quinta-feira, 25 de junho de 2009

Apenas mais um domingo de futebol

Aquele seria um dia de fim de semana igual aos demais. Porém, naquele ensolarado domingo, ele estava mais feliz do que o habitual: era dia de jogo. Sempre sentia um friozinho na barriga nesses dias, aquela felicidade que não conseguia explicar.
E como um simples jogo de futebol consegue fazer isso? Porque consegue dissipar preocupações, problemas, o faz se esquecer da dura rotina de office boy, do chato do patrão... Nada mais tinha importância naquele dia, apenas o seu time do coração. E como é democrático, essa mesma empolgação envolve desde o operário ao presidente da empresa (até o da República!).
Vestindo a camisa de seu time, pegou o ônibus e seguiu para o estádio com dois amigos. O Assunto, claro: a grande final.
De repente ouviu alguém, dois bancos a frente, mesma camisa que a sua, xingar violentamente alguém pela janela. Metade do corpo para fora, derramava os palavrões sobre um acanhado carro onde estava duas pessoas com a camisa do time adversário.
Quando outros passageiros uniformisados repetiram o gesto ele não pensou duas vezes: com seus amigos gritou até que sua garganta doesse os maiores impropérios na direção do, agora amedrontado, torcedor adversário.
Ele que sempre teve um ar mais pacato até se surpreendeu com sua atitude, achou graça e sentou novamente com os amigos, comentando entre risos a cara de medo do pobre motorista.
Hora do jogo, alegria, raiva, apreensão, sentimentos vão e vem numa mistura de sensações indiscritível. Tudo culminando com a vitória do seu time. Seria um dia perfeito, não fosse o começo de uma confusão entre as torcidas.
Gritos, tumulto, o alambrado no chão, as duas torcidas agora se degladiavam no gramado. O palco, outrora de um simples jogo de futebol, se tornava um embate entre duas equipes furiosas.
Ele não pensou duas vezes e junto aos seus amigos desceu as arquibancadas para se juntar aos torcedores do seu time que corriam risco diante daqueles horríveis adversários. Mal sabia que na cabeça dos outros que desciam os degraus da torcida adversária se passava o mesmo pensamento.
Fosse algo no Oriente Médio, Faixa de Gaza, onde há uma história de ódio entre povos diferentes, judeus e palestinos, pessoas que aprendem a odiar seus semelhantes de outra pátria desde criança ainda acharíamos uma explicação. Não justa, mas seria uma explicação. Ali lutavam jovens, furiosamente com pedaços de pau, pedras e um ódio mortal, simplesmente porque o outro a sua frente estava usando uma camiseta de outro time. Nada mais nada menos.
E foi assim que outro office boy, que também lutava diariamente por seu salário no fim do mês se aproximou. Outro jovem que, se trabalhasse na mesma repartição, poderia ser facilmente seu amigo. Tinha um enorme pedaço de pau nas mãos, e num momento de distração desferiu-o em sua cabeça.
Dias depois ele faleceu. Sua mãe não entendia, ninguém entendia. Era pra ser apenas mais um domingo de futebol.

2 comentários:

  1. Sensacional!
    Esta merece ser dramatizada, transformada em uma vinheta famosa e utilizada em forma de dose homeopática de conscientização pela paz nos estádios; pela volta do espírito esportista em prol do fim destas atitudes hostis, bárbaras e humanamente inexplicáveis.

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  2. Fala Carol!! Tudo bem?
    Que legal receber um comentário seu.
    Esse texto foi baseado em um fato real: uma briga de torcidas na final da Copa São Paulo de futebol juniors de 95, entre Palmeiras e São Paulo.
    O pior é que os anos passam e muitos absurdos ainda são os mesmos...
    Beijo!

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