Chegamos na comunidade de Paraty Mirim (Paraty-RJ) na sexta bem cedo. É um trabalho bem mais tranquilo ao que estamos acostumados no sertão, onde ao chegar na escola, encontramos dezenas de crianças e adultos nos aguardando em festa. Porém, apesar da comunidade ser pequena, o carinho com que fomos recebido dessa vez foi semelhante.
A área odontológica - sem puxar "sardinha" - sempre encontra muito trabalho. Não importa quanto seja afastada e pouco centralizada a comunidade, tratamento dentário, infelizmente, ainda é uma carência enorme de nosso país. Portanto eu e o André - amigo e colega de profissão -, trabalhamos bastante nos dois dias de atendimento.
No meio da tarde, apareceu um garoto, de seus 9 anos, Lorran, pedindo para que eu arrumasse seu dente quebrado. Tinha tomado um tombo semanas atrás e, ao bater a boca na escada, quebrou o dente da frente (incisivo superior direito, para ser mais técnico).
- Claro, aguenta um pouco que a gente já dá uma olhada nele - eu disse e ele abriu seu sorriso, mostrando o dente pela metade.
Pouco tempo depois chegou sua vez. Adoro arrumar esses dentes do sorriso. Bom, na verdade, é claro, adoro arrumar todos, mas esses da frente, abraçam muito mais do que reestabelecer uma função e evitar futuros problemas. Envolve devolver auto-estima, confiança, e até mesmo reinserção social. Uma pessoa com os dentes da frente em mal estado, geralmente, se envergonha ao sorrir, levando a mão na frente da boca nessa hora, tentando esconder os dentes com os lábios, ou mesmo virando o rosto. Por isso a importância de devolver o sorriso original.
Com Lorran foi assim. Acabamos a restauração e pude ver seus olhos brilharem quando olhou no espelho. Não foi uma restauração difícil, ou que exigisse grande habilidade do dentista. Algo normal e casual, que levou seus 40 minutos, mas que devolveu aquele brilho nos olhos do garoto. Me pergunto, já sabendo a resposta, se tem pagamento que me deixaria mais feliz.
De noite, havia uma feira cultural, onde fizeram uma confraternização conosco. Uma grande roda de viola foi armada e, como adoramos isso, nos sentamos em volta. Um dos presentes pegou o violão e tocou algumas músicas. Fiquei surpreso ao ver Lorran se aproximando dele, colocando o braço em volta de seu pescoço e cantando a música, como velhos conhecidos. Me olhava e sorria. No final da música, caminhou até mim, me cumprimentou e me disse "muito obrigado por arrumar meu dente", meio tímido, meio sorrindo e saiu.
Minutos depois, o rapaz que tocava violão, veio até mim. Era o pai de Lorran.
- Olha, não sei nem como agradecer pelo que você fez pelo meu filho, só Deus mesmo. Muito obrigado. - disse emocionado.
Me explicou então, que desde que havia caído, seu filho andava triste, o que o fez levá-lo ao dentista na cidade, porém ali, o profissional cobrou 600 reais para restaurar o dente fraturado.
- Pensei até em pedir para que ele desgastasse o do lado, para ficar na mesma altura, mas seriam 250 reais e desisti. - continuou.
Eu expliquei para que ele nunca pensasse em fazer aquilo, estragar um dente bom para parecer o outro, e respondi, sinceramente, que não foi nada de mais.
Mais uma vez me disse que não sabia como agradecer. Não percebeu que não precisaria mesmo. Aqueles minutos valiam muito, mas muito mais, do que aqueles 600 reais que o outro dentista ganharia pela restauração.
Que trabalho lindo que vocês realizam, doutor! É bem capaz desse garoto querer ser dentista quando crescer, né?
ResponderExcluirÉ muito fácil fazer uma criança feliz, mas no seu caso, o esforço deve ter sido bem maior.
É realmente um prazer trocar figurinhas com você.
Um beijo você e toda a sua equipe.
Olá, minha amiga!
ResponderExcluirObrigado pelas palavras. Ne verdade o esforço foi bem pequeno. esse, acho eu, é o ponto. Algo que fazemos em nosso dia-a-dia, de repente pode melhorar a vida de alguém. Fico muito feliz por isso.
O prazer é todo meu em tê-la de visita aqui nesse blog!
Grande abraço!
Na minha opinião atitudes assim, semeadas aqui e ali, sem pretensão, como passarinhos que espalham sementes durante seus voos é que ainda seguram e sustentam este planeta.
ResponderExcluirParabéns, Doutor!.....rs
beijos
Imagina Cris. Não vale parabéns não, qualquer profissional ali faria exatamente a mesma coisa. Eu seria vil se não fizesse.
ResponderExcluirMas agradeço a Deus a oportunidade de ter feito.
Valeu pelas palavras!
Abração!
Faala Wolber,
ResponderExcluirpois é, digo juiz, pois esse que se (re)conhece como tal, manda e desmanda em tudo. Uma vez lá, queria fazer doação de roupas, um indio me disse q teria q ser escondido, pq se o cacique descobrisse, primeiro pegaria as melhores e logo em seguida, faria a distribuição "democrática"
A cara do Br!
Mudemos de assunto: que trabalho bacana, rapaz! Ver um sorriso estampada no rosto de uma criança, não há moeda que pague. E pelo visto quem sai ganhando é vc, receber um carinho desses, tão verdadeiro das pessoas, nos engrandece, aumenta nossa paz!
abraços e aa uma coisa: esta faltando fotos por aqui, imagine só um sorrisao estampado!
Olá Tatiana! Tudo bem?
ResponderExcluirQue coisa, bacana dividir essas experiências conosco. Pois é, o cacique em questão é exatamente o "político brasileiro", pena que lá eles não tem nem as urnas como arma.
Quanto ao trabalho eu concordo, recebemos muito mais do que qualquer um, e uma paz que não tem preço.
Legal, vou colocar um sorrisão deste ano, um caso que ficou bem legal. Um "antes e depois" rs.
Beijo e valeu pela visita!
Wolber, que lindo!
ResponderExcluirAdmiro demais o trabalho de vocês!
Tenho orgulho de poder ter te conhecido.
Abraços
Gabi, muito obrigado pelas palavras e pela visita. Curioso que nos conhecemos no final de uma viagem, o trabalho já tinha acabado, e você não o conheceu ainda.
ResponderExcluirQuem sabe um dia?
Um grande abraço!
OI IRMAZINHO.td bom?
ResponderExcluirmeus parabréns pelo trabalho.
um abranço.
valeu!!!!!!!!!!
Olá Luan!!
ResponderExcluirValeu pela visita e por tudo!!
Abração!