Domingo de sol. Entro no carro e, automaticamente ligo o som. Minha rádio preferida, ainda, é a Kiss fm, uma das poucas que toca apenas rock. Como é voltada para os clássicos costuma nos presentear com músicas mais antigas. Porém, aproveitando-se do filão de órfãos da 89 fm, a ex-rádio rock - que além de ser assassinada por algum aficionado por música black e eletrônica teve sua pobre carcaça usurpada para tal fim – iniciou uma programação com músicas mais recentes.
Não sou um simples saudosista... Ou melhor, admito: sou um simples saudosista! O que queria dizer é que não o sou pura e simplesmente, sem motivos, apenas por discordância burra e teimosa, como um tiozinho que teima que sua opinião é a melhor saída. Creio que tenho meus motivos.
Sou um amante do “bom e velho rock and roll” ( alguém já ouviu uma frase que tenha se encaixado melhor para um estilo musical do que esta que as aspas encerram?!) e como tal choro por dentro, diariamente pela sua recente morte. Basta observamos que não há, infelizmente, novidades ou lançamentos que mereçam nossos ouvidos hoje em dia.
A diferença de criatividade e mesmo de esforço para a composição nos dias atuais é um absurdo! Penso que a criação musical deve ser arte, tem a obrigação de tentar ser uma obra prima. A música é arte.
Podemos olhar para os Beatles (para os que não gostem deles podem escolher outra banda dos anos 60 ou 70), suas composições eram geniais. Uma música chega a ser tão completa que nos passa a idéia de perfeição, como se não fosse possível acrescentar mais nada, algo como: impossível torná-la mais bela. Deviam passar horas debruçados sobre a criação, “uterina” ainda, de um companheiro; imaginando arranjos, acrescentando instrumentos, tendo todo o trabalho e preocupação de torná-la uma música perfeita, a música, uma obra prima.
Naquele tempo eles lançavam um álbum com 12 ou 14, músicas absurdas – no bom sentido. Discos que pareciam ser coletâneas, já que praticamente todas eram ótimas e viraram sucesso. No ano seguinte lançavam outro, totalmente diferente, mais canções únicas. Alguns meses depois chegava um novo às lojas.
Hoje vemos bandas grandes e boas, que ainda nos fazem respirar um pouco, nesta falta de oxigênio musical que nos sufoca, como U2 e Pearl Jam por exemplo, que lançam um novo CD. Escutamos, até gostamos. Mas é inegável que das 12 ou 14 músicas, duas ou três são muito boas, se tornarão clássicos. O resto, geralmente tapa os buracos do álbum. Após este lançamento, podemos esperar mais uns 4 ou 5 anos para o próximo.
A diferença entre as músicas de ontem para hoje me parece como a cruel diferença entre algo bonito e uma obra de arte. Algo como o belo desenho de um amigo e uma pintura de Michaelângelo.
Porém há uma luz no fim do túnel e não é a de um trem que num insano ritmo de tecno passará por cima dos pobres órfãos do rock e seus iPods solitários. Como quem espera a volta do messias, esperamos ansiosos pelo breve renascimento do rock and roll. E o obstreta divino da música prevê esse renascimento para 2010.
O fato é mais simples de se explicar do que procurar a conjunção dos astros ou números cabalísticos. O rock se firmou, nos moldes eternos como é hoje, nos anos 60. Porém nos 70 algo grandioso aconteceu. O número de bandas (boas) que apareceram foi fantástico o que deu conta de algo tão fatídico como o fim dos Beatles. Outras lançaram suas obras mais importantes como The Who, Led Zeppelin, Queen, Deep Purple, enfim, a criatividade transbordava em uma das épocas mais loucas (no bom sentido, novamente) da história.
No começo dos 80 o rock entrou em queda. Apesar de bandas que continuaram com sua bandeira hasteada, como o Police, e outras que já nasciam clássicas, como o U2, é inegável sua decadência nesta década.
Porém – graças a Deus sempre existe um “porém” do bem... – no começo dos anos 90 houve um ressurgimento. Como uma Fênix, se levantando com sua guitarra nas mãos, ótimas bandas nasceram. Living Colour, Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam, Red Hot, Stone Temple Pilots e muitas outras deram uma cara mais moderna, mas sem nunca se esquecer do velho “punch” do rock e nos devolveram a alegria de ligar o rádio e ouvir uma seqüência de músicas novas, lançamentos que enchiam nossos sedentos ouvidos como um bálsamo a curar as feridas provocadas por tanta tranqueira que entravam por ali.
Depois desta nova década de abundância criativa os anos 2000 chegaram com nova queda sonora. Os deuses musicais abaixaram os volumes de seus amplifidadores cósmicos novamente, como uma necessária pausa de uma década para brotar suas idéias nas mentes dos pobres mortais aqui embaixo.
Faltam dois anos, mal posso esperar! Sorrindo deixo a rádio de lado e coloco um CD do Who no som do carro, feliz, como um pai que aguarda ansioso o nascimento de seu próximo filho.
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