terça-feira, 29 de novembro de 2011

Alma social

Essa viagem me levou a meditar bastante sobre o que fazemos e o porquê fazemos. 
Em Irecê, fomos recebidos por Margô, a secretaria de educação local, que há muito tenta levar o Instituto Brasil Solidário para sua cidade. Organizou uma linda recepção com orquestra, apresentações e festas. Nos sentimos em casa. 
Dado momento ela me disse que era nossa fã, do nosso jeito de ser e de lutar para melhorar o Brasil. 
Durante a conversa, ela contou sua história de vida, que nos anos 70 foi a pessoa mais jovem a se filiar ao PC do B, aos 16 anos. 
- Queria ajudar o meu país, lutar contra o autoritarismo. Sabia até fazer coquetel molotov, aliás, sei até hoje. - disse e deu uma risada. 
Contou histórias daquela difícil época em que nosso país vivia sobre uma ditadura que sufocava os direitos do cidadão, censurava qualquer forma de expressão que fosse contrária à sua visão, torturava e matava. 
Naquele momento, percebi que o orgulho que ela sentia de cada um de nós, era, sem que percebesse, uma empatia perfeita. Se identificava conosco, simplesmente porque se estivesse em nossa geração, estaria viajando ao nosso lado. Assim como nós, se vivêssemos nos anos 60 e 70, muito provavelmente, estaríamos lutando contra a ditadura. 
Naquela época, não havia como pensar em fazer um trabalho social, melhorar as comunidades carentes. Havia um problema muito maior impelindo os brasileiros com espírito social a lutar contra. 
Hoje, graças a Deus - e a esses corajosos brasileiros que organizaram passeatas, reivindicaram e até pegaram em armas - estamos livres desse mal. 
O Brasil tem liberdade de expressão a cada cidadão, podemos bradar sem medo. Os problemas são outros, que empurram os brasileiros dessa geração a colocá-lo mais um degrau acima, onde haja educação de qualidade a todos, sem pobreza, com saúde, que cuide do seu meio ambiente e tenha mais igualdade entre sua população. 
O que me faz ser fã da Margô e seus amigos. Pois nossa luta atual traz algumas dificuldades como o tempo na estrada, que acompanha tanta saudade de casa e da família, como tempos difíceis nos relacionamentos de cada voluntário com suas parceiras, ou a dificuldade em conciliar o trabalho, tempo de portas fechadas e dinheiro que não entra. 
A luta, algumas décadas atrás, trazia o medo de ser preso, torturado, de perder a vida. Digna de uma coragem sem tamanho. 
Brasileiros voluntários, questionadores, militantes ou soldados de esquerda; pessoas que ajudaram a construir a história. 
Como me disse a Margô:
- Na frase do sábio Bertolt Brecht: "são os anônimos, na coletividade, que fazem os grandes acontecimentos".

16 comentários:

  1. Pois é, Wolber, o que soa estranho é alguém dizer que estava contra uma ditadura, sendo filiada ao PC do B!
    Alguém pode me dizer qual o país sob o domínio comunista onde havia liberdade?
    Certamente não seria na U.R.S.S., nem na China, muito menos em Cuba!
    Quem diz que apoiava a "democracia" mas bajulava Fidel Castro (ditadura de mais de 50 anos), me causa muita desconfiança!
    Talvez seja bom saber como eram as coisas realmente naquela época, ditas por quem vivia no país, mas não era político!
    Abraços!

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  2. Olá Leonel! Tudo bem?

    Concordo com você quanto à visão sobre o comunismo. Penso que nada que exagere para um lado ou para outro seja correto. Comida, que é algo essencial para sobrevivermos, em exagero gera obesidade e males diversos à saúde. Em falta não precisamos nem comentar.

    Concordo que o comunismo é uma ditadura às avessas, pois Fidel Castro, para mim, não diferencia em nada os ditadores de direita que tanto males fizeram na história.

    Porém acredito que na época da ditadura brasileira, o mal era tão grande, que qualquer um que lutasse contra um tirano, é bem visto como um bom aliado.

    Temos um grande exemplo na história, quando na luta na segunda guerra, contra a poderosa Alemanha, Estados Unidos e União Soviética foram importantes aliados. Depois da guerra sim, deu no que deu...

    Não sei sobre a opinião política da Margô, mas o espaço está aberto aqui para isso: trocar idéias, experiências, aprendizados.

    Um abraço, meu amigo!

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  3. Sou feito a Margô! Sua fã e da sua equipe.
    Cada viagem, um aprendizado...um querer, uma vitória. E sinto que sentem-se felizes demais, por serem os escolhidos, para essa grande batalha.
    Sucessos!
    Muitas conquista, paz, e aprendizados em suas "andanças" por esse mundo de gente, que precisa sim, ser reconhecida como pessoa.
    Uma boa noite de descanso..
    um grande abraço amigo Wolber

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  4. Olá Dayse! Como vai, minha amiga?

    Agradeço, de coração, a todas as palavras. Realmente nos sentimos muito felizes em fazer o trabalho. Sabe aquela sensação de "vim aqui pra isso"?

    Um prazer recebê-la aqui, Dayse!

    Grande beijo!

