quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A luz

No interior do Maranhão, mais precisamente na cidade de Nova Iorque, há uma professorinha. Uma esforçada professorinha - já retratada aqui em outras histórias - que muito lutou para se formar.
Quando a conhecemos, ainda era professora da escola da pequena comunidade onde mora e, assim, abriu as portas da sua casa para que parte da equipe se instalasse durante os trabalhos. Foi assim que conhecemos nossa família maranhense, além dela, um painho e mainha, e mais três irmãozinhos mais novos.
A casa ficava num sítio, distante alguns quilômetros da comunidade, por uma estrada de terra que, saindo do sertão, adentra por entre árvores verdes, buritis e algumas plantações. Não havia luz. Energia elétrica era um sonho distante, o que me fazia pensar "como o suco podia estar gelado no café da manhã, que nos preparavam as 6:30h, se não havia geladeira?". O segredo era nosso irmãozinho Bruno, que antes das 6 horas partia em sua moto para buscar gelo no vizinho. A velha hospitalidade sertaneja.
Um lugar onde nos sentimos em casa, onde há uma seresta na viola de noite, onde podemos tomar banho ao ar livre, olhando para as estrelas e ouvindo os animais na mata. Enfim, onde vivemos como uma típica família do sertão brasileiro. Uma típica família feliz.
2010 foi um ano de mudanças para nossa professorinha Régea. Trabalhou pela primeira vez conosco, em várias escolas do sertão, e se adaptou ao trabalho como se sempre fizesse parte dele. No fim do ano se tornou diretora de sua querida escola. Nada mais justo.
Nos primeiros dias deste ano, tocou meu celular. Era ela, do Maranhão.
- Irmãozinho, você não imagina a surpresa que tenho para te contar! - disse com felicidade.
"Virou prefeita?", brinquei. Com a força de vontade que tem, não seria impossível. Mas ela contou: a energia havia chegado em sua casa!
Demorou muito, muito mesmo. Mas veio. Ficamos contentes por nossa querida família maranhense, mas os lembramos de um antigo trato: a energia pode chegar, mas quando voltarmos para a casa, todas as luzes deverão estar apagadas e o nostalgico lampeãozinho deve estar aceso, para nos lembrar do gosto gostoso daquele nosso pedacinho de sertão.

24 comentários:

  1. Amigo Wolber..
    Que gostoso ler esta estória, me fez viajar.. !
    Sou caipira pé no chão "pé vermêio" Lembro-me ainda da casa de meu avô.. Varanda elevada do chão era chamado de PASSEIO.. Na cozinha enorme pra tantos filhos e netos, num canto de paredes enegrecidas pela fumaça e calor de um enorme fogão à lenha... E à noite varias "lamparinas" acesas a fazer "picomâs" em nosso nariz...
    Valeu .. Uma tristezinha alegre de ter chegado a energia por lá.. rsss

    Abraços
    Tatto

    ResponderExcluir
  2. Tatto, meu amigo! Que comentário bacana de se ler.

    Você descreveu muito bem, muitas casinhas do interior que conhecemos. Muito bom lebrar. É uma delícia, dá para sentir o cheiro de descrições dessas. Aquele cheiro tão bom de lenha queimando no fogão.

    É, meu amigo, nada como ter o pé na terra, uma terra bem brasileira.

    Um grande abraço!

    ResponderExcluir
  3. Sempre com palavras sabiamente escolhidas você nos leva pra dentro da vida das famílias sertanejas desse país...
    A energia elétrica finalmente chega... mas será que realmente traz a luz?
    Quando visitamos estes lugares e conhecemos estas pessoas queridas que tão prontamente nos abrem as portas de suas casas não tem como não pensar no porquê elas ainda são assim...
    Talvez ali, distantes da ilusão das grandes cidades que muitas vezes vem via televisão e internet, elas ainda preservam o valor da relação humana. De uma boa conversa. Do sentimento de gratidão. De dar valor apenas ao que é realmente necessário.
    Fico feliz, por muitas facilidades que a energia elétrica trará para a familia da professora querida. Mas também fico com o coração apertado. Torcendo para que essa mesma energia, tão esperada por tantas famílias brasileiras, não faça ainda mais por destruir o pouco que ainda resta da cultura e das tradições do sertão...e mais ainda, nao faça apagar a luz do olhar dos nossos sertanejos.
    Um grande beijo!
    Espero sempre poder entrar aqui e encontrar estas deliciosas palavras!

    ResponderExcluir
  4. Minha querida Lua,

    Quanta sabedoria em um só comentário. Você definiu tudo o que sentimos e, às vezes, nem temos consciência disso.

    Não acrescento nada às suas definições, apenas releio o comentário.

    Mas acho que a luz pode vir sem trazer grandes alterações internas, apesar de ter este poder. Há muitas casinhas que entramos, está passando a novela, ou algo inútil, mas eles estão lá, com o sorriso aberto ainda e os olhos pulsando sabedoria.

    Torcemos para que tudo continue assim. ;)

    Um grande prazer sua visita!

    Grande beijo!

