segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A primeira impressão

Ainda bem que a primeira impressão não é a que fica. Uma boa segunda visita pode facilmente fazer sumir aquela imagem ruim que tínhamos. Tenho grandes amigos hoje que, ao conhecer, não pensei que o seriam.
Minha primeira estada no Maranhão, no ano de 2004, foi assim. Já sabia sobre as mazelas locais, miséria, pobre educação, a infeliz presença - forte até hoje! - do coronelismo, mas imaginava que os trabalhos correriam como em outras comunidades carentes. Não ocorreram.
À primeira vista tudo ocorria normalmente: muitas pessoas nos aguardando em frente à escola, crianças correndo ao lado do carro, escola muito simples enfeitada. Porém, assim que desci do carro e me preparava para ajudar a descarregar o caminhão, percebi que algo poderia dar errado. Em minha frente estavam três mulheres, daquelas bem mal-tratadas pela labuta ao sol. Mulheres que não podemos nem arriscar "chutar" sua idade; muitas vezes nos surpreendemos ao imaginar moças, na casa dos vinte anos, como se estivessem perto dos quarenta.
Uma, que estava pouco mais a frente, olhou para mim e disparou:
- Cadê as cestas básica?
Se há algo que não gostamos de associar ao nosso trabalho é "entrega de cestas básicas". Este é o maior exemplo do assistencialismo e, por mais que muitos possam me criticar, é algo que não muda a realidade da pessoa e ainda por cima sempre gera problemas na hora da distribuição.
Disse que não existiam cestas a serem distribuídas, que o trabalho seria diferente, com atendimentos médicos e odontológicos, oficinas e... -
- Ah. eu não quero nem saber! Quero a minha cesta básica! - disse me cortando.
Imaginei que aquele poderia não ser um bom dia.
Naquela época de atendimentos ainda não tínhamos o Odontoportátil, que possibilita fazer restaurações mais completas, e fazíamos apenas um procedimento rápido de curetagem das cáries, portanto o número de atendimentos era enorme e as filas idem. Logo após o almoço um amigo entrou na sala dizendo: "Wolber, pode parar com os atendimentos. Tá dando a maior confusão lá fora!"
O número de pessoas era tão grande que tivemos que distribuir senhas, do contrário não conseguiríamos ir embora aquele dia e essa distribuição estava gerando um pequeno tumulto.
Sai da sala e a escola parecia um caos. Fui ajudar a distrair as pessoas que se apinhavam em frente à sala usada como farmácia - os medicamentos doados eram distribuídos conforme a receita de nossos médicos-.
"Adesivos?", perguntei para o Erik que deu uma risada como quem diz "É o que temos...".
Peguei os adesivos, cético de que conseguiria tirar todo aquele pessoal da frente da sala.
- Quem quer adesivo? - gritei.
Adultos, jovens e crianças me olharam e começaram a caminhar em minha direção. Eu, inocente, feliz que o plano tinha dado tão certo, os levei para o outro canto do pátio.
Desgrudava um pequeno adesivo do Instituto e o colava na esta de uma criança, outro do Palmeirinha (piloto do Rally que nos apoia) e dava a um adulto, mais um para um adolescente e assim seguia, tentando ser cada vez mais rápido.
Mas não tão rápido quanto o número de pessoas que apareciam, vendo que algo estava sendo distribuído ali e vinham tentar ganhar o que quer que fosse, mesmo sendo um pequeno pedaço de papel colorido que em breve perderia sua cola e viraria lixo.
Minha preocupação aumentou demasiadamente quando havia tanta gente que começaram a empurrar, me espremendo contra a parede. E ao meu lado haviam muitas crianças. Era assustador.
Quando vi que meus gritos de calma e pedidos de organização não faziam o menor efeito e as crianças estavam prestes a se machucar gritei:
- Chega, acabou!! Não tem mais adesivos!! Vocês não vêem que aqui tem crianças se machucando? - estava tão nervoso que nem pensei no perigo de brigar com aquele sem-número de pessoas afoitas.
Me dirigi para alguma sala para deixar os "sonhados" adesivos e a turba me seguia, como se não acreditassem que eu realmente pararia a distribuição.
Deixei os maços de adesivos numa sala fechada e todos se dispersaram.
Foi um dia atípico de trabalho. Um dia assustador. Que nos deixou ainda mais desanimados com o poder público, por existir uma situação como aquela.
Ainda bem que anos mais tarde conheceríamos Nova Iorque e Balsas no Maranhão. Cidades em que temos grandes amigos até hoje, o que nos faz sempre sentir saudades de voltar para lá.

2 comentários:

  1. Uma pena o que aconteceu, ainda bem que pode conhecer a nossa cidade(Balsas) e mudar sua impressão, infelizmente nosso estado é pobre de tudo... como você sabiamente disse devido ao coronelismo que perpertua por muitos anos...

    ainda bem que existe os AMIGOS DO PLANETA, que vem plantando sonhos, esperança e melhorando a EDUCAÇÃO do nosso pais.

    Obrigada!

    ResponderExcluir
  2. Uma pena o que aconteceu, ainda bem que pode conhecer a nossa cidade(Balsas) e mudar sua impressão, infelizmente nosso estado é pobre de tudo... como você sabiamente disse devido ao coronelismo que perpertua por muitos anos...

    ainda bem que existe os AMIGOS DO PLANETA, que vem plantando sonhos, esperança e melhorando a EDUCAÇÃO do nosso pais.

    Obrigada!

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