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  5. Wolber, uma das razões de eu admirar tanto o seu trabalho pelos confins deste Brasil é que me recordo de algumas viagens que fiz pela Força Aérea Brasileira, naqueles anos 60 e 70, para lugares só acessíveis por barcos ou por hidroaviões.
    Nestes lugares, eu presenciei muitas pessoas que viram pela primeira vez um buticão ou um bisturi nas mãos de um colega da aeronáutica ou da marinha, em condições comparáveis aquelas contadas nas tuas narrativas.
    E naquela época era esta a única assistência com a qual eles podiam contar. Eram filas enormes na porta do "consultório", geralmente apenas um barracão...
    E também me recordo de viajar como tripulante em aeronaves lotadas de jovens estudantes de jeans e camisetas brancas, sendo levados a conhecer e desenvolver trabalhos junto à triste realidade das populações indígenas e ribeirinhas da Amazônia, numa coisa chamada Projeto Rondon.
    E eu me orgulhava de, por alguma forma, participar deste contato, ainda que fosse ajudando a transportar aqueles meninos e meninas, que provavelmente nunca olvidaram as impressões que tiveram nessas viagens-estágio.
    Ao contrário da maioria dos brasileiros que vivem nas grandes metrópoles, eles viram um aspecto da realidade brasileira que, uma vez visto, não pode ser esquecido jamais.
    Assim, eu vejo iniciativas inéditas e pioneiras hoje serem esquecidas, quase apagadas da história, só por terem ocorrido em períodos em que erros e excessos eram cometidos por alguns.
    Coisas boas dependem de pessoas boas, que as coloquem em prática independente de posições político-ideológicas.
    Por este motivo, continuo admirando e acompanhando o teu trabalho e tuas narrativas.
    Muita força, e um abraço!

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  6. Grande Leonel!!

    Sabe que fico muito feliz com sua presença, sempre comentando no blog. E sempre penso que você é um daqueles que "bebe" a narrativa com o gosto de quem as vivencia, de quem estaria em cada uma das situações descritas com o maior prazer deste mundo. Agora entendo, mais ainda, o porquê.

    Que bacana! Sabe que sempre ouvi falar do Projeto Rondon, e quando estava na faculdade lamentava muito ele não existir mais. Imaginava como seria bom se embrenhar pelo Brasil, descobrindo a realidade de nosso povo, conhecendo nossa cultura e ainda podendo ajudar com o pouco conhecimento que adquiriu para melhorar, um pouco que seja, a vida dessas pessoas.

    Hoje agradeço muito a Deus, mas muito mesmo Leonel, por fazer exatamente o que tanto sonhei, não com o grande Projeto Rondon, mas com o IBS.

    E você descreveu muito bem: são impressões que se impregnam em nosso espírito que jamais serão esquecidas. Tenho certeza que você tem essa nítida sensação, imagens, cheiros, vozes, tudo como se tivesse sido semana passada, não é?

    É, meu amigo, experiências que ficam para sempre!

    Um grande abraço, Leonel! Obrigado pelas visitas de sempre, meu amigo!

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  7. Ah, Leonel,

    e que bacana que você comentou dos atendimentos às populações ribeirinhas. Não fui para lá ainda, mas minha noiva é médica, e quando se formou passou um ano pela marinha atendendo as comunidades na beira dos rios da Amazônia.

    Muito legal você ter comentado isso. :)

    Abraço!

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  8. Bacana a história da Margô. Ela teve uma causa sólida pra lutar, né? Não é feito os estudantes de hoje que se rebelam e destroem por causas tão fúteis, mas enfim, esse é outro papo.

    Adoro acompanhar suas histórias, você sabe. Me orgulho muito disso, de saber que no meio de tanta coisa feia nesse país, ainda temos no que acreditar.

    Meu abraço cheio de admiração, doutor.
    Beijo!

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  9. - Sem palavras Chefiinho!
    - Lagriimas de emoção!

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  10. Rúbia Margareth D. de O. M. Matos2 de dezembro de 2011 às 12:10

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  11. Rúbia Margareth D. de O. M. Matos2 de dezembro de 2011 às 12:13

    Ah, aquele comentário dos anônimos, é meu mesmo, rss; lembrando de um poema de Brecht, rs...( Vou procurar e te enviar!)
    Beijos,
    Margô.

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  12. Wolber,

    esta é mais uma grande mensagem,mais uma saga de sucesso,de persistência e que o resultado não poderia ser diferente.São exemplos como este que devemos usar para nortear as nossas vidas.


    Grande abraço desse Paraíbano.


    Luciano Guimarães

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  13. Milene, minha amiga! Tudo bem?

    Muito bem lembrado. Minha geração também viveu algo constrangedor, se comparado aos estudantes corajosos de tempos atrás.

    Os "cara-pintadas" que foram para rua derrubar Collor, era fato que seguiram empurrados pela mídia. E amigos meu, na época, me diziam que iam pra "pegar umas mina".

    Ai, ai...

    Um beijo, Milene! Fico muito feliz com suas visitas! :)

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  14. Olá Kyria!

    Feliz que tenha curtido, minha amiga!

    Beijo!

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  15. Margô, minha amiga raposa vermelha! :)

    Que bom ter recebido seu comentário-texto. Por te conhecer pessoalmente, já imaginava o que você falou, mas é ótimo ter essa certeza!

    Como já disse, temos grande admiração por você, por seus ideais, pela sua luta desde sempre, desde menina, e pela nova luta para melhorar a educação de Irecê e do Brasil.

    Um prazer enorme tê-la por aqui!

    Beijo grande!

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  16. Grande Luciano! Como vai, meu amigo?

    Saudade de vocês, desta bela terra da Paraíba! Janeiro estaremos aí, para uma visita rápida, ver como andam os trabalhos e rever os amigos. Espero que consiga nos encontrar. A Sílvia saberá o dia.

    Obrigado pela visita e palavras, Luciano! Até breve e grande abraço!

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