sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A parteira

Podemos até dizer que é uma das profissões mais antigas do mundo. No Brasil, ainda temos algumas que resistem aos tempos modernos. Porém, infelizmente, sua atuação vem, pouco a pouco, se esvaindo. Nossa geração, pode ser a última que ainda vê essas corajosas mulheres em ação.
Hoje, mesmo lugares pequenos e afastados, possuem um posto de saúde ao qual recorrer e programas de incentivo ao exame pré-natal, estimulam o parto com acompanhamento médico.
O exame pré-natal é imprescindível e deve ser realizado. Para atrair mulheres locais há um plano do poder público, onde todas as mães que fizerem todos os exames ganham, ao nascer da criança, um "bônus enxoval", de cerca de 1500 reais. O efeito colateral é uma explosão demográfica, onde uma quantia dessa, perto dos 200 reais mensais do Bolsa Família, incentiva mães a fazerem filhos todos os anos.
- Hoje diminuiu muito a quantidade de pessoas que nos procuram para fazer partos, por causa do bônus. Mas, mesmo quando faço o parto em casa, sigo com a mãe até o hospital, assino os papéis, e ela pode ganhar o dinheiro da mesma forma. - nos conta dona Maria das Neves, 59 anos, parteira desde os 16.
Entrou na profissão sem escolha, tendo que fazer o parto da própria mãe.
- Imagine eu, 16 anos, matuta de tudo, e minha mãe falando "filha, me ajuda, não me deixa morrer". Não tinha nem como pensar.
E foi assim, a mãe que já havia tido muitos filhos, foi dizendo o que ela faria e, graças a Deus, tudo deu certo.
Haviam outras duas parteiras na região e quando uma estava doente e a outra viajando as pessoas diziam "chama a das Neves, que é corajosa e faz". E assim se tornou uma ótima parteira.
Hoje, já perdeu a conta de quantos partos fez. Mas lembra muito bem dos mais difíceis, como quando o bebê está colado no útero.
- Aí meu filho, a gente tem que usar a inteligência, né?! Colocamos a mão lá dentro e vamos, com cuidado, descolando o bebê da parede do útero. Do mesmo jeito que fazemos quando ele tá fora de posição, vamos arrumando até ele se ajeitar, lá dentro... - diz com uma sabedoria e tranquilidade impressionante.
Assim como dona Isabel, 70 anos, também do interior de Pernambuco. A última vez que "pegou menino", como falam, faz apenas 3 meses.
- Diminuiu, mas vez ou outra ainda chamam a gente pra fazer. - diz em sua simplicidade cativante.
Há 10 anos atrás, tinha muito mais trabalho, 6 ou mais partos por mês. Teve vezes que vinha de um e já a chamavam para fazer outro. Hoje já faz parto dos "netos", filhos de homens e mulheres que já nasceram por suas mãos e fazem questão de que seus filhos nasçam da mesma forma: pelas mãos abençoadas de quem nasceu com um dom de Deus para auxiliar milhares de mães por este sertão adentro.

Uma informal entrevista com dona Isabel, em sua casa, no sertão do Pernambuco. 24/09/2010

33 comentários:

  1. Como eu gosto de vir aqui e ler suas histórias. Elas me soam tão reais, pessoais. É como se conhecesse cada uma dessas figuras que você cita.Saio sempre humanamente mais rica quando venho no seu canto, moço.

    Beijos.

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  2. Pera aí, se estamos em 09/10/2010, como podes ter feito uma entrevista em 24/10/2010? Meu abraço.

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  3. Oi Milene! Tudo bem?

    Olha, gostaria de dizer como eu fiquei feliz em ler o qye você disse, mas seria difícil explicar.

    Só agradeço, de coração!

    Um grande beijo!

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  4. Hahahaha!! Olá JFS!!

    Muito bem observado. Mas acho que você não leu minha última postagem antes dessa: "A máquina do tempo". A usei para ir ao final desse mês e não resisti, publiquei a entrevista, mesmo antes de fazê-la... rsss

    Haha! Nossa, verdade, nem tinha percebido. Vou mudar. Obrigado pela correção. ;)

    Um abração, meu amigo!