    ResponderExcluir
  5. NOSSA ,A CADA HISTORIA SUA..UMA VIAGEM MINHA...GOSTO TANTO DE GENTE ASSIM..SIMPLES COMO NOS TODOS SOMOS..DIGO NÓS POR QUE JA SINTO UMA SIMPLICIDADE EM VOCE PELO QUE ESCREVE MESMO SENDO UM DOUTOR SUA SIMPLICIDADE É REAL..E NADA VAI TIRAR ISSO DE VOCE!!VIAJEI NA CASA NO RIO,NO LUAR ,NA FALTA DE LUZ ..ELETRICA MAS CHEIA DE LUZES DAS PESSOAS NÃO É?PESSOAS ASSIM..BOAS DE VERDADE SIMPLES ELAS TEM UMA LUZ QUE BRILHA E ENCANTA A GENTE...EU QUANDO CRIANÇA PASSAVA FERIAS NO INTERIOR DE SP PRECISAMENTE NUMA CIDADEZINHA CHAMADA ARCO IRIS ...QUE AINDA HOJE EXISTE VOU ATE LA NAS FERIAS MINHA IRMÃ TEM UMA FAZENDA NESSE LUGAREJO..ENFIM QUANDO ERA CRIANÇA EU PASSAVA AS FERIAS NA CASA DE UMA COMADRE NA MINHA MÃE E ERA EXATAMENTE ASSIM..NÃO TINHA LUZ ERA LAMPARINAS LAMPIÃO..A NOITE A GENTE FICAVA NO TERREIRO E CONTAVA CAUSOS ...SEMPRE TINHA UM PÃO UMA BOLACHA CASEIRA..UM CAFE´
    A GENTE SE DIVERTIA TANTO EU E MINHAS IRMÃS TINHA UM RIO PERTO CHAMADO RIO FEIO..ATE HOJE TEM TAMBEM..ME LEMBRO DE IR NA BEIRA DO RIO E VOLTAR COM AS PERNAS MARCADAS PELAS URTIGAS...WOLBER VOCE ME FAZ VIAJAR POR TANTOS LUGARES QUE MINHA MEMORIA HOJE JA FALHA..E A SORTE DE QUE VOCE VIAJA E LEVA ...COISAS BOAS PRA ESSE POVO QUE SO MERECE COISAS BOAS....GENTE SIMPLES SEM MALDADE..SEM APOIO DE GOVERNOS E GOVERNOS..QUE SO ESPERAM SER RECONHECIDOS ...MAS QUE NOS TRATAM COM MUITO AMOR E RESPEITO
    AMEI O POST COMO TODOS..
    PARABENS A REGEA QUE DEUS OLHE POR ELA SEMPRE..QUE SUA DETERMINAÇÃO CONSIGA REALIZAR TODOS SEUS SONHOS....
    FIQUE COM DEUS
    OTILIA

    ResponderExcluir
  6. Gosto das histórias em que você retrata as pessoas em sua simplicidade. Me tocam!

    ResponderExcluir
  7. Nem sempre o coração quer dizer algo. O silêncio pode falar bem mais e com mais sabedoria.
    de tudo que li, senti um desejo enorme de voltar no tempo; um tempo que nem vivi. Talvez, uns 80, 100 anos e deixar a vida apenas acontecer!

    No ar, uma melancolia amiga!
    Beijo Viajante do bem !

    ResponderExcluir
  8. Saudades de vir aqui e ler sobre as histórias do sertão.
    Lembro de ter lido sobre essa professorinha. Que bacana constatar que as coisas caminharam direitinho pra ela e sua família, né?

    Continue contando histórias lindas assim, pra gente ter certeza de que há esperança nessa confusa vida.

    Beijos, doutor.

    ResponderExcluir
  9. Olá Otilia, minha amiga! Tudo bem?

    Que comentário mais agradável! :) Muito obrigado por tantas palavras boas!

    Realmente, para uma pessoa simples (no melhor sentido) como você, ir ao interior é uma delícia. Desde criança também sempre gostei. Cresci indo para o interior de minas, nas casinhas simples de meus parentes e acho que foi lá que peguei amor a essa simplicidade.

    Acho não, tenho certeza! ;)

    E não tem coisa melhor, olhar no olho desses "interioranos" e ver aquela expressão de serenidade, sabedoria, felicidade, tudo junto, emociona.

    Minha meta é chegar velhinho com uma expressão assim.

    Grande beijo, minha amiga!

    ResponderExcluir
  10. Olá minha amiga!

    Que ótimo que os textos fazem sentido a você. É ótimo juntar pessoas com ideais e sentimentos parecidos.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  11. Boa tarde, querido amigo Wolber.

    Que história linda... Viajei nesse filme real.
    Imagino a felicidade deles, com a chegada da luz.

    Um grande abraço em todos, inclusive na Professorinha.

    Que também a luz divina ilumine o Sertão, e toda essa gente conformada.

    ResponderExcluir
  12. Olá Milene!! Tudo bem, querida amiga?

    Sempre há esperanças. A bondade, hoje em dia, supera a maldade em nosso país. Graças a Deus.

