pessoa que de uma hora para outra - sem direito a negociar - será transformada em um trabalhador noturno. Isso sem mencionar que muitos caminhões que circularam de noite para descarregar suas mercadorias em supermercados tiveram que esperar até o amanhecer, já que a empresa não mudará seu horário de recebimento, e após descarregar o motoristae faz? Volta para casa e toma multa??
A novidade agora é a lei que proibe os ônibus fretados de circularem dentro da cidade. Eu sempre sonhei em ir para o trabalho num ônibus fretado e se houvesse a possibilidade, se trabalhasse em uma empresa que tivesse um não pensaria duas vezes: largaria meu carro em casa e iria no conforto de um ônibus tranquilo, dormindo ou lendo, não me preocupando com o trânsito. Ganharia horas de vida! E muitos fazem isso, pensam da mesma forma. Agora, essas pessoas que eram "abençoadas" antes, na minha opinião, terão que vir de fretado até uma estação e terminar o trajeto de metrô ou ônibus normal. Então, no horário de pico, pegarão uma enorme fila para entrar no vagão. Nem sempre conseguirão entrar no primeiro trem (eu quando usava, muitas vezes não conseguia) e quando conseguirem se espremerão lá dentro, sentindo o que uma sardinha deve sentir quando colocada dentro de sua lata. Ou pegarão um ônibus quase sempre lotado, torcendo para não ir na porta ou escada, quase dependurado. Sentar seria uma utopia, alcançada apenas aos felizardos que conseguem subir no ônibus em seu ponto inicial.
Manifestações estão acontecendo todos os dias para que a nova lei deixe de existir e a queda de braço parece ainda distante de terminar.
Isso tudo mostra um descaso com a minoria, bem do tipo: para melhorar o todo vamos atrapalhar os caminhoneiros ou quem usa ônibus fretado. É prejudicar poucos visando o bem de muitos.
Mas isso está certo? Eu acho que não.
São só atitudes paliativas que tiram um pouco o foco do que realmente a prefeitura deveria fazer: investir maciçamente no transporte público. Podem ter certeza que se houvesse um ônibus decente ou um metrô que ligasse grande parte da cidade aquela pessoa que se estressa no trânsito e gasta dinheiro com gasolina todo dia não pensaria duas vezes em deixar o carro em sua garagem.

Um comentário:

  1. Amigo Wolber,

    Seu blog está cada vez melhor. Parabéns. Sobre essas medidas aqui em SP, acho a restrição aos fretados uma completa idiotice e não tenho nada a acrescentar à sua análise.

    Já quanto aos caminhões, a questão é um pouco mais polêmica, já que são os caminhões que, em grande parte, causam acidentes, intalam em pontes e congestionam o tráfego. Fora que são muito mais difíceis de remover das vias. Para os caminhoneiros ficou um pouco mais complicado - mas não impossível - de trabalhar. É questão de estudar melhor vias, dias e horários alternativos.

    Agora, todas essas medidas são apenas paliativas, claro. Não resolvem o problema. A prioridade deveria ser o Rodoanel, a melhoria no transporte público, mas como a política no Brasil é feita na base do imediatismo (e da cafajestagem), aqui estamos: parados na Marginal todos os dias.

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