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  5. Hahahahaha confesso que dei uma boa risada com o seu comentário lá em meu Cantinho...rsrs

    Volto aqui amanhã para te ler com calma, beijo, beijo!
    She

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  6. Essa pessoas teem o seu valor pela coragem...e pela aprendizagem sem terem formação academica...
    Beijo d'anjo

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  7. Olá She!!

    Haha, é entender de maquiagem não é conosco. :) ainda bem! rs

    Volte sempre!

    Beijão!

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  8. Olá Sonho!

    E que coragem! Imagine alguém, com a mão, descolando uma criança da parede do útero...

    Essas, com certeza, são guiadas por mãos divinas.

    Legal ter você por aqui!

    Um grande beijo!

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  9. Moço...perdão pela intromissão, mas....fui comentar no blog do Pablo e te vi por lá...Cara, te vi na cadeira e Pablo te extraindo dente por dente....to rindo sem parar...rsss
    Tu é dentista bonzinho? rs
    Num sábado nebuloso, viajar em cenas insípidas até que faz bem, nénão?!

    Bjs meus !

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  10. hahaha! Olá Lila!

    Pois é, gosto dos textos do Pablo e, quando li sobre o dentista, eu mesmo dei muita risada.

    Mas eu sou um dos bonzinhos, torturo ninguém não. rs

    Intromissão nenhuma, um prazer te receber aqui!

    Beijo!

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  11. Wolber,

    Como é bom passar aqui!!!

    Incrivel, como me emociono com seus textos, e hj tem um motivo muito especial:

    Eu, e meus doir irmãos nascemos em casa, com parteira.
    Há 45 anos atrás (To ficando velha rs), meus pais moravam numa cidade pequena, e longe do centro. Época de vacas magras, como minha mãe dizia rs.
    E eu nasci de parteira. Minha mãe sempre me conta isso, do meu parto, do sofrimento dela, das dores, e da sabedoria dessas parteiras tão maravilhosas.
    Eu me emocionava qdo minha mãe me contava isso, e tenho tanto orgulho sabia?
    Minha mãe dizia, que todas as mulheres corriam pra essa Senhora, ela era a médica de lá rs, corria com todos, e naquela época tinha feito tantos partos, que perdeu as contas.
    Ela era um pouco mãe de todas essas crianças, e um pouco minha tbm.
    Me lembro que uns anos atrás, o Hospital Pró Mater ainda trabalhava com parteiras na sala de cirurgia. Eu achava tão lindo. Os médicos não tinham esse pretensão de serem DEUS, e contava com a sabedoria dessas pessoas em partos dificeis. Lembro que em muitos programas de TV, faziam entrevista no Pró Mater por isso.
    Bacana né?
    Enfins, vi o video, li de novo, e me emocionei (Eu sou uma manteiga derretida, não liga), porque meu sonho era conhecer essa senhora que com suas mãos divinas me trouxe ao mundo.
    Depois de crescida, em outra cidade, buscamos informações dela, mas nos disseram que hj ela trabalha lá em cima, com Deus.
    E ela, e tantas outras parteiras, não poderiam estar em outro lugar né? Porque deram vida, a vida que Deus deu a tantas mulheres.
    Apenas queria ter tido a chance de beijar as mãos dela, mas sei que de alguma forma, em pensamento eu fiz isso.
    Um abraço, meu amigo querido, lindo feriado, e obrigada por ter me emocionado mais uma vez.
    Me sinto demasiadamente HUMANA quando estou aqui, nesse seu solo sagrado.
    Você é uma benção, Wolber!

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  12. Eu nasci nas mãos de uma parteira, conhecida na minha cidade como Vovó Eugênia.
    Nos dias atuais já não vejo mais falar de parteira.

    Muito bom seu texto Wolber.

    Bom domingo pra vc.

    beijooo.

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  13. Sil, que história linda!! Não sabia que você havia nascido pelas mãos de uma parteira. Que orgulho! Emocionante.

    Que alegria receber seus recados, muitas vezes eu os releio, não por um narcisismo impulsionado pelos elogios, mas pela beleza das coisas que você fala.

