Em Canudos conhecemos seu Henrique. Um senhor de 94 anos, que nasceu nos anos pós-guerra e é praticamente o único morador da comunidade que vive quase nas mesmas condições em que os habitantes daquela época viviam.
Sua casa - que sobrevive bravamente ao passar do tempo - é feita de barro sobre uma estrutura de galhos finos entrelaçados, do mesmo modo que eram levantadas no final do século XIX. Apenas uma parte mais nova - um pequeno cômodo que construiu na entrada - foi levantada com tijolos de barro queimado.
- Tem muita gente de fora que vem até aqui e diz que é pra eu não derrubar essa casa nunca, pelo amor de Deus! - disse, deu risada e continuou - Mas eu digo que não vou derrubar não. Que vou morrer aqui.
Seu pai, ainda garoto, participou da guerra. Tinha 14 anos. Estava na batalha final e mesmo recebendo um tiro na perna conseguiu escapar.
- Depois que ele tomou uma bala coseguiu fugir, ajudaram a levar ele por trás para longe, antes de acabarem com tudo por aqui.
Como muitos dos sobreviventes, viveu um tempo longe e retornou para Canudos, ajudando a reerguer a comunidade.
Alguns meses após o fim da guerra a imagem era desoladora. Os soldados haviam incendiado tudo para que não sobrasse nada para reavivar a memória do local. A muitos kilômetros dali, era possível se ver uma tenebrosa nuvem escura sobre a região, como se anunciasse a tragédia ocorrida recentemente. Se aproximando um pouco era possível se distinguir o que a formava: milhares de urubus. O próprio cheiro dizia-se insuportável. Podemos imaginar o que as primeiras pessoas tiveram que passar para repovoar sua terra.
Depois que seu pai retornou para a região seu Henrique nasceu, em 1914.
Sentados no pequenos quintal, passamos um bom tempo ali, conversando e ouvindo suas histórias. Por alguns instantes parecia que éramos transportados para o começo do século passado. O banquinho de tronco, a casa de barro, as cabras andando e balançando seus sinos de metal.
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