segunda-feira, 4 de julho de 2011

Julgamentos

Chegamos na quarta em Paraty Mirim. Ali nos aguardaria um barqueiro para nos levar até a comunidade do Mamanguá. Descarregaríamos todos os equipamentos na escola e só então seguiríamos para a pousada onde descansaríamos após cada dia de trabalho. 
Ele estava nos esperando, com cara de poucos amigos. Como sempre fazemos, puxamos conversa, comentamos sobre o trajeto e quando dissemos que esperávamos que nos levasse da escola à pousada, Ademir foi enfático:
- Não me falaram que tinha que esperar não. Era só pra deixar vocês lá e ir embora. 
Naquele momento tive um pensamento que me envergonharia logo depois: "que má vontade! Custa esperar um pouco?"
Tudo bem, depois veríamos o que fazer para chegar à pousada. 
Foi um dos trabalhos braçais mais difíceis que fizemos até hoje na história do IBS. Estamos acostumados a chegar com todo o material na escola, de caminhão, descermos os pesados equipamentos, caixas e mais caixas de livros, e carregarmos direto para as salas e bibliotecas. Desta vez, aliado ao esforço para, em três pessoas (eu, Valter e Luis), carregarmos todo equipamento na carreta e na van na tarde anterior, descarregamos tudo na areia da praia, da areia para o barco, do barco para a escola. Para nossa salvação, tivemos a ajuda do Nori, um voluntário que se juntou à equipe com um vigor invejável!
Vendo todo o esforço que fazíamos, nosso amigo barqueiro se comoveu, e passou não só a nos ajudar com todo peso, como se comprometeu a nos levar embora depois de acabado o trabalho. carregava pesadas caixas, sorria e brincava conosco.
Enquanto o pequeno barco se dirigia para a escola (um trajeto de seus 45 minutos), fiquei sabendo que Ademir fazia este percurso algumas vezes por dia. Pegava a primeira criança para levar à escola às quatro da manhã e depois as buscava em torno das 14h. Para isso acordava as 2 da manhã, todos os dias da semana. 
A pressa de Ademir passou a fazer sentido. Também a minha necessidade de conhecer as pessoas melhor antes de julgar suas atitudes.

12 comentários:

  1. Que trabalheira heim? Que bom que vão ficar musculosos e todo mundo "saradão".
    Falando sério, muito bom conhecer as pessoas e os costumes delas para entender seus problemas e suas ranzinites.
    Que Deus abençoe o trabalho de vocês e muito sucesso com o povo da região.
    Beijos e uma semana abençoada para você. o Valter e o Luis.

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  2. Como estou vendo, o apoio é "de primeira"!
    Haja braço!
    Mas, pelo visto, a atitude de vocês acabou sensibilizando a quem os considerava apenas um problema a mais!
    Depois, quando ver vocês em ação (quero dizer, no consultório, não na estiva), ele compreenderá melhor! Talvez seja um paciente em potencial.
    Que a força esteja sempre com vocês!
    Abraços!

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  3. Queridooo!!!!

    Olha... Primeiro: Não aceito não como resposta.
    Sengundo, publica se quiser!

    Mas o principal é que quero você no Encontro da Confraria!!!
    : )

    Um beijo!

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  4. Vixe maria, Wolber... A gente faz isso todo o tempo, julga mesmo antecipadamente, o que é uma pena. Mas você nem pecou tanto, né? Só foi uma reação normal ao comportamento do cara. Putz, a rotina dele não é nada invejável. E essa criança, que sai de casa às 4 da manhã pra ir à escola? Eita, Brasil!!!

    Beijo.
    Volte logo com mais histórias de vida.

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  5. Belo trabalho,bela missão,bela lição e belíssima forma de expressa-la!Amo esse lugar,a cada nova vinda,após inevitável ida,sempre revigoro-me diante da força de vontade,do amor ao próximo e da esperança tatuadas aqui e mais uma vez posso crer: É,realmente,nem tudo está perdido! Sinto-me pequena...Eu gosto...
    Parabéns!!

    PS:Lembre-mo de um dos meus textos ao ler-te: ‘Ser médico’ e o vejo(o texto)ganhar ainda mais novos sentidos...

    Paz no coração,

    Dica Cardoso
    http://imaginerealize.blogspot.com

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  6. Meu querido doutor!
    Mesmo você sendo esta pessoa maravilhosa que faz este trabalho tão maravilhoso quanto e com todo o amor e dedicação, você não deixa de ser um simples ser humano... Com fraquezas e imperfeições inerentes à nossa condição nesse mundo.
    O cansaço da viagem e do transporte das coisas com certeza gerou esta inquietação e fez com que vc tivesse esse pre-julgamento do nosso colaborador...
    Da mesma forma que a resposta "atravessada" dele também reflete unicamente o cansaço e a inquietação gerada por uma rotina completamente contra a fisiologia do corpo humano.... não fomos feitos para "funcionar" a noite.
    Não fique chateado: com certeza o bem que vc fez à comunidade dele foi infinitamente maior do que qualquer pensamento menos digno que qualqure um da equipe possa ter tido.
    Somos humanos, somos errantes em busca da perfeição.
    E com certeza você está no caminho certo!
    Parabéns por mais este trabalho!
    Beijo grande!

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  7. Olá Marly! Tudo bem?

    É ótimo conhecer isso nas pessoas. Quando nos importamos em ir atrás da essência de cada um, suas angústias, suas dificuldades, passamos a julgar menos.

    Aí temos mais tempo para fazer algo de bom para os outros.

    Obrigado pelo carinho!

    Um abraço!

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  8. Olá Leonel! Como vai, meu amigo?

    Que bacana, você disse algo que comentamos. Acho que a melhor palavra é o exemplo. Estávamos só em 4 homens, era peso pra caramba. Ninguém reclamou, até ríamos de tanto esforço.

    Nem precisamos pedir, o Ademir carregava tudo sorrindo também.

    Eu ofereci atendimento para ele depois, quando chegou na cadeira, viu que a fila de crianças estava grande, me agradeceu e disse que não precisava me preocupar, mesmo quando insisti para que esperasse.

    O adulto que se preocupa com as crianças, diferente de tantos que me pedem para encaixá-los, sem se importar se alguma criança ficará sem atendimento.

    Um abração, meu caro!

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  9. Olá minha amiga policial! Tudo bem?

    Cheguei depois da Confraria. Apesar de não ter entendido muito sobre tão secreta "organização". :)

    Quem sabe numa próxima?

    Um abraço!

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  10. Olá, minha amiga Milene!

    OLha que bacana, o segundo texto já estava engatilhado neste e você, com toda sensibilidade, já o previu.

    Criança acordar antes das 4 da manhã para estudar é duro, não?

    Espero que goste do próximo texto.

    Um abraço!

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  11. Dica! Tudo bem, minha amiga?

    Não tenho palavras para responder a um comentário tão bacana quanto esse.

    É um prazer sempre, recebê-la por aqui e elogios assim não inflam o ego, mas deixam mais feliz de estar caminhando em uma boa direção.

    Muito obrigado!

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  12. Minha Lua querida! Tudo bem com você?

    Como sempre suas palavras transbordam sensibilidade e coerência!

    Tem total razão. Estamos sempre na direção correta, uns mais parados, outros seguindo adiante, mas vamos caminhando.

    O importante é sempre aprender, a cada dia, a cada passo.

    É um prazer enorme tê-la por aqui!

    Um grande beijo!

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