Maria mudou-se com seu marido, João, para um bairro mais afastado. Moravam antes no quintal de seu pai e seu esposo, um dia, chegou com a notícia: "Comprei um terreno!".
Assim que viu o local, se assustou. "Meu Deus, aqui é só mato!", pensou, olhando as poucas casas que haviam na região em meio a uma vegetação rasteira e sem cuidado.
João - que trabalhava como pedreiro - construiu o primeiro lar do casal: dois cômodos e um banheiro; e assim que as paredes ganharam o reboco e o chão o cimento queimado, puderam se mudar para a nova casa.
No princípio, aquela dificuldade em se adaptar. "Parece que aqui não tem nada", pensava enquanto andava um bom tempo para buscar agua na bica que havia no bairro, já que água encanada, esgoto e luz elétrica era algo impensado na região. A maioria das vezes era João quem buscava a água, com baldes amarrados em seu carrinho de mão.
Alguns vizinhos, mais sortudos, conseguiram achar o precioso líquido perfurando poços ao lado de suas casas. "Nós perfuramos alguns buracos e nada...", lamentava.
Com a permissão do vizinho, nos meses seguintes, João fez uma ligação com canos por baixo da terra de seu poço até sua casa. Assim, diminuíram as andanças diárias até a bica.
Mudaram com uma filha de 2 anos e logo Maria engravidou. Pouco depois que o bebê nasceu: engravidou de novo.
"Um dos maiores sacrifícios era andar até o Posto de Saúde, em meio ao mato, com um bebê de 6 meses no colo, puxando uma filha de 3 anos pela mão e uma barriga grande pesando!"
O tempo foi passando. Entre sustos e risadas com o grande número de sapos que povoavam o local, João foi colocando azulejos na cozinha, melhorando as paredes da casa, aumentando mais um cômodo ao lado. A vida foi passando e as crianças crescendo, como qualquer outra família feliz brasileira.
Maria ainda mora na mesma casa, hoje, um gostoso sobrado.
Onde? Algum lugar remoto do Brasil? Interior do Maranhão? Do Piauí?
Não, mora na Grande São Paulo, em Carapicuíba, e a história se passou a 26 anos atrás. Ela é minha paciente e onde eu tenho consultório - hoje uma rua movimentada, asfaltada, onde carros, caminhões e ônibus ferozes disputam palmo a palmo o espaço sob enormes postes e fios de alta tensão - era um dos caminhos de terra por onde ela passava a pouquíssimos anos atrás carregando suas três filhas, rumo a uma antiga bica d´agua.
São histórias como essa que nos incentivam,que nos faz acreditar que tudo é possível quando se tem determinação...
ResponderExcluirbeijos!
Dos texto que já li aqui em seu blog, este foi um dos que mais gostei, você resgatou uma bela história, muito bom mesmo.
ResponderExcluirBeijos!