segunda-feira, 1 de setembro de 2008

"Diário de Bordo" : Canudos - Monte Santo

Dia seguinte, como era de praxe, acordei e matei mais dois pernilongos MacGyvers que misteriosamente entravam em meu mosquiteiro.
Nesta manhã seguimos para Bendengó com a missão de comprar telhas transparentes que melhorassem a iluminação das duas salas de aula e da biblioteca. Os fortes ventos da região fazem as janelas ficarem fechadas por grande parte do tempo e as fracas lâmpadas - penduradas no teto por um longo fio - não dão conta de iluminar as salas.
Lá também fizemos o orçamento para a futura (e breve!) novidade do Instituto para a comunidade: um posto de saúde. Nesta noite seria afirmada mais uma parceria com os moradores. Até dezembro será construída uma casa que possuirá consultórios médico e odontológico e abrigará os voluntários que trabalharão ali.
Aqui já fica um convite aos meus amigos dentistas que quiserem conhecer uma região maravilhosa e ainda realizar um bonito trabalho social. Poderá trabalhar durante uma semana atendendo a população, se hospedar na sede do IBS e ainda fazer grandes amigos.
Voltamos com as telhas que rapidamente foram instaladas nas 3 salas, o que melhorou muito a iluminação.
Pudemos então almoçar e pegar o carro para conhecer (mais uma vez, pelo menos eu conheceria...) a cidade de Monte Santo. Ali há uma igreja famosa, que recebe romeiros da Bahia inteira. Se localiza no topo de uma enorme montanha e podemos vê-la de longe e de qualquer parte da cidade. Ganhou sua fama quando, pouco antes de fundar o Arraial de Canudos, Antônio Conselheiro a reformou com seus seguidores.
Seguimos para lá eu, Luis, Cristiano, Marluce, Damiana e o Quinha - os quatro se apertando atrás do pequeno celtinha que alugamos em Salvador.
Como estava muito calor compramos algumas garrafas de água e nos encaminhamos para os infindáveis dagraus, menos a Marluce que grávida de alguns meses preferiu não se esforçar tanto.
Logo nos primeiros degraus vi algo se mexendo no canto do caminho; levei um susto: uma cobra coral!
Tirei a foto e fiquei um pouco preocupado, já que voltaríamos no finalzinho da tarde e a luz já teria ido embora. "Vai que a gente pise numa cobra na volta!" O medo continuaria até o final da descida (ainda mais que ninguém havia levado uma lanterna. Nesse sinal o celular ajudou um bocado...).
A subida é bem cansativa, mas vale muito à pena. A cada trecho percorrido olhamos para a cidade menorzinha, lá embaixo. A escadaria de pedra leva até, mais ou menos, metade do morro, o restante é uma estradinha que segue serpenteando até o topo, onde está a linda Igreja de Monte Santo.
No final da escadaria o Luis se lembrou da foto que levava para seu Manoel, vigia que passa dias inteiros lá em cima, cuidando de tudo. Ele a havia esquecido no carro. Desceu tudo de novo para ir até o carro e nos alcançar novamente. Parecia piada...
Nessa hora um cachorrinho começou a nos seguir. Fiel, como se fosse nosso andava e respondia a nossos chamados, bem curioso. Parece que estava procurando companheiros para o passeio.
Lá em cima a vista compensa todo o sacrifício; e pensar que tem velhinhas que sobem tudo aquilo de joelhos, carregando pesados apetrechos e crianças no colo. O que não é o poder da fé.
O Luis entregou a foto que tirou meses antes do seu manoel, um tiozinho sertanejo que qualquer posição que fique parece ótima para uma foto Se está na janela a mão está no queixo e o olhar no horizonte, se está sentado numa pedra as mãos abraçam o joelho e o olhar se perde no infinito. Gente finíssima, nos convidou para visitar sua casa numa próxima vez para comer uma galinha caipira: quase fomos naquela hora mesmo!!
Assim que presenciamos o lindo pôr-do-sol nos despedimos da igreja mágica de Monte Santo e retornamos pelo mesmo caminho de pedras que nos levou até lá em cima. Desta vez, sem topar com cobra alguma...