    E que legal saber de como era o Pró-Mater, uma forma de usar a humildade e inteligência para o bem. Pena que as coisas mudaram.

    Essas mulheres, assim como Maria das Neves e dona Isabel, são iluminadas, mesmo numa conversa rápida, notamos isso. Sentem um prazer enorme em ajudar os outros, fazem os partos porque amam serem úteis. Assim como cada um de nós devemos ser.

    Sil, que prazer recebê-la aqui, minha amiga!

    Um ótimo feriado para você!! :)

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  14. Olá, minha amiga!!

    Que ótimo saber isso também: mais uma amiga daqui que nasceu pelas mãos de uma parteira.

    E olha isso, mesmo o nome pelo qual ela era conhecida, Vovó Eugênia, já demontra o carinho que toda uma região teve por ela.

    Muito obrigado pela visita e pelas palavras!!

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  15. Wolber,

    Ficção ou realidades suas histórias mostram vidas, dons, memórias e sua prosa é de agarrar a gente pelo pé.

    Bjs e boa semana

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  16. Olá Wolber!!!
    Assim como as parteiras, não encontramos mais as benzedeiras, lembra?
    Nunca ouvi falar sobre esse bônus.
    Ótimo texto.
    Bom feriado!!

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  17. Oi Ira!! Tudo bem?

    Um comentário que nem o seu, é daqueles que fazem desprender um sorriso automático depois de lê-lo. Muito obrigado.

    Todas essas histórias são reais, personagens que conhecemos pelo sertão afora e não acrescento nada a mais. Claro, só mudo alguns nomes de vez em quando.

    As únicas histórias que são fictícias são os contos do velho Zazu, o sábio do sertão. Que tratam de alguns pensamentos profundos que ouço daqui e dali.

    Obrigado pela visita, minha amiga!

    Beijo!

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  18. Oi Ká! Tudo bem com você?

    Boa lembrança! Ainda existem aos poucos, como as parteiras, mas não fui atrás de alguma ainda. Valeu pela dica, "caçarei" uma algum dia desses para registrar suas histórias. Muito interessante. ;)

    E esse bônus é algo que nos deixou espantado. Por um lado é bom, ajuda quem precisa e incentiva ao pré-natal. Mas aumentar o número de filhos é algo que, comcerteza, não precisamos...

    Legal tê-la por aqui Ká!

    Beijão!

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  19. Oi Doutor...

    Aos poucos você vai aparecendo. rs rs rs

    Me conta uma coisa: você tem faro para boas matérias ou tudo isso simplesmente acontece assim nessas suas andanças?

    Se um dia você estiver desanimado com a vida de odontólogo podes tentar a literatura ou o jornalismo. Esse texto dá uma ótima matéria jornalística, então... será esse o seu estilo se definindo???

    Beijos!

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  20. Olá, minha amiga policial! Que legal recebê-la aqui! :)

    Olha, essas situações, realmente vão acontecendo pelas "bandas" que nós andamos. Mas temos que estar, também, com a "antena ligada".

    Uma vez, no Ceará, eu estava atendendo e o diretor da escola chegou de braços dados a uma senhorinha, de quase 90 anos, com um sorriso lindo no rosto. Me disse que era a parteira da região e que já havia feito o parto de quase 2000 crianças por ali!!

    Aquilo me fascinou, queria muito conversar com ela, mas trabalhei até muito tarde e dia seguinte fomos embora cedo. Não consegui.

    Nessa última viagem, perguntei ao Dequinha, grande amigo de Pernambuco, se ele conhecia alguma parteira. Ele ficou feliz, e disse que tinha duas ótimas pra eu ver. Assim, conheci nossas duas amigas do texto acima, com a câmera em uma mão e o bloco de textos na outra.

    Quem dera pudesse ser jornalista também, mas sou só um curioso que adora essas histórias.

    Agradeço, de coração, pelas palavras! Ainda mais vindo de uma pessoa como você, que escreve tão bem. :)

    Grande beijo!

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  21. Suas histórias são sensacionais!!!

    Tudo real e autêntico!!!

    Parabéns pelo blog!!

    beijo e boa semana

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  22. Olá Ju!! Tudo bem?

