quinta-feira, 6 de maio de 2010

A onda perfeita (por Renato Zanutto)

Em pleno feriado seis horas da manhã estou eu de pé feliz da vida, pois irei surfar, momento raro para quem trabalha como dentista em São Paulo e tem duas jóias em casa Mateus(4) e Maria Clara(1).Pego meu Fun board (meu terceiro filho como diria minha amada esposa) e sigo andando até a ponta esquerda da praia de Pernambuco ,cerca de 2km , onde as ondas são maiores e melhores que o restante da praia.
Saio da casa de minha cunhada atravesso a rua e logo vejo o pessoal na balada ainda, se divertindo em uma danceteria . Enquanto estou passando na frente as seis e trinta (AM) vejo um cara me olhando como se tivesse pensando que trouxa , onde vai a essa hora em pleno carnaval; vejo um segurança de pouca idade com um olhar misto de inveja e admiração querendo estar no meu lugar pois provavelmente aprecia o mar para surfar cedinho; e um casal apenas olhando sem pensar em nada aparentemente deviam estar muito loucos de tanta birita.
Eu passei contemplando a todos , pois é muito bom ficar na balada dançando até o amanhecer , flertar , namorar e tomar um pilequinho com os amigos e não pensar em nada apenas entrar na boa vibração de todos que estão naquele local para se divertir. Passei me admirando também pois é muito bom acordar cedo, indo praticar um esporte que é praticamente uma meditação, e de quebra com uma linda vista para o mar.
Continuo andando , chego à praia e ela está vazia , com o mar liso e o sol querendo sair de trás da ilha que fica de frente para praia. Cenário perfeito! Quando chego próximo ao canto esquerdo da praia, vejo que as ondas estão médias, com boa formação e apenas uma pessoa surfando. Vejo apenas o seu vulto, pois o sol está baixo e a onda faz sombra no surfista . Parecia um quadro aquela visão.
Me apressei e entrei no mar. Dentro da água, ao me aproximar daquela pessoa, vejo que era um senhor com mais ou menos 60 anos ,cabeludo , e um pouco fora de forma em cima de um long board. Parei minha prancha ao lado dele, que logo me disse “bom dia, a água está uma delícia, rema para frente que elas vem vindo!”.
Tentei acompanhá-lo e, quando olhei, ele já estava subindo na prancha em um movimento coordenado e contínuo ,parecia uma dança. Mesmo gordinho se mostrava ágil, repetindo sempre o mesmo movimento de subida correndo a onda até o raso sem manobras . E ao terminar cada onda gritava de felicidade.
Que incrível, vê-lo foi uma inspiração, pois ele não precisava de platéia, ou fazer grandes manobras ele apenas queria curtir o que a natureza oferecia para ele. Com certeza era um surfista de alma e um apreciador da natureza. Senti aquela inveja boa , quero ter 60 anos com toda essa vibração curtindo esses momentos como se fosse a primeira vez, seja qual for a situação.

Renato Zanutto é dentista, tem 38 anos e surfista de alma

2 comentários:

  1. Grande Renato!! Que prazer tê-lo aqui dentro, amigo.
    Cara, que texto animal esse. Parabéns. Gostei da sensibilidade, tanto em passar esse contato com a natureza, como a difícil arte de não "puxar sardinha" para nosso lado. Realmente é uma delícia acordar bem cedo pra desfrutar a praia como também é ótimo passar uma noite na balada com os amigos.
    Perfeito!
    Grande abraço e volte sempre!

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  2. Pô Wolber que emoção de ver este texto no seu blog. Muito obrigado pela oportunidade de ter o meu dia de escritor e compartilhar essa história com a galera. Valeu abração

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