    Só que bondade não vira notícia. Raramente. Ligamos o noticiário e crimes, violência, acidentes, são tudo trazidos para a TV, para dentro de nossa casa.

    Difícil ver imagens de pessoas que vivem bem, doutores da alegria que fazem trabalhos em hospitais, empresários que não deixam de ajudar grande parte da população.

    Invertessemos tudo isso, e transformássemos em notícia apenas as coisas boas, e talvez este exemplo "contaminasse" quem não é.

    Um grande beijo!

    ResponderExcluir
  13. Amapola! Como vai?

    Uma felicidade só, a chegada da energia. Coisas simples como guardar a comida que sobrou, ou ter um pouco de gelo era impensáveis.

    Muito obrigado pelas energias positivas, minha amiga. Vindo de você vale mais do que a energia que chegou lá. :)

    Um abração!

    ResponderExcluir
  14. olá querido Wolber....

    é bom ver que em algum lugar as coisas dão certo!!!rsrsrrsr

    saudades....

    ResponderExcluir
  15. Olá Damaris! Que bom vê-la novamente por aqui!

    Saudade de você e da terrinha de Poço das Trincheiras. Como vão as coisas?

    É, ali demorou muito, muito mesmo. Mas no final deu certo. Que seja assim, que sempre haja esperança. Que no final, independente de todas as dificuldades tudo valha à pena.

    Assim a vida faz sentiido. :)

    Um grande abraço, minha amiga!

    ResponderExcluir
  16. Oi Cris!! Tudo bem?

    Seu comentário não tinha aparecido por aqui. Só o vi agora.

    Que bacana, entendo bem essa sua nostalgia. Como nessa época, 80, 100 anos atrás a vida devia ser bem mais descomplicada. A ligação das pessoas entre si e com a natureza tão mais positiva.

    Imagino que fosse mais fácil ser uma pessoa boa do que é hoje.

    Não nego o mundo em que vivo, mas temos muito o que melhorar e em muitos pontos olhar para trás é um bom negócio.

    Grande beijo Cris!

    ResponderExcluir
  17. Oi Wolber,

    Tudo bem? Há quanto tempo!
    Estou encantada com seu blog e com o seu trabalho viajando pelo Brasil! Quanto a crônica, isso é verdade, me faz lembrar com carinho da minha infância no sítio do meu avô. Mtas trilhas, mto contato com bicho, comia mtas amoras/pitangas, mto verde e paz!!!

    ResponderExcluir
  18. Belo post!

    Belo blog!!!

    Muito bom, parabéns... Voltarei aqui mais vezes...

    Convido vc a conhecer meu trabalho (música, poesia, teatro)...

    Ficaria feliz demais!!!

    http://mailsonfurtado.com

    ResponderExcluir
  19. Gostei!!!!!!!!!!!!! Passei por aqui para desejar um ótimo 2011. Bjs

    ResponderExcluir
  20. Oi Emília! Tudo bem?

    Há quanto tempo mesmo, hein? Que ótimo que você curtiu o blog. Fico muito feliz!

    E todos que já passaram algum tempinho em uma casinha do interior acaba de identificando muito. Lembranças muito boas, como a casa do seu avô.

    Um prazer recebê-la aqui Emília!

    Beijo!

    ResponderExcluir
  21. Olá Mailson!

    Muito obrigado, meu amigo!

    Conhecerei seu espaço, com certeza!

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  22. Olá, Mar e Brisa! Tudo bem?

    Ótimo 2011 para você também!

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  23. O bom do pessoal de interior, é que eles carregam consigo, quase sempre a mesma característica, esteja ele onde estiver.
    Uma casinha bem simples, chão batido, fogãozinho de lenha, copos bem "areados", uma comidinha boa, por ser feita no fogão a lenha. São pessoas boas de prosa, de uma simplicidade impressionante... tem "prosa" para mais de metro. Tem pureza no coração, e são muito receptivos.
    Esse povo do interior, ainda preserva a honestidade e a simplicidade no coração. Sempre que posso, visito alguns por aqui...é gratificante.Acredito que é bem assim a professorinha, que de boba não tem nada, leva a vida tranqüila, e vai ocupando seu espaço como merece ser ocupado.
    Muito gracinha esse caso contado.
    Adorei meu amigo.
    Um ótimo final de semana.
    Abraços e flores para perfumar a sua noite.
    Até mais.

    ResponderExcluir
  24. Oi Dayse! Tudo bem?

    Olha, você descreveu muito bem as casinhas do sertão, assim como geralmente é no interior do nosso Brasil. Como eu me sinto bem nesses lugares. Como é boa uma comidinha no fogão à lenha.

    Como você disse, a recepção calorosa que se recebe nessas ocasiões ê de se emocionar. Quem não se sente muito bem em meio a essa simplicidade toda tem que repensar sua vida e verificar de está focando seu caminho nas coisas que realmente trazem felicidade.

    Essas pessoas sábias do nosso interior nos ensinam muito, sem saber.

    Obrigado pela visita, sempre carinhosa.

    Beijo, minha amiga!

    ResponderExcluir