    Muito obrigado mesmo pelos elogios. Fico muito feliz que tenha gostado.

    Eu adoro, e me empolgo, quando as ouço pelo sertão e fico feliz que você possa gostar de ouví-las aqui também.

    Muito obrigado pela visita, minha amiga!

    Beijos!

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  23. Ola,bom dia!
    Estou aqui pra dizer o queanto sua presença na no Espelhando e Espalhando e Amigos é importante.
    Volto como Reflexo d'Alma pra comentar o belo texto.
    Bjins

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  24. Olá Wolber,
    Estou conhecendo teu blog agora e estou adorando. Tua prosa e cativante. Com certeza voltarei mais vezes.

    Eu também nasci nas mãos de uma parteira e tive o prazer de conhecê-la quando eu ainda era jovem. Tenho até fotos com ela. Muito legal.

    Essas histórias de vida, são sempre interessantes, e você sabe contar muito bem. Parabéns.
    Bjssssssss

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  25. Olá!! Sempre passo pelo seu blog!

    Um prazer ter você aqui também!

    Volte sempre!

    Grande abraço!

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  26. Oi Marli!! Tudo bem, minha amiga?

    Que legal receber um comentário cheio de palavras bonitas assim, muito obrigado!

    Olha que bacana, você também nasceu pelas mãos de uma parteira. Quantas pessoas poderão falar isso daqui a alguns anos? Que legal que tem essa foto com ela, um prêmio! Sil e nossa amiga do "pelos caminhos" adorariam ter uma.

    Um grande prazer tê-la aqui neste blog. Espero que volte sempre!

    Grande beijo!

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  27. Parabéns pelo blog e pelas histórias, pela prosa encantadora.
    bj grande

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  28. Olá Doutor!

    Muito obrigada pela força lá no blog da Alane. Fiquei muito feliz por você ter sido o zero-um em comentar naquela postagem. Sua presença lá melhora a minha imagem.
    : )

    Posso te contar um segredo? Eu tenho medo de jornalistas. rs rs! A Alane é uma das poucas que me inspiram alguma confiança. Não repare, é mais uma das doenças policiais...

    Um beijo!

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  29. Olá Olívia!

    Que ótimo recebê-la por aqui! Muito obrigado pelas palavras, elas sim, encantadoras.

    Um grande beijo!

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  30. Oi amiga policial!

    Imagina, é um prazer grande comentar sobre um texto seu e elogiá-la. Não há como dar "bola fora".

    Sempre indico seu blog, mesmo a amigos, como uma ótima leitura. Adora pasear por ali, além de me sentir seguro por estar num meio de tantos policiais... :)

    Fico feliz que você esteja tendo boa repercussão. ;)

    Grande beijo!

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  31. Poxaaa, Wolber!
    Que trabalho lindo o seu! Quanto amor, quanta dedicação... me encantei!
    Sou baiana e sei o quanto o NE precisa de acolhimento e de pessoas boas, independente do instrumento ou patrocínio que tenham em suas mãos, para lidar com o povo!
    E divulgar esse trabalho no blog é uma iniciativa brilhante, que incita outras iguais.
    Verdadeiramente, me apaixonei!
    Estou te seguindo.

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  32. Olá Fadinha!! Tudo bem?

    Quantas palavras doces. Muito obrigado, fico muito feliz que tenha gostado deste blog.

    Interessante o que você falou sobre patrocínios. Hoje, o Instituto, tem muito apoio, o que nos possibilita levar dois computadores para cada escola, quase mil livros para cada uma delas, estantes para a biblioteca, internet, enfim, muito material. Mesmo assim, vemos que muitas vezes, uma boa conversa e um apoio na hora certa, vale mais do que todo o aparato que levamos.

    Muito obrigado, novamente Fadinha. Espero que volte outras vezes.

    Grande beijo!

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  33. A minha mãe, hoje com 72 e dois anos de idade, foi parteira durante muito tempo da sua vida. Com essa profissão criou e educou eu e a minha irmã. Hoje, nós duas nos tornamos professoras, que é outro tipo de parteira, que também trás à luz muitas crianças. Um grande abraço a você; a todas as parteiras do Brasil e aos professores pelo nosso dia.

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