Ela entrou sorridente, apesar de estar sentindo dor de dente e do rosto inchado do lado esquerdo. Sentou-se no sofá da sala de espera e pacientemente esperou que eu terminasse de atender o paciente que já estava na cadeira e outro que esperava a um bom tempo sua consulta.
Me lembrava dela, uma garota que havia passado no final do ano passado, também sentia dor no mesmo dente. Eu havia limpado, posto um medicamento e explicado a necessidade de tratar o canal, infelizmente um tratamento que não é barato.
- Você pode dividir em quantas vezes precisar, mas precisa começar em breve, antes que o medicamento perca seu efeito e o dente volte a incomodá-la. - expliquei na época.
"Porque não veio fazer o tratamento? Agora o dente voltou pior ainda...", pensei.
Muito simpática, entrou na sala e disse que não pôde tratar no fim do ano, pois estava sem dinheiro, mas agora faria, mesmo que precisasse dividir em muitas vezes, o que eu confirmei que poderia fazer.
Como da outra vez, limpei o dente e passei uma medicação para a infecção que havia inchado seu rosto.
Sentamos na mesa, onde expliquei como seria o tratamento e, ao final, ela me perguntou quanto havia sido a emergência.
- Quarenta reais.
- Ai que bom! Foi exatamente o que eu trouxe! - disse animada. - Abri meu cofrinho e juntei o dinheiro que eu tinha lá.
Até pensei que estava brincando, mas ela colocou um saquinho plástico sobre a mesa e começou a contar "um, dois, três, quatro...".
- Pronto, aqui tem trinta. - e me entregou trinta moedas de um real.
Levou mais algum tempo para contar as outras, de cinquenta, vinte e cinco e dez centavos. No fim ficou triste e disse meio envergonhada:
- Nossa, só deu 38 reais, eu tinha certeza...
Checou em seu bolso e sorriu feliz:
- Ah, tenho uma nota de dois reais! - disse e me entregou, entre alegre e aliviada. Como se eu fosse me preocupar ou ficar bravo pela falta de dois reais.
Saiu sorrindo como entrou, dessa vez sem dor, pensando que dessa vez faria o tratamento.
Se o seu objetivo era fazer alguém chorar...conseguiu.
ResponderExcluirParabéns pelo Blog, além de educativo é totalmente humano e real.
Um grande abraço
Grazi
Muito legal você compartilhar esta história! Grande abraço!
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