Por vezes na vida passamos por momentos de surpresa e admiração. Durante as semanas que estive participando da campanha do câncer bucal pude ter a grata sensação de interagir com centenas de idosos, classificados como todo e qualquer cidadão acima de 60 anos de idade.
Pude perceber, durante aquele longo dia de sábado trabalhado, e após analisar 137 pacientes, o que significa ter completado 60, 70 ou até 80 aniversários; todos aqueles pacientes, respeitando as particularidades, trazem algo em comum, que se traduz numa palavra: velocidade. Parece brincadeira e até sarcasmo, mas esta foi a minha sensação. Toda a hiperatividade de uma criança, ou de um adolescente, se resume a uma maneira lenta de encarar a vida; talvez um artifício para que possam ver e interpretar cada acontecimento com mais precisão, afinal muitos deles me surpreenderam com a lucidez e a rapidez de raciocínio, principalmente em suas histórias.
Um deles era o seu Chico, senhor de 81 anos, pele queimada do sol, mãos calejadas do trabalho, camisa desabotoada e um sorriso contagiante, por parte desdentado, mas sincero e amigo. Entrou acompanhado de seu genro, pois parecia ter dificuldade em se comunicar, e logo dei início a uma série de perguntas para analisar e investigar eventuais anormalidades no paciente.
- O Sr. Chico tem alguma lesão na boca de que esteja reclamando? – perguntei.
- Ele tem um “caroço” na língua, nem consegue mais colocar a dentadura. – explicou o genro.
Observei curioso a língua do paciente e logo percebi o tamanho do problema. E quando digo tamanho, também me refiro ao tamanho da lesão e certamente a gravidade do caso.
- Quantos anos o Sr. fumou seu Chico? – perguntei.
Com dificuldade me fez entender que fumou durante 40 anos, e a pelo menos 20 não colocava um cigarro na boca. Pois bem, seu Chico foi submetido a uma biópsia para verificarmos do que se tratava aquele estranho crescimento em sua língua, e uma semana depois constatou-se o que eu de fato já imaginava: câncer de boca.
Talvez este seja o momento mais difícil para um profissional da saúde, comunicar aos familiares e ao paciente de que é portador de uma doença grave, de prognóstico duvidoso, e convencê-los da necessidade de seguir restritamente a todo tratamento e acreditar numa, muitas vezes duvidosa, melhora ou até cura.
Observando casos como este me faz cada vez mais levantar questionamentos com relação ao cigarro. Não vou ser moralista, já fui adolescente e entendo as aventuras, abusos e imprudências que cometemos; talvez aquela pequena mente cheia de dúvidas e inexperiência não consiga avaliar e quantificar o problema de se aventurar num vício tão perigoso.
Naquele instante, junto a todos os familiares fui breve, e pude ver nos olhos do seu Chico seu olhar adolescente, e talvez o imenso arrependimento logo que lhe dei a temida notícia.
Carlos Fonseca é dentista, tem 26 anos
Olá Wolber,
ResponderExcluirAs pessoas quando são novas não pensam, nos malefícios do tabaco e ele mata, e deixa marcas para o resto da vida, eu fumei durante algum tempo não muito, mas ficaram marcas, não muito graves felizmente.
Falando de Bola, nunca a selecção foi tão longe como no tempo do scolari, para mim foi o melhor treinador de todos os tempos, era frontal e directo, e ele é que mandava, não era os Presidentes, nem os empresários, dos jogadores. dos jogadores convocados 18 são do mesmo empresário.
Se não for Portugal, que seja o Brasil.
Grande abraço,
José.
Bom dia, amigo Wolber.
ResponderExcluirQue história emocionante...
Parabéns para o Carlos Fonseca, que apesar da pouca idade, é esse profissional louvável.
Wolber, você escolheu esse episódio de seu colega, porque foi marcante sob vários aspectos.
Infelizmente o cigarro ainda laça muitos jovens, que também serão vítimas no futuro.
Imagino você...que também faz da sua profissão um sacerdócio, quantas emoções já invadiram a sua alma... quantas histórias pra contar!
Sinto-me honrada pela oportunidade de estar aqui. Muito obrigada.
(Sobre aquele comentário, você tem razão. O socialismo que temos notícia, nivelou por baixo.)
Um grande abraço. Que Deus ilumine sempre, o seu abençoado trabalho.
Completando...
ResponderExcluirOs chefes de Estado não se nivelaram com o povo.
Olá José!!
ResponderExcluirValeu pelo comentário. Bom saber que você deixou o tabaco. Realmente é algo que, infelimente faz mal pra tudo. A boca é apenas uma parte.
E torci para portugal hoje, infelizmente não deu vitória. Mas o empate está bom. O jogo foi muito melhor do que o do Brasil...
Grande abraço!
Olá Amapola! Prazer te receber aqui!
ResponderExcluirOlha, eu agradeço a Deus por trabalhar hoje com algo que amo, e faço como se fosse uma diversão.
As histórias me fizeram criar esse blog. Me deram vontade de escrever e compartilhar. Fico muito feliz qe tenha gostado. Novamente, é um prazer.
Sobre o comentário no seu texto (http://mariamapola.blogspot.com/2010/06/memorias-importancia-de-cada-um.html), concordo com você. Acho que os homens da elite tentam com tanta vontade seu objetivo, apenas para formarem um topo de pirâmide, longe de todos que fizeram se igualar. A eterna ganância humana...
Grande abraço!