segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Brasil, BRICs e populismo


Há mais de oito anos viajamos pelo sertão do Brasil. Desde as cidades mais estruturadas até as localidades mais isoladas onde dormimos em casa de moradores que não possuem banheiros. Já ouvi algumas historias sobre fome e miséria, assim como a seca que ainda hoje dificulta a vida de muitos brasileiros. Eu mesmo, em tanto tempo visitando locais diversos, nunca presenciei uma cena trágica dessas, apesar de saber que elas existem, assim como a miséria debaixo das pontes e nas grandes periferias dos grandes centros urbanos.
Porém já vi muitas historias de comerciantes que não conseguem registrar seus funcionários, pois assim eles deixariam de ganhar o Bolsa Família. Pessoas que me contam fatos sobre meninas que engravidam para ganhar o auxílio maternidade. 
Em uma palestra no início do ano, Jim O'Neill - economista chefe do banco de investimento Goldman Sachs -, que criou o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) designando as futuras potências econômicas do planeta, disse que, infelizmente, em pouco tempo o famoso grupo tem grande chance de ser apenas RIC. O Brasil poderá sair desta projeção pois, de todos os integrantes, é o único que não investe pesado em infra-estrutura e educação, dando prioridade a políticas populistas e investindo grande volume financeiro em ações de curto prazo, como ajuda financeira para empresas ou baixando impostos para vender mais carros, por exemplo. 
Hoje não temos desculpas para usar políticas como o bolsa-família. Investir dinheiro público com intuito de ganhar votos na próxima eleição é um atentado contra o próprio povo! Estamos perdendo a oportunidade de lançar o Brasil na onda de desenvolvimento e torná-lo um dos fortes países das próximas décadas.
Até quando o país será regido por homens que pensam apenas no que fazer para estar no poder daqui a quatro anos, e não no que fazer para sermos um país melhor daqui a dez?
Como cantava Luiz Gonzaga nos anos cinquenta, em meio a uma seca que castigava o sertão e gerava uma miséria digna de auxílio. Agradecia o auxílio de roupas e dinheiro para os sertanejos, mas pedia aos políticos para investirem na infra-estrutura, em empregos:

"... mas doutor uma esmola a um homem que é são
      ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão".

6 comentários:

  1. Pois é... Até quando? Eu receio que a resposta seja: até sempre! Por que essa cultura populesca está enraizada nesse país e assim será até que o povo realmente se farte dessa situação.

    O texto é lúcido demais, demais!

    Beijo, Wolber.

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  2. É, Milene, esse é nosso medo.

    Nosso povo tem que começar a cobrar, se interessar, para começar a mudar.

    Obrigado, minha amiga!

    Beijos!

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  3. Wolber, eu nem gosto de falar deste assunto, pois minhas opiniões podem ser mal interpretadas!
    Não tenho dúvida que algumas pessoas precisam de assistência agora, para mitigar problemas do presente. Todo o país onde existe pobreza tem seus programas assistenciais, realmente necessários...
    Mas, quando não se faz o que precisa para resolver o problema da continuidade da pobreza, e se torna sistemático para os necessitados esperar pela mão que lhes dá alimento, vejo a praga do populismo, se alimentando da ignorância que ele mesmo cultiva, e fazendo da população pobre seu refém...
    Já foi observado em outros países: EDUCAÇÃO é a chave para o desenvolvimento! Eu odeio os "papaizinhos dos pobres", pois sem pobreza, eles não teriam seus tutelados! Por isto, agem sistematicamente para impedir que parte da população supere a faixa da pobreza!
    Infelizmente, quando se fala isto, tem pessoas que dizem que a gente tem raiva dos pobres! Eu tenho raiva é da pobreza!
    Se um candidato diz que o outro é contra o assistencialismo, os que recebem os auxílios se sentem ameaçados!
    Acabar com este círculo vicioso é uma tarefa difícil!
    Mas, seu coro com o velho Gonzaga deve ajudar, se for ouvido por alguém...
    Abraços, amigo!

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    1. Grande Leonel!

      Concordo plenamente, meu amigo! Realmente é delicado tocar em assuntos como esse, sem parecer que está contra a ajuda aos necessitados.

      Mas você disse a verdade: é um círculo vicioso. Não adianta ficar enxugando a sala com a torneira aberta. Temos que agir diretamente no problema, desenvolver nosso país.

      Ainda estamos nas mãos de muitas pessoas despreparadas e com interesses dúbios, mesmo os que levantam a bandeira de proteger os mais necessitados (e que vieram de lá), como sindicatos.

      Estamos em um país enorme, que escoar a produção por ferrovias seria extremamente mais barato, melhor para o meio ambiente, enfim, só melhorias, mas ainda escoamos tudo por caminhões, liberando gases, acabando com as estradas (e temos que investir mais em novos asfaltos), piorando o trânsito... E em vez de construir mais trilhos, desativamos os poucos que tínhamos.

      E essa é uma pequena parte do todo que precisamos melhorar.

      Vamos continuar gritando, amigo Leonel, quem sabe um dia alguém escute.

      Grande abraço!

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  4. Muito bom teu blog e os assuntos que tu abordas. Este assunto é um dilema. Governo precisa dar varas para o povo pescar!
    Um abraço!
    Sigo e volto.

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    1. Olá Marisete! Bem-vinda! :)

      Obrigado! E você tem total razão, o grande problema é que o peixe recebido dá mais votos do que a vara, que a pessoa só tem a noção do quanto melhorou a sua vida depois de um bom tempo em que aprendeu a usar e se acostuma a produzir o próprio peixe.

      Trabalho demorado e de educação. Não leva apenas 4 anos...

      Volte sempre! Um abraço!

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