segunda-feira, 21 de junho de 2010

Contraste

O contraste social está sempre em nossas vistas. Em São Paulo, vemos inúmeros moradores de rua deitados em frente a prédios luxuosos. No bairro do Morumbi, condomínios enormes fazem divisa com grandes favelas. Porém é em pequenas cidades do sertão que essas diferenças são ainda mais marcantes.
Em abril, num deslocamento no estado de Minas Gerais, paramos para descansar em uma pequena cidade. Saímos com a turma para jantar e fomos conhecer o único lugar aberto da cidade: um clube que naquele dia teria músicas em um telão e um dj, tocando o sucesso regional brasileiro (Anjo Azul, Djavu, bandas no estilo da Calypso).
O local era tão simples, que não nasceu ainda a idéia de conscientização do lixo, ou alguma educação nesse sentido. Todos bebiam sua lata de cerveja e a jogavam no chão. Nós mesmos, quando tomamos as nossas, procuramos em vão, algum lixo solitário. Tivemos que jogá-las no chão, assim como todo mundo.
Naquele local pudemos perceber a diferença de classes nitidamente. A maioria eram jovens muito simples, vestidos com camisetas surradas, porém limpinhas e passadas, o que denunciava serem suas roupas de sair. O boné e a calça jeans completavam o visual. O público geral, contrastava com algumas caminhonetes importadas estacionadas na porta do clube. Eram de alguns filhos de fazendeiros da região. A diferença social ali era muito mais gritante: alguns poucos rapazes, filhos de fazendeiros milionários e muitos outros bem pobres, filhos de lavradores.
Fui pegar mais uma latinha de cerveja, havia uma fila e um pequeno bate-boca. Me aproximei e alguns garotos pediam para a pessoa do bar uma cerveja de graça, dizendo algo como "depois a gente acerta, estou sem dinheiro". A latinha custava dois reais.
Voltei ao encontro de meus amigos e, incidentemente, esbarrei num cara, derrubando um pouco de sua bebida.
- Putz, mil desculpas, meu amigo. - pedi.
Ele me estendeu a mão, me cumprimentou e deu um ligeiro abraço. Percebi que tinha um estilo diferente da imensa maioria. Vestia uma camiseta nova e chamativa, calça da moda e uma enorme corrente no pescoço, imaginei ser de prata. Estava acompanhado de um amigo troncudo, que vestia uma roupa semelhante à sua e me olhou feio enquanto eu conversava com o "playboizinho gente boa".
Me despedi e comecei a entender: muito provavelmente o outro era um guarda-costas disfarçado, fingindo estar se divertindo com um amigo, para não constrangê-lo em ir a um lugar escoltado. Mas bastasse um desentendimento e ele cobriria algum infeliz de porrada.
Uns de guarda-costas, outros implorando dois reais, tudo ali, embaixo do mesmo teto, ouvindo o mesmo som.
O mais cruel da discrepância social do interior, é que em uma cidade grande um filho muito pobre, tem mais chance de trabalhar, por exemplo, em uma lanchonete, subir de cargo, acabar virando gerente e melhorar muito sua condição. Em lugares muito pequenos, geralmente, o filho do fazendeiro milionário se tornará fazendeiro milionário, e o do lavrador pobre já tem sua sina escrita.

6 comentários:

  1. Olá Wolber,
    Li com muita atenção o seu texto,e vi que a vida aí, não é muito diferente daqui.
    "O filho do fazendeiro rico vai ser rico também, e do pobre já traz a sina marcada."
    Portugal é sempre assim ou tudo ou nada, podia deixar dois ou três golos para marcar ao Brasil,rss
    tenho esperança muita esperança, mesmo que Portugal perca vai passar,

    Abraço,

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  2. Bom dia, amigo Wolber.

    Nas pequenas cidades, realmente a diferença social é grande, e o preconceito também.

    Antigamente o termo "Status" virou moda geral.
    Há muito, não se usa mais nas grandes cidades. Porém nas pequenas, continua sendo o maior valor a ser galgado.

    Um grande abraço. Fique com Deus.

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  3. Olá!
    Realmente a diferença entre as classes socias no país é algo falcilmente vista.
    Eu trabalho em uma loja que vende óculos, relógios e bonés. Os óculos mais caros custam 198 reais. A loja é em Macaé, onde as diferenças fazem parte do cotidiano de uma cidade que produz petróleo. Agora mesmo atendi umas meninas de uma lanchonete aqui do shopping e ela acharam um absurdo os preços. Dizendo que um dia ainda comprariam uns óculos destes, logo em seguida chegou uma menina e sua mãe, e a menina estava muito indecisa e a mãe não parava de repetir: Leva, é tão barato pra isso, pra levar logo sem pensar e depois se não gostar compra outro. Simples assim.
    Como se 198 reais não fosse a metade do salário das meninas da lanchonete.
    Triste realidade, infelizmente, a educação neste país não é levada a sério por nossos governantes, desestimulando consequentemente as pessoas de estudarem, pois os colégios públicos vivem em greve. Tornando assim a concorrência desleal para os que estudam
    em colégios particulares e terão muito mais chances de passar num vestibular e atingir uma carreira de sucesso.
    Mas, por outro lado, a mão de obra, tanto nas lavrouras, quando nos grandes centros urbanos, é necessária, para todas as áreas, se não houvesse quem plantar e colher, não cemeriamos numa lanchonete. O ideal na verdade, na minha mente romântica, é que a distribuíção de capital fosse mais justa, uns tem muito, muito mesmo e outros mal tem o dinheiro para se manter.
    Contei um pouco sobre a situação social aqui da cidade onde trabalho, e o interessante é que no seu Blog "viajamos" em realidades diferentes do nosso país. Como sobre os fazendeiros e lavradores e pude fazer um comparativo.
    Muito legal e envolvente o seu trabalho. E o seu elogio sobre minhas simples poesias me deixou muito feliz, não ligo para técnicas de escrita, simplesmente, venho e posto o que vem de dentro, bem natural, expontânea e intensa. Porque é disto que eu gosto, envolver as pessoas que leêm meu Blog, assim como vc me envolveu.
    Obrigada pelo comentário.
    Abraço!

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  4. Pois é, amigo José (a rima foi sem querer... rs), vemos que no mundo inteiro temos esse problema, em uns lugares mais, noutros menos.
    Tentar suavizar isso é uma missão nossa.
    Vamos à luta!

    Grande abraço a você!

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  5. Pois é Amapola. O preconceito é um dos maiores males da sociedade em geral.
    E um dos mais torpes.

    Grande beijo!

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  6. Olá borboleta!
    Que comentário bacana. Você sintetizou tudo muito bem!
    Quanto ao seu blog é muito agradável, continue assim, sempre estarei por lá.

    Grande abraço!

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