quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O futuro professor

Roberto e Jamis andavam pela praça de sua cidade, no sertão do Maranhão. Era uma noite de segunda-feira e, àquela hora da noite, os poucos bares já estavam fechando. Porém o som de um violão vindo de um canto chamou sua atenção.
Naquele banco, com uma garrafa de cerveja ao lado, estavam dois caras tocando e cantando. Com toda a certeza, eram de fora. Resolveram parar para ouvir.
Música vai, música vem. Papo vai, papo vem. Rapidamente fizeram amizade e depois que o barzinho da praça fechou resolveram seguir até um posto, onde achariam alguns petiscos para comer e continuar a prosa.
Os dois forasteiros adoravam conversar com pessoas da região, fazer amizades e engataram uma animada conversa enquanto caminhavam. Quando o assunto chegou no futebol, Roberto se mostrou um grande conhecedor. Não só de seu time, como de todo o campeonato brasileiro e até sobre o Santos, time de um dos rapazes de São Paulo. Este ficou impressionado com o conhecimento futebolístico de Roberto e - erroneamente - pensou que aquela cultura toda poderia ser focada em algo mais produtivo. Ainda aprenderia muito naquela noite...
Ao passarem em frente a uma igreja Roberto soltou:
- Aqui nessa cidade o que mais tem é Igreja e bar. Mas sou um pouco decepcionado com a religião, sabe. A Igreja fez muita coisa errada na história. Se você pegar Galileu, por exemplo, que teve que renegar tudo o que tinha descoberto (que a terra gira em torno do sol) e foi preso por causa disso, a Inquisição, as fogueiras...
Os forasteiros ouviam aquilo impressionados e o santista ficou feliz em ter queimado a língua, ou melhor, o pensamento...
Ficaram sabendo que Roberto tinha parado de estudar para trabalhar, mas voltou este ano para terminar os estudos e realizar seu sonho: ser professor de história.
Jamis, que ouvia a tudo com atenção, acabou de tomar sua garrafa de refrigerante e, como se fosse a coisa mais natural do mundo, a jogou num terreno baldio ao lado.
Os dois paulistas pararam e explicaram que aquilo não era legal. Que eles tinham uma cidade linda, com cachoeiras e natureza abundante. O pior que poderiam fazer é deixar que sua cidade ficasse tão feia e suja como uma cidade grande.
- Não leve a mal, é que trabalhamos com isso em escolas, conscientizando as pessoas para a reciclagem do lixo e melhorar o meio ambiente. - completou o outro.
Jamis não só entendeu como, àquela hora da noite, passou a procurar no meio do mato aquela garrafa perdida e quando a achou ergueu-a triunfante, como se fosse um troféu. Andou ainda muitos metros com a garrafa suja nas mãos e quando encontrou um lixo a colocou dentro, dizendo:
- Agora sim ela está no lugar certo!
Para alegria de todos e fechar a noite com "chave de ouro" Roberto finalizou sua aula:
- Pois é, como dizia Lavousier: "na natureza nada se cria e nada se perde: tudo se transforma."

2 comentários:

  1. Grande Wolber, bacana o espaço aqui!

    Bons textos!

    Abração,
    Jone

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  2. Graaande Jone!! Muito obrigado cara, seja sempre bem-vindo!
    Grande abraço!

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