quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rolezinho

Quando os portugueses se aproximaram da Bahia, no descobrimento dessas terras, imaginaram se tratar de uma ilha que se estendia em seu caminho sobre o Atlântico. Ilha de Vera Cruz seria seu nome. Percebendo que se tratava de um lugar enorme, a nomearam Terra de Santa Cruz. Como geralmente ocorre com quem focaliza apenas partes específicas de algo, sem julgar o todo, ao olhar o geral notaram o país continental que se estendia à sua frente, que se chamaria Brasil.
A história de nosso descobrimento explica um pouco o fenômeno que se esparrama às enxurradas em qualquer assunto que se discuta. A moda do "rolezinho" de jovens da periferia de São Paulo nos shoppings da capital, se torna um caso clássico deste efeito. Inúmeras análises vem sendo feita, direita X esquerda, sociologia, luta de classes... Poucos se afastam para enxergar a essência, o mais simples, o óbvio.
Ninguém gosta de inconvenientes. O próprio inconveniente (que geralmente não sabe que é um...) odeia quem invade seu espaço agressivamente, perturbando sua paz. Teóricos podem achar bonito o movimento de uma massa em pró de algo. Mas, espere! O "rolezinho" não era um protesto, não reivindicava nada, não clamava melhoria social. E se fosse, mesmo assim, estaria no lugar errado. Pois o lugar de cobrar melhorias sociais é frente à câmara de deputados, dos políticos, que podem, realmente, promover alguma mudança em nossa cidade.
Mas não foi o que ocorreu. O movimento, simplesmente, cantava letras de um funk, paradoxal por si só, que evocam um consumo exacerbado de marcas caras.
Deixando a Ilha de Vera Cruz e a Terra de Santa Cruz de lado: pouco importa tudo isso! O fato simples é que um número enorme de pessoas se uniram para gritar, "causar" como se diz, perturbando a paz e o trabalho de muitos outros.
Fosse no Ibirapuera, na Praça da Sé, qualquer lugar público de verdade, não existiriam problemas. Me corrijam se eu estiver errado, um Shopping Center paga IPTU, é um empreendimento particular, que aluga seu espaço para comerciantes e cobra por um espaço agradável, com segurança e conforto, a cada um deles. Deveria ter o direito de evitar que pessoas perturbem a paz de todos os outros.
Vi citarem um caso de alunos da FEA (faculdade de administração da USP), de poder aquisitivo maior, e que fizeram algo parecido no Shopping Eldorado e não foram "detidos". Este é um erro nato de nosso país, onde a justiça não é igual para todos. Esse erro sim, deve ser combatido, mas não estimulado a cometermos outros para comprovar que o país é injusto socialmente.
Se há políticos corruptos, que desviam dinheiro, não se pode usar esse exemplo de impunidade e roubar a loja da esquina, como quem diz "o governante faz, eu também posso", e achar um absurdo que lhe prenderam enquanto não prendem o "politicão". Erro é erro e devemos lutar contra sua causa.
O rolezinho está longe de ser algo legal, fosse por jovens da periferia, fosse por jovens de alto poder aquisitivo. Educação é boa em qualquer lugar. E é também o problema central do Brasil, que não é uma ilha.

6 comentários:

  1. Ótimo texto meu amigo, coerente principalmente no que condiz à necessidade de se haver Educação de qualidade para que essa educação seja boa em qualquer lugar.

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    1. Bom dia, amigo!

      Obrigado pela visita! E realmente, e educação é a maior carência de nosso país. Um problema muito maior do que a seca, ou a fome, embora o assunto seja controverso e governantes insistam no assistencialismo.

      A educação de qualidade é o que melhorará em definitivo a vida de todos, enquanto a "cesta básica" é perpetuar a pobreza.

      Claro, minha opinião. :)

      Grande abraço!

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  2. Confesso não estar informada o suficiente sobre o assunto para emitir a minha opinião. Todavia, tenho realmente visto pessoas opinando de formas bem divergentes. Eu tive o entendimento que essa história toda começou não com o fato de grupos criarem protestos dentro dos shoppings, mas que estes surgiram em represália a atitude preconceituosa de barrar jovens avaliados pelas vestes que utilizavam. Considerados pobres e inadequados. Felizmente os nossos jovens estão reagindo. Infelizmente reagem de forma errada e acabam perdendo a razão que tinham. Você tem toda razão quando se refere a necessidade de educação. Se esses jovens a tivessem, inclusive a educação política, o nosso país caminharia diferente, certamente. Assim, a culpa não está somente neles, no final das contas.

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    1. Olá, Ivana! Tudo bem?

      Olha, posso estar enganado, mas acredito que jovens foram barrados na entrada dos shoppings depois dos "rolezinhos". Antes disso, entrasse um grupo de amigos, vestidos como fosse, seria um absurdo alguém proibir a entrada de quem quer que seja.

      Claro que estou emitindo minha opinião sem estudar profundamente o assunto e investigar se realmente não barraram alguém antes para dar inícia ao fato. Já trabalhei em shopping quando mais novo e nunca vi discriminação por vestimenta ou poder aquisitivo.

      O que parece que aconteceu foram encontros marcados pela rede social em shoppings de São Paulo, onde centenas de jovens se juntavam para passear dentro do estabelecimento. Porém, gritando letras de funk, perturbando a paz. Na época, próximo ao Natal, muitos pensaram se tratar de um arrastão. Lembro que recebia aviso "estão marcando outro arrastão no shopping X...".

      Depois viram que não era roubo, apenas passeio. Mas para mim, como disse um amigo, a liberdade de um deve acabar quando incomoda a liberdade de outro.

      Um abraço!

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  3. Me perdoe pela falta de inocência, mas não consigo me imaginar tranquilo em um shopping, em meio a uma onda ameaçadora de funkeiros. Acreditar que ninguém vai aproveitar o anonimato e a confusão para tentar saquear é ignorar o que se vê nos tristemente célebres arrastões nas praias do Rio, ou na saídas dos tais bailes funks, quando hordas de adolescentes de gangs rivais se enfrentam, e quem estiver nos arredores recebe as sobras da confusão.
    Até agora, os shoppings ficavam fora da terra de ninguém...
    Espero que continuem assim!
    Abraços, Wolber!

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    1. Olá, Leonel!

      Não há como manter a inocência. São tantas grosserias em nosso país que não há como não calejar nossa visão.

      O que acontece hoje é pecar pelo contrário. Pessoas com opiniões extremamente inocentes e bonitas no papel, mas que não traduzem a realidade.

      É como dizer que num baile funk há uma bela representação da cultura brasileira, ignorando a pornografia explícita presente.

      É isso, meu amigo! Grande abraço!

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